“Miguel Torga – O
Poeta Pintor” de Maria Fernanda do Amaral Soares
" [...] Neste
seu ensaio, Maria Fernanda Soares quis pontuar a sua reflexão em 6 etapas a
partir de 12 poemas de Miguel Torga, privilegiando a dimensão telúrica da obra
como um grito (mas também um suspiro, uma exclamação ou uma prece) saídos das
entranhas mais fundas do ser poético de Miguel Torga,
Por aqui perpassa
ao mundo, as estações do ano, as etapas com que a natureza vai vestindo ou
despindo a paisagem. Perpassam pintores – Falcão Trigoso, Frederico, Aires,
Silva Porto, Emílio de Paula Campos, José Malhoa, Raimundo Machado da Luz,
António Melo – recantos da nossa terra em gestos e afectos de quem trabalha a
(nossa) terra - a vindima, o gesto do semeador, a terra lavrada, a seara, o
quadro outonal, a planura do Alentejo, a serra transmontana, o bosque, o ninho
–, momentos únicos de cor e de luz, de uma alvorada em que o contorno do vida
começa a despontar ou de um entardecer que a embala e adormece.
Não caiu a autora
na tentação de apenas aproximar a superfície (estilística) dos poemas da mera
textura plástica de telas famosas, de tão-só procurar similitudes que se
exprimem na superfície de um desenho, de uma forma, de uma matéria ou de uma
cor. O seu desejo foi tocar a sintonia de sensibilidades e de emoções que a
natureza acorda em almas destinadas a olhar e a ver o mundo por dentro. Na
imagem captada pelo pintor como na expressão sensível com que o poeta a diz se
ultrapassa pois a coisa vista, o mero e aparente espectáculo do mundo que se
oferece a um olhar que vê ou a uma mão que escreve: aqui, é o próprio mundo
que, no tangível ou no intangível da vida, na exuberância ou na tristeza, na
sensualidade ou na nostalgia, está fenomenologicamente perante nós, tão pudico
e frágil quanto palpitante de desejo.
E é neste diálogo
das musas, neste cruzamento de duas formas de escrever o mundo, de o fixar em
representação que o tornam tão perene e tão único na essência do que foi quanto
mutável e múltiplo na substância do que é – que cada um de nós se atreve a
inscrever-se (como se sujeito dele fosse), emprestando-lhe o nosso próprio
engenho e emoção, a nossa própria história carregada de todas as (nossas
próprias) palavras e imagens em busca de sentidos. Palavras e imagens livres,
talvez se calhar até resistentes ao sentido, não por ausência mas por excesso.
Hieróglifos espirituais que não se oferecem a uma qualquer (insensível ou
mecânica) explicação ou decifração.
Miguel Torga, o poeta pintor é um ensaio feito com a inteligência
do coração. Cuidadosamente escrito e composto, nele a autora encontra não um
Torga solitário e ensimesmado, mas um Torga aberto ao mundo e sensível à beleza
e à força de uma natureza de que se sente irmão. Um Torga que se encanta e se
emociona, que vibra e respira ao ritmo da vibração e da respiração do
mundo.[...]» Cristina Robalo Cordeiro, em apresentação
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
recordamos que temos o
compromisso de sempre disponibilizar a obra completa de Miguel Torga: poesias,
diários, teatro, contos, romance, ensaios e discursos; também os títulos “Dar
Mundos Ao Coração – Estudos sobre Miguel Torga” organização de Carlos Mendes de
Sousa, “Miguel Torga – o simbolismo do espaço telúrico e humanista nos Contos”
de Vítor José Gomes Lousada, “A Obrigação, a Devoção e a Maceração
(O Diário de Miguel Torga)” e “O essencial sobre Miguel Torga”de
Isabel Vaz Ponce de Leão; “Miguel Torga – A Força das Raízes (Um itinerário
transmontano)” e “Dois Homens num só Rosto – Temas Torguianos” de M. Hercília
Agarez, “Uma longa viagem com Miguel Torga” de João Céu e Silva, “Miguel Torga:
O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado” de Cristovão de Aguiar, “A
Viagem de Miguel Torga” de Isabel Maria Fidalgo Mateus, “Miguel Torga – o drama
de existir” de Armindo Augusto, “Ser e Ler Miguel Torga” de Fernão de Magalhães
Gonçalves; também os álbuns de Graça Morais (“Um Reino Maravilhoso”) e de José
Manuel Rodrigues (“Portugal”); “O meu primeiro Miguel Torga” escreveu João
Pedro Mésseder, Inês Oliveira ilustrou; “Entre Quem É! – Tradições de
Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário de Miguel Torga” e “Negrilho – Homenagem
a Miguel Torga” de Maria da Assunção Anes Morais; “Miguel Torga – O Simbolismo
do Espaço Telúrico e Humanista nos Contos” e “Viajar com... Miguel Torga” de
Vítor José Gomes Lousada; “Miguel Torga e a Pide – A Repressão e os Escritores
no Estado Novo” de Renato Nunes; “Casticismo em Unamuno e Torga” de Carlos
Carranca]
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