“Ser e Ler Miguel
Torga” de Fernão de Magalhães Gonçalves
(...)" A obra
de Miguel Torga é progressivamente estruturada por três discursos ou níveis de
sentido que evoluem através de fenómenos de divergência e de convergência numa
suscitação dialética que põe a nu o movimento das elementares componentes
dramáticas da natureza humana: o apelo da transcendência (discurso teológico),
o fascínio telúrico (discurso cósmico) e o imperativo da liberdade (discurso sociológico)."
«O tempo
reflecte-se na obra de Torga sobretudo na proporção da resistência ao que ia
sentindo à sua volta e o agredia. A infância numa aldeia serrana, bela mas
áspera, marcou-lhe profundamente as voltas e revoltas do sangue feito escrita,
um modo corajosamente assumido de ser, essa linguagem que em todos os livros de
verso e de prosa se nos depara como um excesso original, isto é, da sua
condição.
Esta circunstância, esta oposição a uma teia de regras e convenções
que o neutralizariam, no seu entender, esta consciência revertida ao esplendor
de si - eis o que sustenta a sua poderosa mensagem literária, mas igualmente o
que para um certo hegelianismo que paira sobre o quadro dos nobelizáveis e
algum preciosismo de contornos na mira de alguma crítica literária, embora
pouca, lhe vem afectando melhor recepção. O autor de «Orfeu Rebelde», avesso a
modas e homem de rupturas, não se terá importado muito com isso e Fernão de
Magalhães Gonçalves, apesar de se insurgir contra a desatenção-mor, estuda-lhe
a obra como quem cultiva um pomar.
De resto, Miguel Torga, além de muito galardoado e estudado, continua a ser um
dos escritores contemporâneos mais conhecidos, se não o mais conhecido, de
norte a sul do país.»
António Cabral,
prefácio
Fernão de Magalhães
Gonçalves (1943-1988) nasceu em Jou, no concelho de Murça, Trás-os-Montes. Foi
professor em Murça, Chaves e nas universidades de Granada, Espanha, e Seul,
Coreia do Sul. Foi poeta, ensaísta e investigador. A sua obra ensaística é
basicamente dedicada a Miguel Torga. Obras: Sete Meditações sobre Miguel
Torga (Coimbra, 1976), Manifesto por uma Literatura Legível
I (Coimbra, 1979),Manifesto por uma Literatura Legível II (Coimbra,
1980), Andamento (poesia, Coimbra, 1984), De Fernão Lopes a
Miguel Torga (Granada, 1985), Ser e Ler Torga (Lisboa, 1987),
Memória Imperfeita (poesia, Lisboa, 1987), Nueve Poemas (poesia, Granada,
1987), Júbilo da Seiva (poesia, Coimbra, 1988), Modo de
Vida (Braga, 1988), Assinalados (Braga, 1989), Algumas
Cartas (Braga, 1990), Obra Poética - Antologia (Viana do
Castelo, 1992), Ser Torga (Porto, 1992), Ser e Ler Miguel
Torga (Porto, 1998).
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[também os títulos “Dar
Mundos Ao Coração – Estudos sobre Miguel Torga” organização de Carlos Mendes de
Sousa, “Miguel Torga – o simbolismo do espaço telúrico e humanista nos Contos”
de Vítor José Gomes Lousada, “Miguel Torga – A Força das Raízes (Um itinerário transmontano)”
de M. Hercília Agarez, “O essencial sobre Miguel Torga” de Isabel Vaz Ponce de
Leão, “Uma longa viagem com Miguel Torga” de João Céu e Silva, “Miguel Torga: O
Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado” de Cristovão de Aguiar, “A Viagem
de Miguel Torga” de Isabel Maria Fidalgo Mateus, “Miguel Torga – o drama de
existir” de Armindo Augusto]
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