“A Indústria das
Sedas em Trás-os-Montes (1835-1870)” de Fernando de Sousa
«Sabiam que durante
séculos o Nordeste Transmontano foi o mais importante centro industrial
sericícola de Portugal? Pensa-se que a criação do bicho-da-seda, nesta região,
já existia no século XIII; foi, todavia, no século XV, que a sericultura e a
decorrente produção têxtil começou a assumir maior importância; atingiu o seu
apogeu no século XVIII, em consequência das medidas desenvolvimentistas do
Período Pombalino, perdurando até finais do século XIX. Bragança foi o núcleo
principal, mas outras localidades -- como Freixo de Espada à Cinta, Vinhais,
Chacim, etc. -- benificiaram desta lucrativa indústria. Hoje em dia, persiste ainda
alguma actividade sericícola artesanal, em Freixo de Espada à Cinta. Para mais
informação sobre este assunto, desconhecido pela maior parte das pessoas,
consultar a obra do Professor Fernando de Sousa (Universidade do Porto)
intitulada "A Indústria da Seda em Trás-os-Montes Durante o Regime
Antigo", bem como a obra do padre Francisco Manuel Alves (o famoso
transmontano mais conhecido por ABADE DE BAÇAL) intitulada "Memórias
Arqueológicas-Históricas do Distrito de Bragança").» [Manuel de Barroso]
"A família
italiana dos Arnauds, perita na indústria das sedas, vinda para Portugal em
1786-1788, acaba por se instalar em Trás-os-Montes, na localidade de Chacim,
onde, sob a sua orientação, é construída uma Fábrica de Fiação e Tecelagem das
Sedas, que se encontra concluída em 1790. A partir de então, os Arnauds
promovem a criação de escolas de fiação pelo método piemontês nalgumas
localidades de Trás-os-Montes e passam a fornecer seda torcida pelo referido
método, de qualidade, às fábricas de Bragança. E esta cidade, por seu lado, irá
atravessar uma das épocas de maior prosperidade da sua história. (...) Em
1790-1791, Freixo de Espada à Cinta, em obediência a uma longa tradição vinda
seguramente do século XVI, se não mais cedo, continua a fabricar os panos de
peneiras, tafetás, fumos e gravatas, trabalho este executado por mulheres, 38,
que, em igual número de teares, pertencentes a 4 empresários, registam uma
produção global de 975 peças de panos de peneiras, 38 gravatas e 6 280 côvados
de tafetás e fumos" (Fernando de Sousa, A Indústria das Sedas em
Trás-os-Montes (1790-1820), p. 66) (1 côvado era igual a 52,4cm)
"Mas era em
Bragança, então a maior e mais rica cidade transmontana, desde sempre o mais
importante centro desta indústria no Portugal do interior, que se registava uma
animação invejável, de tal modo que a vida económica da cidade assentava fundamentalmente
em tal actividade. As suas fábricas, com 232 teares e 9 tornos, em 1794, empregavam
915 pessoas – 407 fabricantes de seda e 508 mulheres –, além de 11 torcedores
de seda, e 24 tintureiros, isto é, mais de 18% da sua população total. Nos seus
tornos, eram preparados 4 500 arráteis de seda ao ano. E as suas cinco
tinturarias, com excepção de uma modesta tinturaria em Chacim, as únicas
existentes em toda a província de Trás-os-Montes, encontravam-se reputadas a
nível nacional." Fernando de Sousa, op.cit.p.72
"A escassez de
capitais, quer em Chacim, quer em Bragança, onde – apesar de malograda
tentativa efectuada pela Real Companhia das Sedas –, nunca surgiu um projecto
endógeno, aglutinador, que congregasse efectivamente os Arnauds e os
negociantes e fabricantes de sedas da região, revelou-se dramática para a
indústria das sedas em Trás-os-Montes. Para continuar, as sedas trasmontanas
necessitavam de mercados garantidos e de aperfeiçoamentos contínuos. Só que as
invasões francesas e a extinção do regime de monopólio do mercado brasileiro
destruíram aqueles e impediram estes. Após 1813-1814, os esforços dos Arnauds
para arrumarem e disciplinarem a casa trasmontana quanto à criação do bicho da
seda, produção de casulo e fiação, revelam-se infrutíferos, os fabricantes de
Bragança debatem-se com dificuldades crescentes quanto à venda dos seus
tecidos, e o Estado mostra-se cada vez mais renitente em intervir, abandonando
a indústria das sedas daquela região à sua sorte." Fernando de Sousa,
op.cit.p.97
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[também disponível do autor
o título: “História da Indústria das Sedas em Trás-os-Montes” Vol. I e II]
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