Prémio Dom Dinis 2011 da Casa de Mateus (Vila Real)
«Leonor, pela mão de Maria Teresa Horta, atravessa o tempo, o espaço, os géneros e as ideias, os sentimentos e as razões e as modas para nos arrastar na vertigem da sua existência
Primeiro a História: Maria Teresa Horta levou treze anos a pesquisar, a coligir informação e a escrever "As Luzes de Leonor", uma monumental e arrebatada obra que gira em torno da vida e da personalidade de Leonor de Almeida, Condessa de Oyenhausen e Marquesa de Alorna, figura maior da nossa História e da nossa Cultura. Foi encerrada aos oito anos, juntamente com a irmã e a mãe, no Convento de Chelas, e o pai, também preso a mando do Marquês de Pombal no seguimento do processo dos Távora, passou anos sem ver a família. A avó, Marquesa de Távora, foi executada, tal como outros membros da família, amigos e até criados. Leonor só saiu de Chelas 18 anos mais tarde, após a morte de D. José, quando D. Maria - mais tarde sua madrinha de casamento - devolveu a liberdade aos presos políticos. Leonor aproveitou a reclusão para estudar, para fortalecer o carácter, para escrever poesia. (...)
Primeiro a História: Maria Teresa Horta levou treze anos a pesquisar, a coligir informação e a escrever "As Luzes de Leonor", uma monumental e arrebatada obra que gira em torno da vida e da personalidade de Leonor de Almeida, Condessa de Oyenhausen e Marquesa de Alorna, figura maior da nossa História e da nossa Cultura. Foi encerrada aos oito anos, juntamente com a irmã e a mãe, no Convento de Chelas, e o pai, também preso a mando do Marquês de Pombal no seguimento do processo dos Távora, passou anos sem ver a família. A avó, Marquesa de Távora, foi executada, tal como outros membros da família, amigos e até criados. Leonor só saiu de Chelas 18 anos mais tarde, após a morte de D. José, quando D. Maria - mais tarde sua madrinha de casamento - devolveu a liberdade aos presos políticos. Leonor aproveitou a reclusão para estudar, para fortalecer o carácter, para escrever poesia. (...)
Com "As Luzes de Leonor" Maria Teresa Horta constrói uma obra grandiosa, na qual as figuras históricas se cruzam com as que emergem da imaginação da escritora, em cenários delicadamente pormenorizados, em ambientes profusamente documentados, em emoções e sentimentos que só uma grande escritora sabe como recriar. Para além do aspecto formal mais marcante desta obra, isto é, a subversão total dos géneros tradicionais - romance histórico, biografia, memórias, poesia, género epistolar (tão característico do século XVIII) até autobiografia -, há, em toda a narrativa, uma contínua tensão entre contrários, masculino e feminino, razão e emoção, verdade e embuste, vida e morte, liberdade e reclusão, atracção e repulsa, luxúria e castidade, entre o amor-paixão e o amor-amizade. Leonor ergue-se, magnífica e majestosa, do vórtice destes conflitos mortais, desafiando o despotismo patriarcal consubstanciado em figuras como Sebastião de Carvalho e Melo e Pina Manique, o primeiro, apostado em ser um homem das "Luzes" que usa a razão para reconstruir um reino mas que mergulha nas trevas da barbárie com a execução dos Távora e com as suas maquinações e Pina Manique, o sinistro intendente da Polícia e espião que persegue Leonor até à morte. Esta, ao contrário dos seus inimigos ("Não me apaziguo" escreve ela no Diário), embora "encarcerada" - num convento, num corpo de mulher, em roupagens femininas - experimenta sem temor o excesso das suas "luzes" no desejo e na vontade.
"As Luzes de Leonor" é um livro "feminista" no sentido em que Maria Teresa Horta - escritora, poeta e pensadora sempre atenta - revela a importância de Leonor e de outras mulheres mantidas na obscuridade. Mas é, essencialmente, uma obra universal que transcende géneros, fronteiras, correntes ou movimentos literários. É um livro sobre Portugal e sobre a nossa cultura, sobre a Europa e sobre os abalos da História. É, ainda, uma lição de bem escrever e um relato provocante e ousado que levanta questões de agora e de todos os tempos: como resistir à tirania? Qual a importância da educação, da cultura, do exercício do pensamento? De que modo se poderá (ou não) conciliar a emoção com a razão? De que formas se reveste o amor em todas as idades? Como vencer as barreiras da moral instituída, das diferenças sociais e culturais, das limitações de género? Como ser-se mulher (ou homem) em toda a plenitude?
Helena Vasconcelos [ípsilon, jornal Público] [http://ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=287194]
Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douroem Vila Real.. .
Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro
Sem comentários:
Enviar um comentário