sábado, 18 de fevereiro de 2012

Poeta duriense

“Entre o Azul e a Circunstância” de António Cabral
Edição do autor para Livros do Nordeste, Abril de 1983 [edição esgotada no mercado]

1. Aquela cabra tosando a luz
Na sombra do pastor.

Um rapazinho que enfia estrelas no vime.
todo o morro a escrever longínquas cidades.
ignóbeis
nos cavalos do vento.

2. Não estar aqui somente.
Dar o junco às mãos doutra vinha.
Que se arredonde. A mãe.

Não à forma. De nada
ou coisa indisponível.
O sol distante para quê?

Preestar. Assim um cardo em cada calo.

3. Como doem as mãos
e um sino te amanhece
breve distância de ombros insepultos.

4. Cavemos o disponível silêncio
Com lentidão
a do sonho.

Depois qualquer maio é suficiente
sob o linho das nuvens. Ouvi.

Vigiai
Para não cairdes em tentação.

5. Nítido é o tufo de giestas
para os olhos
na intermitência dos horários.

Abriu-se a tarde em Covas de Barroso
sobre o tempo maninho
entre o fogo e o granito sem vidraças.

E agora. Cão.
Lambes a púbis das maias
Consolando-te com a frescura da sílabas.

6. Onde a arca? Onde chispa a chispa
sem pudor encerraste o azul das palavras.

Deixa que elas voem. Penetrem. Como a água.
Nítidas. Atentas como o milhafre.

Que urinem sobre o tojo.
Saltem. Cabritos de luz na nossa rua.

Quem entoa torpes ladainhas?
Para nos convencer. De inutilidades.

[ver recenção crítica de Pires Laranjeira, na “Colóquio Letras” n.º 92 (Julho de 1986)

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[também “Ouve-se Um Rumor + Entre Quem É”, “Antologia dos Poemas Durienses”, “O Riu Que Perdeu As Margens”, “Bodas Selvagens” e “A Tentação de Santo Antão”]

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