“A Super-Realidade” de Rui Pires Cabral
numa edição de 100 exemplares, numerados e assinados pelo autor
«A super-realidade, segundo livro de poemas de Rui Pires Cabral, saído pela primeira vez em Vila Real , em 1995, acaba de aparecer em segunda edição, com a chancela da Língua Morta, uma jovem editora de Lisboa.
Segundo advertência do Autor, para esta edição, alguns poemas foram emendados e outros pura e simplesmente eliminados.
Restaram vinte e seis poemas de pendor evocativo de lugares e momentos que fazem parte da memória do Autor. O registo dominante é o elegíaco – afinal o que mais convém a um certo pessimismo e desencanto ante a falta de sentido da existência e a sensação de que não é possível recuperar o passado onde, apesar de tudo, houve instantes de felicidade e partilha: «[...] Um lago no alto da serra / há quinze anos atrás, os cães que já morreram / correndo para sempre no nosso olival. // Depois disso veio o frio tantas vezes / para trancar as cancelas. // Já colhemos as amoras todas / no verão desses caminhos.» [Grémio Literário Vila-Realense]
O CÉU VISTO DE CIMA
Tu já estavas prometido à tristeza
da cidade mais pequena. Mas a noite
tinha passagens secretas, bastava seguir
os sinais.
Uma sombra avançava muito fundo
nos teus estratos, tacteavas um território
de pedras difíceis, às vezes perigosas.
Depois imergias e a boca estava amarga
outra vez, a roupa amontoada na cadeira
como o princípio de um poema indesejado.
Reflectido nos teus olhos, o céu
era um lugar inabitável.
da cidade mais pequena. Mas a noite
tinha passagens secretas, bastava seguir
os sinais.
Uma sombra avançava muito fundo
nos teus estratos, tacteavas um território
de pedras difíceis, às vezes perigosas.
Depois imergias e a boca estava amarga
outra vez, a roupa amontoada na cadeira
como o princípio de um poema indesejado.
Reflectido nos teus olhos, o céu
era um lugar inabitável.
«Sempre esperei que a poesia pudesse falar por mim, e nunca soube falar sobre ela sem sentir que estava a traí-la de algum modo. É uma incapacidade absolutamente assumida (...) Não tenho outro critério para avaliar a poesia: aquela que me convém tem de ficar perto do coração e dos sentidos.» Rui Pires Cabral, em Relâmpago - revista de poesia, nº 12, Abril 2003
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