segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apresentação de "O Falcão Albanês"

Apresentação do livro “O Falcão Albanês” de Manuel Monteiro
pelo Prof. Dr. José Leon Machado (UTAD), com a presença do autor
dia 18 de Outubro de 2014 (sábado), pelas 16h00
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro, em Vila Real


" Gabriel disse ao Falcão Albanês, sentado a seu lado, que aquele jantar era uma celebração de despedida.
- Para onde vais, Gabriel?
- Vou com a Laura para Londres.
- Ah, os meus dois filhos e os meus quatro netos também lá estão. Eu estou aqui sozinho e sinto uma grande solidão. Tenho lá um neto, Gabriel como tu, que criei até aos sete anos, e que é a minha grande saudade...
- Então porque não vai viver com eles ?
O velho esteve longo tempo calado, absorto em tristes pensamentos.
- Vejo-os partir e sinto que este país está a perder o melhor que tem. Nunca esta terra teve uma juventude tão preparada como agora, mas essa juventude vai dar o melhor para outros países. E assim esta terra cumpre a sua maldição histórica de ser pobre e desgraçada.
- É, velho camarada, este país é uma terra de falhados: falhámos nós a revolução e falhou a burguesia a sua missão de instalar aqui o paraíso social-democrata.
- Tens razão. Mas eu não parto. Os meus ossos foram feitos para este sol radioso e não se dão no nevoeiro londrino. Depois tenho cá uma secreta esperança...
- Qual secreta esperança, querido camarada ?
(...)
Silvério, que ouvia a conversa, intrometeu-se:
- Não me diga que ainda acredita nos amanhãs que cantam ?
- E porque não, amigo ? Não canta todas as manhãs a cotovia ?"
Manuel Monteiro - In "O Falcão Albanês"

A Mãe-Nova era a minha avó. Criou-me desde que nasci até aos meus dezasseis anos, numa pequena aldeia no sopé da serra do Alvão, a cinco quilómetros de Vila Real.
Depois abandonei a Mãe-Nova e a minha aldeia da infância e vim para a cidade grande.
Mais tarde tive que percorrer o calvário de milhares de jovens do meu tempo: a guerra colonial. No exército perdi cinco anos da minha juventude, dois deles na guerra colonial, em Angola.
Regressei desta guerra exausto e vazio.
Fui visitar a Mãe-Nova e a minha pacata aldeia.
Na manhã seguinte acordei com os pardais a brincarem no soalho do quarto onde dormia.
Um melro, que me pareceu um velho melro da minha infância, tinha poisado no parapeito da janela e soltava estranhos sons, como dando-me as boas-vindas.
A minha avó debruçou-se sobre mim e fez o que me fazia na infância: encostou-se a mim e beijou-me com toda a doçura.
Naquele instante esqueci a guerra e a vida dura que me esperava na cidade grande.
O cheiro a maçã madura que eu respirava do corpo da Mãe-Nova, a sua face encostada à minha, os seus olhos onde se lia toda a ternura do mundo, tudo me reconciliava com o mundo e me enchiam de paz.
Manuel Monteiro

I HAVE A DREAM (EU TENHO UM SONHO).
Eu tenho um sonho. Ou antes: tinha um sonho.
Sempre amei os livros. Sempre sonhei escrever livros. Sempre aspirei viver dos livros.
Até aos sessenta anos fiz quase de tudo, menos de trabalhar com aquilo que era a minha paixão, o meu sonho.
Aos sessenta anos encontrei-me numa encruzilhada: estava desempregado e, com essa idade, seria muito difícil encontrar trabalho.
Então pensei: é nesta altura de grande dificuldade que vou concretizar o meu sonho.
Mas como se estava mais teso que carapau em frigorífico?
Tirei o cartão de feirante, inscrevi-me nas feiras da grande Lisboa, sobretudo na feira da Ladra, comprei umas tábuas, uns cavaletes e uns panos vermelhos. E assim montei a minha banca, a minha livraria ao ar livre.
A minha biblioteca foi o primeiro material que vendi. Depois os meus muitos amigos ofereceram-me caixotes e caixotes de livros. Em seguida comecei a comprar, quer na própria feira da Ladra, quer indo a casa das pessoas.
E assim se concretizou o meu sonho: publiquei o meu primeiro romance, SEI ONDE MORA O HERBERTO HELDER, e abri a minha livraria ao ar livre.
Às vezes não é preciso muito para realizar os nossos sonhos.
Basta que não desistamos desse sonho e que lutemos por ele até ao fim...
Manuel Monteiro

A VIDA OPERÁRIA DO ESCRITOR
Levei quase um ano a escrever o meu romance, que sairá em Setembro, O FALCÃO ALBANÊS.
Dias e noites de esforço, de angústia, de dor física e emocional. De solidão.
Também de exaltação porque, ao recrear a realidade, ao fazer da realidade vulgar uma realidade magnifica, tive que revisitar e recriar tempos e personagens que são minha herança vivida.
Agora o livro aí está. Em Setembro estará nas mãos dos leitores. Uns vão amá-lo porque lhes vai trazer lembranças das suas memórias. Outros vão utilizá-lo como uma ligeira passagem das suas vidas. Outros ainda vão colocá-lo numa prateleira porque o livro não conseguiu despertar neles a mínima emoção.
Mas, para mim, esse livro é mais um pedaço da minha vida e do meu esforço para vos legar algo de bom.
Espero para ele o vosso amor. Ou o vosso ódio.
Nunca a indiferença...
Manuel Monteiro


António Alberto Alves
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro
Rua Miguel Bombarda, 24 – 26 – 28 em Vila Real
2.ª, 3.ª, 5.ª, 6.ª, Sáb. das 10h00 às 20h00 e 4.ª feira das 14h00 às 23h00
259 103 113 | 935 157 323 | traga.mundos1@gmail.com

Próximos eventos:
- dia 25 de Outubro de 2014 (sábado): Jantar-concerto na Quinta Branca (Valdigem, Lamego), no âmbito dos Simpósios em Terras de Vinho, das Jornadas Turístico-Culturais: Norte de Portugal & Galiza;
- dia 31 de Outubro de 2014 (sexta-feira), pelas 21h00: inauguração da exposição de fotografia de Eduardo Silva Alves, na Traga-Mundos em Vila Real;
- Novembro e Dezembro: exposição de fotografia de Eduardo Silva Alves, na Traga-Mundos em Vila Real;
- dia 5 de Novembro de 2014 (quarta-feira): 3.º aniversário de porta aberta da Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro na Rua Miguel Bombarda 24 – 26 – 28 em Vila Real;
- dia 8 de Novembro de 2014 (sábado): participação com comunicação e com uma banca de livros, mais algumas coisas e loisas, no Fórum “Que Posso Fazer Por Trás-os-Montes?”, em Varge, Bragança;
- dia 16 de Novembro de 2014 (domingo): participação com uma banca de livros, mais algumas coisas e loisas, no Magusto da Fundación Vicente Risco, em Allariz (Ourense, Galiza);
- dia 22 de Novembro de 2014 (sábado), pelas 21h00: apresentação do livro “Relevos” de Virgínia do Carmo, na Traga-Mundos em Vila Real;
- dia 6 de Dezembro de 2014 (sábado): participação no Festival 6 Continentes 2014, na Traga-Mundos em Vila Real;
- de 8 de Dezembro de 2014 a 6 de Dezembro de 2015: Bazar de Natal e dos Reis da Traga-Mundos, na Traga-Mundos em Vila Real.

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