MANIFESTO DO CALHAU,
PELA POESIA
Vila Real, outubro de
2015
Excelentíssimos transmontanos,
Altíssimos portugueses,
A Poesia não está na rua.
Não está nos muros, nos vidros,
nas árvores e nos cafés. Não está sequer nas tascas, onde se bebe o maduro p’ra
sonhar.
Há Poesia antes de qualquer
estilo literário, escola, credo e antes de qualquer texto.
Para nós não há sabedoria
alguma em afirmar que o Universo nasceu de um poema. Que se espalhou e se
espalha como vírus, cuja febre é o sintoma inicial mais comum, mais prolongado
e gravemente contagioso.
Segue, assim, o nosso movimento
a curva degenerativa dos dias, nesta Vila Real e em todo o lado. O Calhau se constituiu, à força de estarmos já moribundos, por conselho de um traga_mundos. E o Calhau segura um largo
pote de barro de Bisalhães, onde cabem palavras, sons e imagens. É arte, toda a
mistura que aqui vai!
E o caldo partilha-se desde
sempre e é cada vez mais urgente fazê-lo. Quem não divide, ou tem bolor a dar à
pele ou é admirador secreto do Dantas ou vai envelhecer no alto do Restelo ou é
tudo isso junto! Arreiem.
Tendo sido parido fora do
tempo, devido à febre corrosiva, libertou-se da rima, curado com mezinhas, e
abriu-se ao mundo sem querer andar em círculos, muito menos nos pseudo
intelectuais. Porque o mais importante é a forma e não o conteúdo, que é quase
sempre o mesmo – bem o sabemos.
Não há fronteiras nem
territórios nem terrenos - ainda nos davam um tiro por irmos às castanhas sem
convite. Não! Para nós há amigos, camaradas, criadores. Serve este manifesto
também de convocatória a esses, a quem lhes foi dado o silêncio quando quiseram
falar. Acheguem-se. Há cada vez mais espaço. É que em terra de visuais, quem é
cego reina com a coisa. O bandido do traga_mundos aguentou-nos na cave. É lá
que respiramos.
A Poesia há de chegar a todo o
lado!
Para cumprir tal empreitada,
que de baixo timbre nada tem, sedimenta no Calhau, como deve ser, a força
granítica do Alvão e do Marão, a sublimidade nordestina da amendoeira em flor e
a renovação da agave americana do Alentejo, através das seguintes palavras
caras:
- Diálogo poético entre
nós e com vocês;
- Criação de textos,
poemas, desenhos, pinturas e tudo o mais que nos aprouver, que dê p’ra botar no
caldo;
- Partilha das criações
artísticas, à porta fechada, à porta aberta e sem porta e sem janelas.
Atento. Inquieto. Experimental.
Prático. Quer colaborar. A fiar. Pela arte límpida.
Corremos às fontes a beber da
água que ainda enche o espírito, aos autores transmontanos, aos portugueses e
aos universais.
A Poesia há de chegar a todos!
Conta um sábio amolador,
enquanto afia o cutelo do talhante, que certo dia veio ao seu encontro um vulto
desconhecido, quem sabe um forasteiro, com as unhas e os dentes tremeluzentes.
"Mestre amolador, afia as minhas unhas e acutila os meus dentes. Desejo
cumprir a demanda por uma poesia que não vacile na hora de enfrentar a
decadência.", arreou o Calhau.
Sem ponta de esforço e
sacrifício na cara. Esse já foi feito em Panóias, p’ra que pudéssemos estar
hoje aqui.
Da Poesia não se faz vida.
Vive-se!
Vosso,
Calhau
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