Feiras
do Livro provincianas em Trás-os-Montes e Alto Douro? por Jorge Lage
«Muito
falam os nossos autarcas contra o centralismo de Lisboa (e do Porto, no Norte),
acusando os sucessivos governos de se esquecerem da província ou do Portugal
Interior. Fui convidado, há algum tempo para duas Feiras do Livro de municípios
transmontanos e o que vi, nesses e noutros eventos culturais livreiros, por que
passei, deixaram-me incomodado. E depois de ver que as promoções dos livros
nesses espaços são um fugaz arremedo das feiras do livro de Lisboa e Porto. O
que se ali vê pouco tem a ver com as nossas pequenas realidades livreiras
locais ou com o que publicam os nossos corajosos autores na província. Por
misericórdia ou simpatia um ou outro autor conseguirá expor meia-dúzia de
livros seus ou de amigos. O resto é um grande pacote das grandes e médias editoras
nacionais, com destaque para as mais poderosas e que nos impingem tanto o bom e
como o medíocre. O que me podem dizer a mim certos livros de autores nacionais
da moda, dos média ou do capital? Sim! O que é bom, é-o através dos tempos e
não por anúncios promocionais. Entendo que antes de conhecermos os livros
nacionais por medida devemos aproveitar e conhecer os nossos a retalho e até
grandes obras. Que nos dão mais cultura, mais saber e podem gerar
desenvolvimento. O desenvolvimento passa ainda por se dar a primazia aos nossos
agentes culturais ou, pelo menos, trata-los em pé de igualdade com os livreiros
por medida, que são, muitas vezes, meros intermediários, das poderosas editoras
que quase tudo controlam. Estar oito dias numa terra estender os livros por uns
metros quadrados, vendê-los por consignação e regressar às origens do litoral
pouco custa. Para os municípios é mais cómodo, só tendo de ceder o espaço. Mas,
no dia-a-dia são as pequenas e médias livrarias e quiosques locais que aguentam
os 365 dias do ano, com muitas dificuldades, e gerando, a custo, um ou outro
posto de trabalho. Por isso, digo que estas feiras do livro municipais, que
ostracizam ou se envergonham dos seus livreiros, me incomodam e me deixam a
pensar que, muitas vezes, os nossos autarcas fazem o mesmo que os donos do
poder central, voltando as costas aos seus. Neste caso, aos seus agentes
culturais ou livreiros e até aos seus escritores. Livreiros que deviam ter um
tratamento mais promocional e no concurso de aquisição de livros escolares ou
de acervo documental municipal ser-lhe dada a primazia. Não é só quando se
fecha uma esquadra, uma agência bancária, um balcão dos CTT ou uma escola que o
interior sangra de uma pobreza agonizante. Qualquer vila ou cidade do interior
que vê fechar uma livraria, no seu espaço territorial, fica mais pobre. E
pobres de espírito ou mesquinhos serão os políticos que não entendem a cultura
livreira e editorial locais como factor de desenvolvimento. Neste campo, há já
um movimento associativo de livrarias transmontanas e alto-durienses que se
encontram e que promovem a venda dos livros dos nossos escritores. Este grupo
de agentes culturais ou livreiros nasceu por iniciativa do António Alves, da
livraria vila-realense «Traga-Mundos», inspirado num movimento similar a sul do
rio Tejo. Faz algum sentido, numa localidade não ter expostos os livros dos
seus poucos autores? Para que o movimento de livreiros da nossa região cresça,
deixo, novamente os seus endereços ou contactos e espero que em Mirandela e pelo
distrito outros adiram aos encontros. Não há custos. Mas um livro local que um
livreiro não tem pode tê-lo outra livraria e ajudá-lo a vender. Será normal
que, por exemplo, escritores de Mirandela nunca tenham vendido um livro numa
feira do livro local ou numa livraria mirandelense? A lista das livrarias
transmontanas que cooperam entre si e que volto a divulgar: Traga-Mundos-traga.mundos1@gmail.com, 259103113;
Poética edições –virginiadocarmo@sapo.pt,
960039138; Rosa d’Ouro –rosadouro@sapo.pt,
273331602; Pap.ª e Livr.ª Dinis - geral@papelariadinis.pt ou
278713056; Livr.ª Branco –livrariabranco@sapo.pt,
259322829; e Livr.ª e Pap.ª Aguiarense –lpaguiarense@hotmail.comou
259401114.»
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