terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A Indústria das Sedas em Trás-os-Montes (1835-1870)


“A Indústria das Sedas em Trás-os-Montes (1835-1870)” de Fernando de Sousa

«Sabiam que durante séculos o Nordeste Transmontano foi o mais importante centro industrial sericícola de Portugal? Pensa-se que a criação do bicho-da-seda, nesta região, já existia no século XIII; foi, todavia, no século XV, que a sericultura e a decorrente produção têxtil começou a assumir maior importância; atingiu o seu apogeu no século XVIII, em consequência das medidas desenvolvimentistas do Período Pombalino, perdurando até finais do século XIX. Bragança foi o núcleo principal, mas outras localidades -- como Freixo de Espada à Cinta, Vinhais, Chacim, etc. -- benificiaram desta lucrativa indústria. Hoje em dia, persiste ainda alguma actividade sericícola artesanal, em Freixo de Espada à Cinta. Para mais informação sobre este assunto, desconhecido pela maior parte das pessoas, consultar a obra do Professor Fernando de Sousa (Universidade do Porto) intitulada "A Indústria da Seda em Trás-os-Montes Durante o Regime Antigo", bem como a obra do padre Francisco Manuel Alves (o famoso transmontano mais conhecido por ABADE DE BAÇAL) intitulada "Memórias Arqueológicas-Históricas do Distrito de Bragança").» [Manuel de Barroso]


"A família italiana dos Arnauds, perita na indústria das sedas, vinda para Portugal em 1786-1788, acaba por se instalar em Trás-os-Montes, na localidade de Chacim, onde, sob a sua orientação, é construída uma Fábrica de Fiação e Tecelagem das Sedas, que se encontra concluída em 1790. A partir de então, os Arnauds promovem a criação de escolas de fiação pelo método piemontês nalgumas localidades de Trás-os-Montes e passam a fornecer seda torcida pelo referido método, de qualidade, às fábricas de Bragança. E esta cidade, por seu lado, irá atravessar uma das épocas de maior prosperidade da sua história. (...) Em 1790-1791, Freixo de Espada à Cinta, em obediência a uma longa tradição vinda seguramente do século XVI, se não mais cedo, continua a fabricar os panos de peneiras, tafetás, fumos e gravatas, trabalho este executado por mulheres, 38, que, em igual número de teares, pertencentes a 4 empresários, registam uma produção global de 975 peças de panos de peneiras, 38 gravatas e 6 280 côvados de tafetás e fumos" (Fernando de Sousa, A Indústria das Sedas em Trás-os-Montes (1790-1820), p. 66) (1 côvado era igual a 52,4cm)

"Mas era em Bragança, então a maior e mais rica cidade transmontana, desde sempre o mais importante centro desta indústria no Portugal do interior, que se registava uma animação invejável, de tal modo que a vida económica da cidade assentava fundamentalmente em tal actividade. As suas fábricas, com 232 teares e 9 tornos, em 1794, empregavam 915 pessoas – 407 fabricantes de seda e 508 mulheres –, além de 11 torcedores de seda, e 24 tintureiros, isto é, mais de 18% da sua população total. Nos seus tornos, eram preparados 4 500 arráteis de seda ao ano. E as suas cinco tinturarias, com excepção de uma modesta tinturaria em Chacim, as únicas existentes em toda a província de Trás-os-Montes, encontravam-se reputadas a nível nacional." Fernando de Sousa, op.cit.p.72

"A escassez de capitais, quer em Chacim, quer em Bragança, onde – apesar de malograda tentativa efectuada pela Real Companhia das Sedas –, nunca surgiu um projecto endógeno, aglutinador, que congregasse efectivamente os Arnauds e os negociantes e fabricantes de sedas da região, revelou-se dramática para a indústria das sedas em Trás-os-Montes. Para continuar, as sedas trasmontanas necessitavam de mercados garantidos e de aperfeiçoamentos contínuos. Só que as invasões francesas e a extinção do regime de monopólio do mercado brasileiro destruíram aqueles e impediram estes. Após 1813-1814, os esforços dos Arnauds para arrumarem e disciplinarem a casa trasmontana quanto à criação do bicho da seda, produção de casulo e fiação, revelam-se infrutíferos, os fabricantes de Bragança debatem-se com dificuldades crescentes quanto à venda dos seus tecidos, e o Estado mostra-se cada vez mais renitente em intervir, abandonando a indústria das sedas daquela região à sua sorte." Fernando de Sousa, op.cit.p.97

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[também disponível do autor o título: “História da Indústria das Sedas em Trás-os-Montes” Vol. I e II]



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