“Contos Para a
Infância” de Guerra Junqueiro
Abílio Manuel
Guerra Junqueiro (1850-1923) notabilizou-se como político, deputado,
jornalista, escritor e poeta. A sua poesia granjeou-lhe uma enorme
popularidade, sobretudo a poesia panfletária que contribuiu para a implantação
da República.
Nesta
obra dedicada às crianças o autor afirma “reuni para ele tudo o que vi de mais
singelo, mais gracioso e mais humano”. Escreveu a pensar na sensibilidade
infantil e na descoberta da vida. São 44 pequenas histórias que convivem com a
poesia dos pássaros e outros animais, com as árvores, as flores, os génios, as
aventuras, onde se exalta a magia da vida.
“Contos para a Infância” é um documento importante para a história da literatura
infantil em Portugal, iniciada por João de Deus ao dirigir-se especificamente
às crianças como nos afirma no prefácio Júlia Nery. O próprio Guerra Junqueiro
na abertura desta obra confessa: “Livros simples! Nada mais complexo.”
«Não deverá haver biblioteca
escolar que se preze que não possua no seu acervo algumas das edições deste
livrinho de Guerra Junqueiro, publicado pela primeira vez em 1877 - sob o
título de CONTOS PARA A INFÂNCIA, a que é acrescentado, na página do rosto
"Escolhidos dos melhores autores”- e reeditado desde então mais de uma
dezena de vezes.
A 2ª edição da
obra, em 1881, "aumentada e adornada de gravuras e aprovada pelo Conselho
de Instrução Publica, para uso das escolas", parece com este aval permitir
que se cumpra o objectivo que orientou o escritor na elaboração desta
antologia. Com efeito, na 2ª edição, os contos são precedidos por
"Duas Palavras", uma brevíssima introdução em que o autor expõe com
lirismo a sua visão da educação ideal e do que entende ser a leitura mais adequada
para as crianças.
"O leite é o
alimento do berço, o livro o alimento da escola. Entre ambos devera existir
analogia: pureza, fecundidade, simplicidade." escreve nessa introdução
Guerra Junqueiro entre outras considerações. Já no seu poema "A
Escola Portuguesa" (in A Musa em Férias, 1878), opinara sobre a
“hedionda prisão”, a escola de então, e os “horríveis” versos e prosas que as
crianças eram obrigadas a soletrar. Nada mais natural que reunisse na sua
antologia alguns textos simples que pudessem colmatar a falta
sentida: “Reuni para ele tudo o que vi de mais singelo, mais gracioso e
mais humano” (ibidem).
Ao longo de
gerações, os contos coligidos por Guerra Junqueiro foram e continuam a ser
reproduzidos nos livros escolares (livros de leitura, compêndios, manuais).
Atualmente até já há edições digitais da obra; entretanto, a sua visibilidade
adquiriu um novo estatuto pois três das histórias - "O Fato Novo do Sultão",
"Boa Sentença" e "João Pateta"- passaram a integrar a lista
das obras de Iniciação à Educação Literária (para o 3º ano), das novas Metas
Curriculares.
A boa estrela desta
antologia tem inspirado alguns investigadores dedicados e é graças a eles que
podemos ficar a conhecer a história desses contos.» Manuela D.L. Ramos
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