sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pare, Escute, Olhe... pelo Tua


Este livro é um documentário fotográfico realizado pelo fotojornalista Leonel de Castro, com texto do jornalista Jorge Laiginhas, motivado pela supressão da chamada Linha do Tua, que irá ficar submersa após a construção da barragem do Tua.”
Trata-se de um documento histórico, uma vez que é um trabalho inédito e único de registo fotográfico exaustivo.”
Os registos fotográficos captam não só a enorme beleza e dignidade da paisagem, como a própria vida da linha ferroviária: as pessoas que a utilizam, a presença dos carris e do comboio na terra e na vida das gentes da região.” 
Este livro está associado ao documentário de Jorge Pelicano, com o mesmo nome, que tem ganho diversos prémios nacionais (num só dia ganhou 6 prémios). [ver www.pareescuteolhedoc.blogspt.com]
 «Pare, Escute, Olhe é uma obra total, a síntese perfeita entre estética e ética. No campo da fotografia, Leonel de Castro celebra, no golpe de luz que preside à alquimia do grão, nas angulações próprias de um olhar que ama o objecto da sua atenção, a fundura desse vale por onde corre o Tua, as arestas vivas das fragas que o conformam e o corpo das oliveiras que nele irrompem. 
Mas também o perfil da gente transmontana que convive com essa garganta, de terrível formosura, talhada contra um céu de lousa riscado pelo milhafre livre. E mesmo o funesto nos parece belo nestas impressões, tingidas por uma devoção que não renega as raízes, antes as cultiva com o fervor e a paixão dos filhos pródigos.
Para lá da sucessão de quadros que, folheando o livro, obriga a reparar no indizível, há essa outra arte, que tanto acrescenta às letras, de Jorge Laiginhas. Pois que ele, escritor da mais fina cantaria, traduz e transforma os calhaus da natureza bruta em rutilâncias de cristal e poesia pura, recuperando localismos, burilando regionalismos, cunhando neologismos que, juntos, compõem um hino exaltante ao povo e à terra que o viram nascer.
Infelizmente, por esta obra notável perpassa o lamento de uma morte anunciada, a da linha do Tua, em função de uma barragem (da meia dúzia que se projecta para a região) que nada trará, em boa verdade, ao vale que vai destruir nem às pessoas que - ainda - o habitam. Assim, mais do que o seu aspecto utilitário, a via-férrea que o livro projecta e evoca é um símbolo da miopia nacional, e outra vítima do centralismo que ignora, e despreza, a magia desse país que lhe escapa do horizonte imediato.
É por isso, por se afirmar como protesto contra o famigerado destino a que a lógica tecnocrata condenou tal vale, que este livro se afigura, também, atitude ética de vasto alcance. Pare, Escute, Olhe é um manifesto contra a perspectiva obtusa dos decisores que, distraídos na contemplação ignara do próprio umbigo, nele concentram o universo sem cuidarem de que há mais mundo. Sem perceberem que Portugal, este torrão vivo que se espraia muito para lá do Terreiro do Paço, só o será por inteiro se nele incluir Trás-os-Montes e o vale que insistem, com zelo assassino, em converter no abismo do esquecimento.
É por isso, enfim, que ler, e ver, e folhear, e parar, e escutar e olhar esse património único é, mais do que um exercício de diletância que se esgota no prazer do texto e da imagem, uma exigência cívica.»
Elmano Madail, “Diário de Trás-os-Montes”

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...

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