sábado, 28 de novembro de 2015

Manifesto do Calhau, pela Poesia

 

MANIFESTO DO CALHAU, PELA POESIA


Vila Real, outubro de 2015


Excelentíssimos transmontanos,
Altíssimos portugueses,
Caríssimo/a leitor/a ou ouvinte,

A Poesia não está na rua.
Não está nos muros, nos vidros, nas árvores e nos cafés. Não está sequer nas tascas, onde se bebe o maduro p’ra sonhar.
Há Poesia antes de qualquer estilo literário, escola, credo e antes de qualquer texto.
Para nós não há sabedoria alguma em afirmar que o Universo nasceu de um poema. Que se espalhou e se espalha como vírus, cuja febre é o sintoma inicial mais comum, mais prolongado e gravemente contagioso.
Segue, assim, o nosso movimento a curva degenerativa dos dias, nesta Vila Real e em todo o lado. O Calhau se constituiu, à força de estarmos já moribundos, por conselho de um traga_mundos. E o Calhau segura um largo pote de barro de Bisalhães, onde cabem palavras, sons e imagens. É arte, toda a mistura que aqui vai!
E o caldo partilha-se desde sempre e é cada vez mais urgente fazê-lo. Quem não divide, ou tem bolor a dar à pele ou é admirador secreto do Dantas ou vai envelhecer no alto do Restelo ou é tudo isso junto! Arreiem.
Tendo sido parido fora do tempo, devido à febre corrosiva, libertou-se da rima, curado com mezinhas, e abriu-se ao mundo sem querer andar em círculos, muito menos nos pseudo intelectuais. Porque o mais importante é a forma e não o conteúdo, que é quase sempre o mesmo – bem o sabemos.
Não há fronteiras nem territórios nem terrenos - ainda nos davam um tiro por irmos às castanhas sem convite. Não! Para nós há amigos, camaradas, criadores. Serve este manifesto também de convocatória a esses, a quem lhes foi dado o silêncio quando quiseram falar. Acheguem-se. Há cada vez mais espaço. É que em terra de visuais, quem é cego reina com a coisa. O bandido do traga_mundos aguentou-nos na cave. É lá que respiramos.
A Poesia há de chegar a todo o lado!
Para cumprir tal empreitada, que de baixo timbre nada tem, sedimenta no Calhau, como deve ser, a força granítica do Alvão e do Marão, a sublimidade nordestina da amendoeira em flor e a renovação da agave americana do Alentejo, através das seguintes palavras caras:
- Diálogo poético entre nós e com vocês;
- Criação de textos, poemas, desenhos, pinturas e tudo o mais que nos aprouver, que dê p’ra botar no caldo;
- Partilha das criações artísticas, à porta fechada, à porta aberta e sem porta e sem janelas.
Atento. Inquieto. Experimental. Prático. Quer colaborar. A fiar. Pela arte límpida.
Corremos às fontes a beber da água que ainda enche o espírito, aos autores transmontanos, aos portugueses e aos universais.
A Poesia há de chegar a todos!
Conta um sábio amolador, enquanto afia o cutelo do talhante, que certo dia veio ao seu encontro um vulto desconhecido, quem sabe um forasteiro, com as unhas e os dentes tremeluzentes. "Mestre amolador, afia as minhas unhas e acutila os meus dentes. Desejo cumprir a demanda por uma poesia que não vacile na hora de enfrentar a decadência.", arreou o Calhau.
Sem ponta de esforço e sacrifício na cara. Esse já foi feito em Panóias, p’ra que pudéssemos estar hoje aqui.
Da Poesia não se faz vida. Vive-se!


Vosso,
Calhau

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