“A Criação do
Mundo” de Miguel Torga
Nova edição de uma
obra esgotada há muito tempo. Formato novo, capa nova, edição completamente
revista.
Romance autobiográfico
dividido em seis dias, A Criação do Mundo, foi publicado em cinco volumes,
entre 1937 e 1981. «O Quarto Dia», um dos poucos testemunhos da Guerra Civil de
Espanha publicados em Portugal durante o conflito, foi apreendido pela polícia
política e levou Miguel Torga às cadeias de Salazar.
Nas livrarias a 27
de Maio.
«PREFÁCIO DO AUTOR
À TRADUÇÃO FRANCESA
Querido Leitor:
Vais ler de uma assentada,
se a macicez do texto te não desanimar a curiosidade, os seis dias
desta Criação do Mundo, que foram aparecendo nas montras separadamente, à
medida que iam decorrendo. Livro temerariamente concebido na mocidade,
imprevisível na trama e no rumo, só o tempo lhe podia dar corpo e remate,
traçando-lhe o enredo e marcando-lhe a duração. O que acabou por acontecer, já
que os fados, condoídos da cegueira do projecto, não quiseram calar, antes de
ele ser levado a cabo, a voz do autor.
Todos nós criamos o
mundo à nossa medida. O mundo longo dos longevos e curto dos que partem
prematuramente. O mundo simples dos simples e o complexo dos complicados.
Criamo-lo na consciência, dando a cada acidente, facto ou comportamento a
significação intelectual ou afectiva que a nossa mente ou a nossa sensibilidade
consentem. E o certo é que há tantos mundos como criaturas. Luminosos uns,
brumosos outros, e todos singulares. O meu tinha de ser como é, uma torrente de
emoções, volições, paixões e intelecções a correr desde a infância à velhice no
chão duro de uma realidade proteica, convulsionada por guerras, catástrofes,
tiranias e abominações, e também rica de mil potencialidades, que ficará na
História como paradigma do mais infausto e nefasto que a humanidade conheceu, a
par do mais promissor. Mundo de contrastes, lírico e atormentado, de ascensões
e quedas, onde a esperança, apesar de sucessivamente desiludida, deu sempre um
ar da sua graça, e que não trocaria por nenhum outro, se tivesse de escolher.
Plasmado finalmente em prosa — crónica, romance, memorial, testamento —, tu
dirás, depois da última página voltada, se valeu a pena ser visitado. Por mim,
fiz o que pude. Homem de palavras, testemunhei com elas a imagem demorada de
uma tenaz, paciente e dolorosa construção reflexiva frita com o material
candente da própria vida.
Coimbra, Julho de
1984
Miguel Torga»
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[recordamos que temos o
compromisso de sempre disponibilizar a obra completa de Miguel Torga: poesias,
diários, teatro, contos, romance, ensaios e discursos; também os títulos “Dar
Mundos Ao Coração – Estudos sobre Miguel Torga” organização de Carlos Mendes de
Sousa, “Miguel Torga – o simbolismo do espaço telúrico e humanista nos Contos”
de Vítor José Gomes Lousada, “Miguel Torga – A Força das Raízes (Um itinerário
transmontano)” de M. Hercília Agarez, “O essencial sobre Miguel Torga” de
Isabel Vaz Ponce de Leão, “Uma longa viagem com Miguel Torga” de João Céu e
Silva, “Miguel Torga: O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado” de
Cristovão de Aguiar, “A Viagem de Miguel Torga” de Isabel Maria Fidalgo Mateus,
“Miguel Torga – o drama de existir” de Armindo Augusto, “Ser e Ler Miguel
Torga” de Fernão de Magalhães Gonçalves; também os álbuns de Graça Morais (“Um
Reino Maravilhoso”) e de José Manuel Rodrigues (“Portugal”); “O meu primeiro
Miguel Torga” escreveu João Pedro Mésseder, Inês Oliveira ilustrou]
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