“Modo Fácil de Copiar uma Cidade” de Vítor Nogueira
O autor nasceu em Vila Real , dirige o Teatro Municipal da cidade. Porém, a sua atenção poética recai ultimamente sobre a cidade de Lisboa. Repetimos a palavra atenção. Se se colocar frente a frente poesia da imaginação vs. poesia da atenção, esta é notoriamente uma poesia da atenção, da atenção aos poucos, à medida da ronda do olhar pela cidade do sujeito que vê, ou de um olhar quase anónimo que enuncia. Poesia mais do objecto do que do sujeito, cujo halo todavia transpira entre frestas ou entre asserções que se querem considerações prosaicas de ordem geral, firmes, geométricas, convocando todo um léxico da arquitectura e da pintura.
(...) Começámos pelo fim, voltemos ao princípio: “Modo Fácil de Copiar uma Cidade” é antes de mais, ou em primeiro grau, uma teoria da pintura, uma poética da pintura, uma aula dada a futuros pintores directamente interpelados por um locutor que encadeia logicamente o discurso, que orienta os passos a dar.
Maria Conceição Caleiro in Ípsilon do jornal “Público”
VISÍVEL
Nenhuma coisa visível se vê toda juntamente.
Na arte como na vida, agora que falas disso.
Alguns, porém, investem muito tempo
a melhorar o seu disfarce, contornam a forma
como produzimos as vacinas, aprendem
a reconhecer os sinais,
perseguem facilmente sem se deixarem ver.
À primeira mordedura, que tantos consideram
crucial e decisiva, recriam regiões amputada
nos seus corpos. Difíceis de aplacar, começam
o processo do princípio. Depois, enfim, aguardam.
Aguardam que algo morra, consultam o oráculo,
respiram dentro de água e fora dela
— às vezes até entram pela rede dos esgotos.
Diria que é assim, se bem conheço os corvos.
«Tal como é habitual no poeta, é um livro temático e estruturado. Desta vez, toma como pretexto três tratados portugueses de pintura, respectivamente de Filipe Nunes, Francisco de Holanda e Cirilo Wolkmar Machado, com cujos ensinamentos vai salpicando os poemas.
Deste pretexto, porém ― como também é habitual no poeta ―, Vítor Nogueira parte noutras direcções e questiona o lugar e o papel do homem. Fá-lo contudo ― e esse é um dos pontos mais interessantes da sua arte poética ― em termos simples, quase coloquiais, sem qualquer tique de ênfase discursiva ou declamatória: «De repente a chuva pára. Vê-se um fiozinho de luz / e a cidade a ir comer à sua mão.» Aquilo que alguns diriam o oposto da poesia, mas que na verdade é poesia, e, no caso, poesia de alta qualidade.» [Grémio Literário Vila-Realense]
Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real.. .
[também os títulos “Bagagem de Mão” e “Mar Largo” pela &etc. e “Que Diremos Nós Que Viva”, “Comércio Tradicional” e “Senhor Gouveia” pela Averno]
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