“Manuel
do Mundo” de Altino Moreira Cardoso
drama
duriense, baseado em dois contos de João de Araújo Correia
«Esta
peça é baseada em dois contos do Escritor reguense João de Araújo Correia: “De
Jornada” (CAMINHO DE CONSORTES) e “Manuel do Mundo” (MONTES PINTADOS).
A
articulação teatral coloca em foco a problemática do contraste entre o poder
antigo, baseado na posse da terra e quantificada em pipas de vinho (Morgado de
Santa Quitéria) e os novos ventos trazidos pela difusão da rede escolar,
criadora de alternativas, aflorada, sobretudo, no conto em que Manuel do Mundo,
um maltrapilho analfabeto, é uma figura fortemente geradora de dialécticas.
O elo
comum é a polaridade do nome MANUEL, um inteligente e dócil criado (no conto DE
JORNADA) e outro (do conto MANUEL DO MUNDO), revoltado, profético e
revolucionário.
Ambos
são dotados de um coração ainda maior do que a fatalidade da sua impotência, no
tempo e no espaço.
A
acção situa-se no Douro dos anos 1930-40, onde (como na generalidade do país)
as famílias dos assalariados não tinham mais alternativas à dependência da
vinha senão emigrar para a Cidade, geralmente o Porto e, também, para o
Estrangeiro.
Cada
separação da aldeia natal era dolorosa e alimentava os caudais de “lágrimas de
Portugal” vivificadoras da nossa ancestral Saudade, umbilicada na Mãe.
O
Douro desses tempos era, ainda mais do que hoje, uma terra madrasta, esganada
pelo polvo dos monopólios do vinho.
No fim
da vindima e em pleno Inverno, a fome invadia os lares dos trabalhadores, pois
a própria natureza decretava que não houvesse trabalho para ninguém antes da
escava e da poda para a entrada da primavera.
A
miséria da falta de trabalho enxotou para a cidade Manuel e muitos outros.
A
princípio, o seu instinto rural, desprovido das artes e manhas de ‘rato da
cidade’ não lhe garantia quaisquer hipóteses de sobrevivência e
facilmente era engolido na voracidade das ruas.
Mas,
gradualmente e quase por acaso, caíram-lhe nas costas as novas
responsabilidades de um filho feito numa hora solitária: e teve de ir assumindo
novos instintos.
Eliminou
desde logo qualquer intenção de trazer o seu filho para a Terra sem Futuro para
quem não herdou um par de cepas e apenas uma enxada sentimental e ingénua.
E, de
entre espantos vários, começou a destacar-se algo de profético:
A
libertação do seu filho estava na Escola da Cidade, infinitamente mais valiosa
do que a Caridade, dependente e acomodada.
Quando,
já formado, o filho vai recordar as raízes e pára na taberna da terra, encontra
ainda alguns velhos conhecidos do pai.
E
repete-lhes, invariavelmente:
–
Quando nesta terra existir uma Escola, haveis de presenciar um milagre: nunca
mais haverá senhores nem escravos – nem morgados de Santa Quitéria nem Manuéis
do Mundo como o meu Pai!» Introdução
Disponível
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila
Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an
Bila Rial...
[também
disponível do autor os seguintes títulos: “O Homem do Douro nos contos de João
de Araújo Correia”; “Canções para todas as Escolas” – exemplares esgotados na
editora, “Grande Cancioneiro do Alto Douro” Volume I – Cantigas da Vinha (600
músicas e letras) com um estudo prévio, Volume II – Tunas Rurais, Natal – Reis
– Embalar, Rimances, Cantares Religiosos, Cantares do Trabalho, Cantares ao
Desafio, Volume III – Os Cantares em Contexto – histórico, literário, musical,
europeu”; “Cancioneiro Ancestral Barrosão” com Padre António L. Fontes;
“Rimanceiro do Alto Douro – 110 rimances com um estudo introdutório”, “A
Magna Carta da História do Vinho do Porto – a escritura de Cister (1142)”, “Do
Vinho de Missa de Cister ao Vinho do Porto – a ‘magna karta’ de 1132”, “Os
Bobos Durienses de D. Sancho I e o início do Teatro Português”, “Poesia
Tradicional Duriense – com D. Sancho I, o Primeiro Trovador”, “Leonardus, o
Profeta – Canções e Histórias da Pátria Antiga”]
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