“Ode
ao Douro” de António Manuel Caldeira Azevedo
«(…)
uma espécie de longo poema em prosa, em que vai passando em revista (talvez
melhor: interpretando) a realidade duriense. Recorde-se que Caldeira Azevedo é
natural de Freixo de Espada-à-Cinta, onde nasceu em 1947, e mantém uma relação
muito próxima com o rio e a região duriense. A sua cultura clássica está bem
presente nas constantes referências mitológicas com que ponteia o livro.»
Grémio Literário Vilarealense
Congida
I
Sobre o arado das águas, sulcando teu leito bordado de virgindade, defendida por castelos e gigantes de granito, que só os grifos, em seu planar circular, sabem da altura, voo.
II
Acima dos lábios das margens, teu púbis é um bosque de lodões, que o sobreiral e o fragaredo continuam arribas acima.
Rente à tremura da água, esvoaçam garças-reais, depenicando-a, de longe em longe.
No morro, o abutre-do-egipto, embalsamado de hirteza, espreita a morte, qual Osíris a chegada de um mortal para lhe pesar a alma.
III
Aqui mora o princípio: para além da guerra e da paz e dos pombais da Civilização, as boas selvagens pombas das fragas, acima do simbolismo de suas irmãs civilizadas, despegam, em voo assustado, do seu inacessível fragoso reduto, voltado para o meio-dia.
I
Sobre o arado das águas, sulcando teu leito bordado de virgindade, defendida por castelos e gigantes de granito, que só os grifos, em seu planar circular, sabem da altura, voo.
II
Acima dos lábios das margens, teu púbis é um bosque de lodões, que o sobreiral e o fragaredo continuam arribas acima.
Rente à tremura da água, esvoaçam garças-reais, depenicando-a, de longe em longe.
No morro, o abutre-do-egipto, embalsamado de hirteza, espreita a morte, qual Osíris a chegada de um mortal para lhe pesar a alma.
III
Aqui mora o princípio: para além da guerra e da paz e dos pombais da Civilização, as boas selvagens pombas das fragas, acima do simbolismo de suas irmãs civilizadas, despegam, em voo assustado, do seu inacessível fragoso reduto, voltado para o meio-dia.
IV
De regresso ao cais, a chuva vem ao meu encontro, trazendo-me a lembrança das
águas primordiais, nascentes diluvianas que fizeram mares.
V
Dei o óbolo ao barqueiro, que me trouxe à vida, naturado, limpo e ressuscitado.
A Civilização é um pecado, que a Natureza dificilmente nos irá perdoar.
Disponível
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também
disponível do autor o título: “Do Significado Religioso de Panóias”]
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