VIDA
em 26 de Setembro
de 1973
ainda havia vida
algures a Nordeste
tendo chovido de
véspera
formigas de asa
ininterruptamente
soltavam-se da
terra refrescada
rumavam ao sol um
voo incompleto
contra as quais se
voltavam
pequenas aves:
tralhões
numa fremente e
alegre aleluia de vida
num alto
sobranceiro
soltava um perdigão
instante apelo
um gaio ralhava num
sobreiral
lagartos aqui e
além
manchando de verde
o rés das pedras
erguiam a cabeça
atenta e zombeteira
ao voo dos
moscardos
na vinha
as falazes
canseiras da vindima
à sombra de uma
esteva
a temporã
e rubra tentação
dum cogumelo
por estranho que
pareça
em 26 de Setembro
de 1973
a química não
passava
a vida resistia
algures a Nordeste
A.M. Pires Cabral,
“Algures a Nordeste – Catálogo de Feios, Simples e Humildes” (1974)
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real...
[os títulos “O Cónego”e “A
Loba e o Rouxinol” (romance); “O Diabo Veio Ao Enterro”, “O
Porco de Erimanto” e “Os Anjos Nús” (contos); “Que Comboio É Este”, “Arado”, “Antes Que O Rio
Seque” e “Cobra-D’Água” (poesia); “Trocas e Baldrocas ou com a natureza não se
brinca” com ilustrações de Paulo Araújo (infanto-juvenil); “Páginas de Caça na
Literatura de Trás-os-Montes” (selecção de textos e organização, antologia);
“Aqui e Agora Assumir o Nordeste” (antologia) selecção e organização de Isabel
Alves e Hercília Agarez]
Sem comentários:
Enviar um comentário