sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Miguel Torga - poeta pintor


“Miguel Torga – O Poeta Pintor” de Maria Fernanda do Amaral Soares

" [...] Neste seu ensaio, Maria Fernanda Soares quis pontuar a sua reflexão em 6 etapas a partir de 12 poemas de Miguel Torga, privilegiando a dimensão telúrica da obra como um grito (mas também um suspiro, uma exclamação ou uma prece) saídos das entranhas mais fundas do ser poético de Miguel Torga,
Por aqui perpassa ao mundo, as estações do ano, as etapas com que a natureza vai vestindo ou despindo a paisagem. Perpassam pintores – Falcão Trigoso, Frederico, Aires, Silva Porto, Emílio de Paula Campos, José Malhoa, Raimundo Machado da Luz, António Melo – recantos da nossa terra em gestos e afectos de quem trabalha a (nossa) terra - a vindima, o gesto do semeador, a terra lavrada, a seara, o quadro outonal, a planura do Alentejo, a serra transmontana, o bosque, o ninho –, momentos únicos de cor e de luz, de uma alvorada em que o contorno do vida começa a despontar ou de um entardecer que a embala e adormece.
Não caiu a autora na tentação de apenas aproximar a superfície (estilística) dos poemas da mera textura plástica de telas famosas, de tão-só procurar similitudes que se exprimem na superfície de um desenho, de uma forma, de uma matéria ou de uma cor. O seu desejo foi tocar a sintonia de sensibilidades e de emoções que a natureza acorda em almas destinadas a olhar e a ver o mundo por dentro. Na imagem captada pelo pintor como na expressão sensível com que o poeta a diz se ultrapassa pois a coisa vista, o mero e aparente espectáculo do mundo que se oferece a um olhar que vê ou a uma mão que escreve: aqui, é o próprio mundo que, no tangível ou no intangível da vida, na exuberância ou na tristeza, na sensualidade ou na nostalgia, está fenomenologicamente perante nós, tão pudico e frágil quanto palpitante de desejo.
E é neste diálogo das musas, neste cruzamento de duas formas de escrever o mundo, de o fixar em representação que o tornam tão perene e tão único na essência do que foi quanto mutável e múltiplo na substância do que é – que cada um de nós se atreve a inscrever-se (como se sujeito dele fosse), emprestando-lhe o nosso próprio engenho e emoção, a nossa própria história carregada de todas as (nossas próprias) palavras e imagens em busca de sentidos. Palavras e imagens livres, talvez se calhar até resistentes ao sentido, não por ausência mas por excesso. Hieróglifos espirituais que não se oferecem a uma qualquer (insensível ou mecânica) explicação ou decifração.

Miguel Torga, o poeta pintor é um ensaio feito com a inteligência do coração. Cuidadosamente escrito e composto, nele a autora encontra não um Torga solitário e ensimesmado, mas um Torga aberto ao mundo e sensível à beleza e à força de uma natureza de que se sente irmão. Um Torga que se encanta e se emociona, que vibra e respira ao ritmo da vibração e da respiração do mundo.[...]» Cristina Robalo Cordeiro, em apresentação

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
recordamos que temos o compromisso de sempre disponibilizar a obra completa de Miguel Torga: poesias, diários, teatro, contos, romance, ensaios e discursos; também os títulos “Dar Mundos Ao Coração – Estudos sobre Miguel Torga” organização de Carlos Mendes de Sousa, “Miguel Torga – o simbolismo do espaço telúrico e humanista nos Contos” de Vítor José Gomes Lousada, “A Obrigação, a Devoção e a Maceração (O Diário de Miguel Torga)” e “O essencial sobre Miguel Torga”de Isabel Vaz Ponce de Leão; “Miguel Torga – A Força das Raízes (Um itinerário transmontano)” e “Dois Homens num só Rosto – Temas Torguianos” de M. Hercília Agarez, “Uma longa viagem com Miguel Torga” de João Céu e Silva, “Miguel Torga: O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado” de Cristovão de Aguiar, “A Viagem de Miguel Torga” de Isabel Maria Fidalgo Mateus, “Miguel Torga – o drama de existir” de Armindo Augusto, “Ser e Ler Miguel Torga” de Fernão de Magalhães Gonçalves; também os álbuns de Graça Morais (“Um Reino Maravilhoso”) e de José Manuel Rodrigues (“Portugal”); “O meu primeiro Miguel Torga” escreveu João Pedro Mésseder, Inês Oliveira ilustrou; “Entre Quem É! – Tradições de Trás-os-Montes e Alto Douro no Diário de Miguel Torga” e “Negrilho – Homenagem a Miguel Torga” de Maria da Assunção Anes Morais; “Miguel Torga – O Simbolismo do Espaço Telúrico e Humanista nos Contos” e “Viajar com... Miguel Torga” de Vítor José Gomes Lousada; “Miguel Torga e a Pide – A Repressão e os Escritores no Estado Novo” de Renato Nunes; “Casticismo em Unamuno e Torga” de Carlos Carranca]

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