“Contos de
Gostofrio” de Bento da Cruz
Prémio Fialho de
Almeida da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos
«Há aqui [em Contos
de Gostofrio] uma incontestável denúncia da miséria, de todas as misérias, de
uma das mais frustes regiões do nosso país subdesenvolvido […] mas esse
testemunho é envolvido pela mesma nostalgia doirada, pela mesma comunhão com
tudo e com todos, de As Pastagens do Céu de um Steinbeck. E isso, longe de se
me figurar demérito, aparece-me como virtude de homem e de escritor. Eis como
um livro tão voluntariamente localizado, fruto e expressão da experiência tão
aderente de simpatia, que permitiu a Bento da Cruz erguer a sua galeria de
homens e bichos e, às vezes, de homens-bichos, assim alcança a sua ampla
universalidade.» Urbano Tavares Rodrigues, Do Prefácio
Após uma ausência de largos anos, eu
regressava à minha terra sem nada para oferecer ao espanto dos patrícios: nem
carro espampanante, nem malas cravejadas de amarelo, nem aves exóticas, nem
sotaque estrangeiro, nem sequer mais gordo. Além disso, o meu feitio misantropo
tinha piorado com os invernos e não me permitia grandes relatos sobre as terras
por onde andara nem sobre as gentes que vira. Perdera também a faculdade de
abrir a boca perante a beleza dos filhos, a gordura das vacas e o aumento da
fazenda dos meus companheiros de infância. De modo que estes, desiludidos,
concluíram que eu regressava pobre ou doente, e, a pouco e pouco, foram-me
voltando as costas. Entretanto eu reconhecia que fora engodado pela saudade do
paraíso perdido e que viera ao encontro duma ilusão. A casa de meus avós
desfizera-se, os meus parceiros de aventuras tinham envelhecido e até a
paisagem era outra: beirais de telha, luz elétrica, rodovia alcatroada, a floresta
e a barragem. Portanto só me restava um caminho: arranjar as coisas e partir de
novo. Antes, porém, teria de honrar a memória de meus pais, colocando-lhes uma
cruz na sepultura. Com esta ideia, dirigi-me a Fontefria para pedir licença à
junta da paróquia e conselho ao abade.
[de “O Vilaguicha”]
“Contos de
Gostofrio” é uma das mais populares obras do autor, mas surge agora com uma
nova edição e revisão.
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[também do autor os títulos
“Contos de Gostofrio”, “Histórias da Vermelhinha”, “O Retábulo das Virgens
Loucas”, “Histórias de Lana-Caprina”, “A Fárria”, “Guerrilheiros
Antifranquistas em Trás-os-Montes”, “Prolegómenos I”, “Prolegómenos II”, ”,
“Prolegómenos III”, “Camilo Castelo Branco por Terras de Barroso e Outros
Lugares” e “República e Incursões Monárquicas – Um Padre Guerrilheiro de
Barroso” com António Chaves, Barroso da Fonte, José Baptista]
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