Ao longo dos anos,
e em diversos momentos, entrevistei o pintor, arquiteto e homem Nadir Afonso, e
confesso que é sempre um desafio o conversar com ele. Sempre me surpreende, e
dele espero sempre novas histórias, novas inquietações e novas preocupações.
Este é já o segundo livro que trabalho com ele, o que corresponde, globalmente, a intermináveis horas de conversa que ocorreram, essencialmente, em muitas manhãs e tardes e, às vezes, até estendendo-se pelas noites.
Os seus olhos, grandes, a querer romper das órbitas, sobressaem no rosto magro, parece que dançam, ou querem dançar, lado a lado com as mãos esguias, nodosas, que expressam infindáveis narrativas que nos põem ao corrente da história, da vida, das paixões, das angústias e dos sonhos de alguém que, mesmo antes dos bancos da escola, já sonhava ser pintor.
Viajando através da sua memória, da memória de um homem bem vivido e que tem
hoje 91 anos, falámos de tudo. De hoje e de ontem. Nadir Afonso conversa com
Agostinho Santos tenta continuar a dar voz a uma espécie de radiografia
inacabada (é quase impossível escrever tudo sobre si) sobre o itinerário de um
artista plástico que, apesar dos seus 91 anos – insisto em frisar a sua
provecta idade –, aplica, sem qualquer esforço, uma linguagem expressiva,
filosófica e bastante gestual, que proporciona um visualizar nítido do seu
manancial de histórias, vividas ao longo dos tempos.
A sua lucidez impressiona-me, fala-me de nomes, episódios, datas, cidades, países, com uma fascinante precisão, como se aquilo que narra tivesse acabado de acontecer.
Recua no tempo com a maior facilidade. Viajamos por Chaves, passamos pelo Porto, deambulamos por Paris, aterramos no Rio de Janeiro e em S. Paulo, no Brasil, e regressamos a Cascais, aos dias de hoje, que, com um normal cansaço, ainda são passados a pintar, que é, afinal, o que Nadir mais gosta de fazer.
Disponível na Traga-Mundos
– livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
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