“O Diabo e as
Cinzas” de António Tiza
Os rituais da
máscara são o fundamento e a linha condutora deste conjunto de 13 contos.
São rituais
litúrgicos da religiosidade do povo nordestino, celebrados no tempo hiemal, o
tempo das noites longas e frias, das bruxas e diabos, dos caretos e máscaros,
das fogueiras que quebram a noitidão e das cinzas restantes do sacrifício
sagrado que nem por isso deixam de ser simbolicamente valiosas para a
fertilidade da Natureza. No decorrer da leitura, a tradição vigente e histórica
afirma-se por si mesma e distingue-se claramente da ficção. Ambas convivem aqui
em perfeita harmonia.
O autor estuda esta
temática há três décadas, assistiu à sua evolução – real e inevitável – e
ficcionou histórias verídicas, que ajudam o leitor a compreender o “como” e o
“porquê” desta evolução: a entrada das mulheres em rituais tradicionalmente
masculinos, as rebeldias permitidas, as subversões salutares, os repugnantes
oportunismos, o apelo da honra… Enfim, as vivências de um povo que,
ciclicamente e por um período de três ou quatro dias, entrega o governo da
comunidade nas mãos dos jovens: o rito iniciático imprescindível a um futuro
sustentado em valores perenes.
António Tiza é
natural de Varge (Bragança).
Estudou Teologia em
Bragança e Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo
concluído a licenciatura. Defendeu a tese de doutoramento em Ciências Sociais
na Faculdade de Educação da Universidade de Valladolid, em Espanha, com a
classificação de «Sobresaliente cum laude». Foi professor do Ensino Básico,
Secundário e Superior.
Foi presidente da
Região de Turismo do Nordeste Transmontano (1998/2002). Actualmente desempenha
as funções de presidente da direcção da Academia Ibérica da Máscara e
vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes. É membro da Associação
Portuguesa de Escritores.
«Nunca realçaremos
suficientemente o papel que os rituais que atravessam estes contos e outras
práticas similares tiveram na evolução das nossas sociedades e lhes
transmitiram um carácter de sanidade ética que consegue manter a dignidade no
meio da maior pobreza e de dificuldades sem fim. Gente condenada a lidar com a
terra, as pedras e a fúria dos elementos para deles e contra eles sacar o
sustento necessário, nunca se teria erguido na sua dignidade e criado uma ética
que os fez sobreviver e ultrapassar os instintos mais básicos da sobrevivência,
afirmando-se ainda hoje como um exemplo, não fossem estes e outros rituais
similares que acabavam por fixar outros objectivos, reconstruir outros mundos e
dar espaço ao sonho e à fé na capacidade e na possibilidade de mudança. António
Tiza percebeu isso muito bem e esse não é o mérito menor desta colectânea de
contos.» Amadeu Ferreira, do Prefácio
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[disponível também: “Festas
de Inverno no Nordeste de Portugal – património, mercantilização e aporias da
‘cultura popular’” de Paula Godinho, “Por Detrás da Máscara – ensaio de
antropologia de performance sobre os Caretos de Podence” de Paulo Raposo]
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