terça-feira, 11 de agosto de 2015

A alma da gaita-de-foles mirandesa: palhetas e palhões


“A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa – Palhetas e Palhões” de Henrique Fernandes

A alma da gaita-de-foles mirandesa reúne, num só livro, todo o processo de construção, manutenção e informação da palheta, e do palhão, artefactos nobres que dão vida e beleza à gaita-de-foles.

Esta obra resulta das vivências do autor, através do contacto com a gaita-de-foles, da sua enorme paixão por este instrumento, do conhecimento adquirido com os antigos gaiteiros (Planalto Mirandês, Minho, Estremadura, Castela e Leão, e Galiza), e, em grande parte, da procura incessante de novos conhecimentos para apurar a técnica da feitura daquilo que nos faz identificar o inigualável som da gaita-de-foles.

Com este livro, o autor pretende manter viva a memória do presente, para serventia do futuro, deste instrumento secular, tão actual e apreciado nos nossos dias.

«Um artesão mirandês é o único construtor de palhetas e "palhões" no país destinadas em "exclusivo" às gaitas-de-foles de origem peninsular e pretende preservar este legado ancestral que considera a "alma do instrumento".
Henrique Fernandes disse à agência Lusa que no início a construção de palhetas para gaita-de-foles era um passatempo. Mas depressa se transformou num desafio, acrescentou.

"Actualmente, dedico-me com mais afinco ao estudo e fabrico destes artefactos musicais e, para o efeito, recorro ao conhecimento de velhos gaiteiros do Planalto Mirandês, Minho, Estremadura e, claro, da vizinha Espanha, já que a procura é constante por parte dos músicos", explicou o também gaiteiro.

Longe vão os tempos em que os gaiteiros tradicionais utilizavam cana cortada junto aos cursos de água da região e procuravam pequenos tubos de metal para construirem as suas próprias palhetas e "palhões". "Agora, o processo requer estudo e novos materiais elaborados com rigor", frisou.

O também gaiteiro quer mostrar todo o processo de construção das peças únicas, que são fabricadas numa pequena oficina situada em Sendim, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.

"Uma boa palheta é fundamental para se conseguir um som mais genuíno. Por esse motivo, é preciso escolher os materiais e aplicar técnicas que permitam respeitar a tradição e integridade do instrumento", destacou.

Por semana, o artesão chega a construir algumas dezenas de palhetas. Porém, a sua procura é crescente e o "stock" depressa se esgota, tudo porque os instrumentistas aparecem um pouco de todo o país e da vizinha Espanha.

"A palheta vai-se degradando com o tempo e, por isso, cada tocador tem obrigatoriamente de ter as suas reservas", observou o artesão e instrumentista.No entanto, com o processo de padronização da gaita de fole na região da "Terra de Miranda" e o consequente número crescente de tocadores levam a uma maior procura de materiais nobres para o fabrico dos instrumentos.

Neste sentido, Henrique Fernandes apresenta, no sábado, no discurso do Festival Intercéltico de Sendim, o primeiro livro dedicado ao processo de fabrico destas peculiares peças sob o título "A Alma da Gaita-de-Foles Mirandesa - Palhetas e Palhões".

"A alma da gaita-de-foles mirandesa é o deixar presente e registado todo o processo para construção, manutenção e informação da palheta e do "palhão", "artefactos nobres" e os quais dão vida e beleza à gaita-de-foles", enfatizou o autor.

O instrumentista e artesão, concluiu afirmando, que a gaita-de-foles existe há muitos anos e está para durar e ficar, acrescentando que o livro será um contributo para "a memória do presente e para serventia do futuro".» Público, 31.07.2015

Henrique (Gaiteiro) Jesus Fernandes. Sendim, Miranda do Douro; Vila Real. Nascido a 19/7/1970. Militar, construtor, músico.

Bisneto e neto (António Augusto Fernandes) de gaiteiros, e também com a paixão pelos pauliteiros, com cerca de 14 anos em todo o lado lhe chamavam gaiteiro.
Começa com a flauta, o mais semelhante, aos 19 começa a tocar em “experiências escondidas”… Compra a 1ª gaita ao Ti Ângelo Arribas pelos 25, e vai treinando e gravando os gaiteiros que havia; através dessas recolhas e método de estudo, vai-se aperfeiçoando. Vai a Urrós, na senda da família de gaiteiros, e encontra José Maria Fernandes, primo segundo, e aprende com ele a calibragem/afinação do palhão e palheta e a técnica de digitação da gaita, transmitidas pelo pai desse. A necessidade, pela falta marcada e sentida de palheteiros, fá-lo aprender com ele e Manuel Paulo Martins a técnica de construção, que começa com 24-25 anos.
O grande salto foi a padronização da gaita mirandesa (cerca de 2007), que reforça a necessidade da existência de um palheteiro, instado por Célio Pires. Inicia o desenvolvimento da palheta à actual ponteira (escala cromática “perfeita” em M e m), que vem mantendo.
Com o sentido de saber mais sobre teoria musical e de instrumento, faz formação académica: curso de flauta transversal (o que mais se adequava ao estudo da gaita), no Conservatório de Vila Real, de que conclui o 5º grau, o que ajudou muito no aperfeiçoamento da construção da palheta e da digitação das várias escalas, uma formação de construção de palhetas para fagote e outra para oboé, um workshop de construção de palhetas em Santiago de Compostela e um curso intensivo de construção de palhetas em Madrid.
É o único palheteiro para gaitas de fole existente no país. Em Espanha, onde aprendeu, haverá uns 10, se tanto…                                           

Materiais usados: cana da ribeira tratada, tubo de latão cortado à medida e trabalhado, fio de nylon. Trabalho manual. Oficina ambulante.

Formou um trio tradicional (gaita, caixa e bombo), os Lenga Lenga, que é acrescentado depois de vozes femininas e posteriormente passa a quarteto instrumental e vocal, para os espetáculos em palco. Editam 2 CD’s (Gaiteiros de Sendim e L Teçtemunho). Toca flauta transversal e pastoril, gaita de fole, e ainda, concertina, viola e piano.
É professor de gaita de fole. Gostaria de transmitir a arte de palheteiro.» [blogue Arquivo de Memórias]

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...

Sem comentários:

Enviar um comentário