“Do significado
religioso de Panóias” de António Manuel Caldeira Azevedo
«“Do Significado
Religioso de Panóias", conta a viagem histórico-religiosa de Serapis, a
divindade principal do templo de Panóias, desde o seu nascimento, no século IV
a. C., em Alexandria, até à sua chegada às terras de Panóias, nos finais do
século II d C., passando pela sua estada em Roma.
Ver a origem e
significado religiosos do Templo de Panóias não é ir a Panóias. E porque para
entrar é necessário sair, ver a origem e significado de Panóias é viajar pelos
caminhos quadrimensionais do espaço-tempo e dar conta da construção dos céus
nos infernos da Terra, quais as vias e veredas terrenas até o Olimpo ter um só
inquilino, porque monoteísmo visto com miudeza foi necessidade muita quando
miúdo foi grandeza grande e grande grandeza pequena. O monoteísmo é para os
céus quanto o imperialismo para a Terra. A religião esgota-se naquele
precisamente porque os deuses terrenos se esgotam neste». [NetBila]
Cumprindo o voto
que fizera, porque atendido que foi por Serapis, e preocupado com a sua
salvação, o iniciado nos mistérios de Serapis, C. C. Calpurnio Rufino, mandou
lavrar no granito:
Ao Altíssimo (Deus) Serapis, por favor da sorte e dos mistérios (em que está
iniciado) C. C. Calpurnio Rufino atendido, como foi, no voto que fizera
(dedicou este templo).
A referência ao mundo do Além e aos Deuses Severos, que o irão ajuizar, transparece nestas inscrições:
Gneu Caio Calpurnio Rufino dedicou esta obra aos Deuses Severos, que habitam este Templo.
Aqui se sacrifica o que cabe da ressacrificada, e os intestinos se queimem nos quadrados fronteiros. Lago sagrado de toda a sorte, há-de permanecer.
Gneu Caio Calpurnium Rufino, varão consular, dedicou este lago eterno com este
templo, em que se queimam as vítimas, aos deuses, e às deusas, e a todas as
divindades, e aos dos Lapitas.
Gneu Caio Calpurnio Rufino, varão consular, edificou esta obra com este templo
aos deuses, e este é o lago onde por voto se mistura.
Como vemos, o varão consular não tem preocupações monoteístas, mas invocar todos os deuses do Além que têm a função de salvação, embora com destaque para Serapis.
Como vemos, o varão consular não tem preocupações monoteístas, mas invocar todos os deuses do Além que têm a função de salvação, embora com destaque para Serapis.
O Templo de Panóias reflecte a crise ideológica em sectores do aparelho
esclavagista romano e a necessidade de eles se voltarem para as religiões de
salvação orientais, neste caso Serapis, divindade que tinha mantido, grosso
modo, a sua natureza aristocrática e de Estado.
Serapis era uma divindade cara e o Templo de Panóias o demonstra, não sendo acessível à grande massa de escravos. Como compreender que o Templo de Panóias fosse representativo das populações escravas desta região da Hispânia, quando um escravo valia tanto ou menos que um animal?
Como imaginar os escravos, sem salário, a pão e água, adquirirem animais para os sacrifícios nos lagos no granito de Panóias, quando de estômago bem necessitado? Os escravos não tinham direito a uma divindade tão aristocrática como Serapis, nem ela lhes podia dizer coisa alguma.
in “Do Significado Religioso de Panóias”
Serapis era uma divindade cara e o Templo de Panóias o demonstra, não sendo acessível à grande massa de escravos. Como compreender que o Templo de Panóias fosse representativo das populações escravas desta região da Hispânia, quando um escravo valia tanto ou menos que um animal?
Como imaginar os escravos, sem salário, a pão e água, adquirirem animais para os sacrifícios nos lagos no granito de Panóias, quando de estômago bem necessitado? Os escravos não tinham direito a uma divindade tão aristocrática como Serapis, nem ela lhes podia dizer coisa alguma.
in “Do Significado Religioso de Panóias”
Está patente ao
público, até 3 de Março de 2013,
a exposição "Serápis nos confins do Império: o
complexo sagrado de Panóias".
Fruto de uma
parceria entre o Museu da Vila Velha e o CITCEM (Centro de Investigação
Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»), a exposição conduz o visitante
por uma viagem no tempo, com início no Egipto e fim no Santuário de Panóias -
Monumento Nacional.
Com a companhia de
objectos fantásticos, provenientes das colecções de museus como o Museu de
Arqueologia e Numismática de Vila Real, o Museu Calouste Gulbenkian, o Museu
Nacional de Arqueologia e o Museu D. Diogo de Sousa, abordam-se temas como a
iconografia de Serápis (divindade adorada em Panóias); o culto que lhe foi
prestado durante o Império Romano e, mais especificamente, na Península
Ibérica; a simbologia pré-romana; e as interpretações do complexo sagrado,
referindo-se as de Alföldy e de Colmenero, abrindo caminho para uma
interpretação original.
A entrada é livre.
[Museu da Vila Velha, Vila Real]
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