segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Contos do Barroso

“Contos de Gostofrio” de Bento da Cruz

Prémio Fialho de Almeida da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos


«Há aqui [em Contos de Gostofrio] uma incontestável denúncia da miséria, de todas as misérias, de uma das mais frustes regiões do nosso país subdesenvolvido […] mas esse testemunho é envolvido pela mesma nostalgia doirada, pela mesma comunhão com tudo e com todos, de As Pastagens do Céu de um Steinbeck. E isso, longe de se me figurar demérito, aparece-me como virtude de homem e de escritor. Eis como um livro tão voluntariamente localizado, fruto e expressão da experiência tão aderente de simpatia, que permitiu a Bento da Cruz erguer a sua galeria de homens e bichos e, às vezes, de homens-bichos, assim alcança a sua ampla universalidade.» Urbano Tavares Rodrigues, Do Prefácio

Após uma ausência de largos anos, eu regressava à minha terra sem nada para oferecer ao espanto dos patrícios: nem carro espampanante, nem malas cravejadas de amarelo, nem aves exóticas, nem sotaque estrangeiro, nem sequer mais gordo. Além disso, o meu feitio misantropo tinha piorado com os invernos e não me permitia grandes relatos sobre as terras por onde andara nem sobre as gentes que vira. Perdera também a faculdade de abrir a boca perante a beleza dos filhos, a gordura das vacas e o aumento da fazenda dos meus companheiros de infância. De modo que estes, desiludidos, concluíram que eu regressava pobre ou doente, e, a pouco e pouco, foram-me voltando as costas. Entretanto eu reconhecia que fora engodado pela saudade do paraíso perdido e que viera ao encontro duma ilusão. A casa de meus avós desfizera-se, os meus parceiros de aventuras tinham envelhecido e até a paisagem era outra: beirais de telha, luz elétrica, rodovia alcatroada, a floresta e a barragem. Portanto só me restava um caminho: arranjar as coisas e partir de novo. Antes, porém, teria de honrar a memória de meus pais, colocando-lhes uma cruz na sepultura. Com esta ideia, dirigi-me a Fontefria para pedir licença à junta da paróquia e conselho ao abade. [de “O Vilaguicha”]

“Contos de Gostofrio” é uma das mais populares obras do autor, mas surge agora com uma nova edição e revisão. 

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também do autor os títulos “Contos de Gostofrio”, “Histórias da Vermelhinha”, “O Retábulo das Virgens Loucas”, “Histórias de Lana-Caprina”, “A Fárria”, “Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os-Montes”, “Prolegómenos I”, “Prolegómenos II”, ”, “Prolegómenos III”, “Camilo Castelo Branco por Terras de Barroso e Outros Lugares” e “República e Incursões Monárquicas – Um Padre Guerrilheiro de Barroso” com António Chaves, Barroso da Fonte, José Baptista]

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