“Histórias de Vida
dos Gaiteiros do Planalto Mirandês - ...Que de Fol’gaita Tocavam” de Mário Correia
Fruto de uma
intensa pesquisa, esta obra resgata do esquecimento os gaiteiros das Terras do
Planalto Mirandês, desde o fim do século XIX à entrada no novo milénio. Face à
escassez de documentos escritos, Mário Correia socorreu-se sobretudo dos testemunhos
daqueles que os conheceram, procurando, sempre que possível, obter informações
relativas à técnica, ao repertório, à zona de influência, à aprendizagem e à
origem da gaita-de-foles.
«José Maria
Fernandes – O Gaiteiro de Urrós
Quem já teve a oportunidade de o ver e ouvir tocar numa das muitas ocasiões festivas vividas pelas comunidades rurais da Terra de Miranda, de imediato concluiu estar na presença de um gaiteiro verdadeiramente expressivo de uma tradição de seculares origens, desempenhando funções rituais e culturais de reconhecido prestígio social. De facto, José Maria Fernandes permanece como um dos mais expressivos gaiteiros tradicionais no contexto cultural da Terra de Miranda.
Residente em Urrós, aldeia do concelho do Mogadouro na qual nasceu em 15 de Abril de 1934, José Maria Fernandes destaca-se pela invulgar combinação de talento e virtuosismo com capacidade e instinto de entretenimento, sendo mesmo um caso único, que não hesitamos em considerar como constituindo um derradeiro exemplo de uma tradição que, tanto quanto nos é dado conhecer, apenas encontra actualmente paralelo em Júlio Prada, gaiteiro de Ungilde, aldeia sanabresa ao lado das terras de Bragança. Na verdade, José Maria Fernandes frequentemente ensaia passos de dança, procurando estimular todos quantos assistem às suas execuções, fazendo-o com desenvoltura e elegância e gerando momentos de íntima comunicação com o auditório.
Quem já teve a oportunidade de o ver e ouvir tocar numa das muitas ocasiões festivas vividas pelas comunidades rurais da Terra de Miranda, de imediato concluiu estar na presença de um gaiteiro verdadeiramente expressivo de uma tradição de seculares origens, desempenhando funções rituais e culturais de reconhecido prestígio social. De facto, José Maria Fernandes permanece como um dos mais expressivos gaiteiros tradicionais no contexto cultural da Terra de Miranda.
Residente em Urrós, aldeia do concelho do Mogadouro na qual nasceu em 15 de Abril de 1934, José Maria Fernandes destaca-se pela invulgar combinação de talento e virtuosismo com capacidade e instinto de entretenimento, sendo mesmo um caso único, que não hesitamos em considerar como constituindo um derradeiro exemplo de uma tradição que, tanto quanto nos é dado conhecer, apenas encontra actualmente paralelo em Júlio Prada, gaiteiro de Ungilde, aldeia sanabresa ao lado das terras de Bragança. Na verdade, José Maria Fernandes frequentemente ensaia passos de dança, procurando estimular todos quantos assistem às suas execuções, fazendo-o com desenvoltura e elegância e gerando momentos de íntima comunicação com o auditório.
José Maria Fernandes aprendeu a tocar gaita-de-foles com cerca de doze anos de
idade, tendo como mestre seu pai (o qual, por sua vez, aprendera com seu avô),
do qual aprendeu a esmagadora maioria do repertório. Todo um ambiente musical
familiar que foi decisivo para a alegria e o entusiasmo com que se dedica às
suas funções gaiteiras.
Do mesmo modo, não podemos deixar de registar pormenores tão surpreendentes como reveladores da sua técnica instrumental, que referenciamos como «fragmentos da digitação fechada» (levanta-se um dedo de cada vez tapando o imediatamente inferior a cada nota, excepto no que se refere à mão direita, na qual se chegam a levantar três de uma só vez). O que porventura constituirá um resquício de seculares influências asturianas, onde a técnica da digitação fechada é amplamente utilizada pelos gaiteiros tradicionais (e não só).
Do mesmo modo, não podemos deixar de registar pormenores tão surpreendentes como reveladores da sua técnica instrumental, que referenciamos como «fragmentos da digitação fechada» (levanta-se um dedo de cada vez tapando o imediatamente inferior a cada nota, excepto no que se refere à mão direita, na qual se chegam a levantar três de uma só vez). O que porventura constituirá um resquício de seculares influências asturianas, onde a técnica da digitação fechada é amplamente utilizada pelos gaiteiros tradicionais (e não só).
No que se refere ao seu vasto repertório, importa desde já verificar que o
mesmo transcende amplamente os emblemáticos «laços» das danças dos pauliteiros,
apresentando espécimes de religiosa funcionalidade, modas de baile e de
terreiro, espécimes de rondas e de peditórios e cantigas populares (não só da
área mirandesa mas também de toda a vasta terra transmontana, com «passagens»
por temas beirões e minhotos).»
Texto: Excerto do livrete do CD «José Maria Fernandes, Gaiteiro de Urrós, Mogadouro» - Colecção «Gaiteiros Tradicionais» nº7 - Mário Correia / Sons da Terra, 2000
Texto: Excerto do livrete do CD «José Maria Fernandes, Gaiteiro de Urrós, Mogadouro» - Colecção «Gaiteiros Tradicionais» nº7 - Mário Correia / Sons da Terra, 2000
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[também o título: “Toques
de Sinos na Terra de Miranda” – contém cd-rom]
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