“Ensaios e
Artigos (1951-2007)” de Agustina Bessa-Luís
Durante 56
anos, a escritora Agustina Bessa-Luís publicou inúmeros textos sobre temas
muito variados em órgãos de comunicação social portugueses que, a partir deste
mês, são revelados pela Fundação Gulbenkian numa edição em três volumes
intitulada Ensaios e Artigos (1951-2007).
O primeiro
texto assinado por Agustina que aparece nesta obra é “Óculos Escuros” e começa
assim: “Eram dois tipos – que tipos! – um deles, certo homenzinho magro, de
feições repuxadas, como se tivesse sido vítima de várias operações plásticas de
rejuvenescimento.” Datado de 11 de outubro de 1951, o texto fazia parte do
Diário do Norte, publicação que apresentaria outros textos da escritora nos
anos subsequentes, antes do Diário de Notícias ou do Diário
Popular.
Lourença
Baldaque, neta da escritora, recolheu e organizou estes textos a partir de um
desafio do seu avô, Alberto Luís, que lhe entregou uma lista com as datas
aproximadas de colaboração de Agustina com jornais e revistas. Estes são textos
que estavam perdidos na memória da imprensa e que correspondem a 56 anos de
escrita, em 58 de vida literária ativa da escritora. O trabalho exigente de
investigação e recolha durou dois anos e apresenta-se agora como o corolário da
edição de textos inéditos da escritora pela Fundação Gulbenkian, iniciada com a
publicação em 2014 da obra Elogio do Inacabado.
Se
o Diário do Norte foi o primeiro a receber os seus artigos, não foi
decerto o mais procurado por Agustina. José António Saraiva refere no prefácio
do livro a publicação de mais de 200 artigos no Diário Popular, um dos seus
preferidos. Diário de Notícias, Jornal Novo, Jornal de
Letras, Primeiro de Janeiro e outros títulos vão publicar crónicas,
contos, observações e textos da autora de A Sibila. Saraiva escreve que uma das
curiosidades do seu trabalho de prefaciador foi a de procurar comparar a
escrita de Agustina Bessa-Luís nos romances e nos textos jornalísticos,
tentando encontrar as diferenças. Depois de tudo lido, as diferenças não se
notam, e escreve José António Saraiva: “Aliás, cautelosamente, a escritora
começou a sua colaboração nos jornais com a publicação de contos, isto é, de
pequenos textos de ficção, onde podia dar largas à sua incansável imaginação e
à escrita luxuriante que nunca abandonará”.
Nestes Ensaios
e Artigos continuamos a ter a escrita característica de Agustina,
observadora exímia da realidade que a circunda, com o seu olhar perfurante e
pena afiada. No último texto datado de 2007, publicado na revista Autêntica,
pode ler-se: “A minha amiga L… (não se cansem a imaginar quem será; não é
Lúcia, nem Laura, nem Leonarda) tinha dois contras na vida dela: a falta de
dinheiro e a infidelidade do marido. Queixava-se amargamente de ambos, mas, por
fim, já tomava as coisas com uma grandeza à grega. Um poeta que a estimava
muito perguntou-lhe porque não enganava o marido. – Com quem? Só se fosse com o
Alexandre da Macedónia.”
Disponível na Traga-Mundos
– livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos –
lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[disponível também os títulos: “Camilo – Génio e Figura” e “Elogio do
Inacabado” de Agustina Bessa-Luís, “As Metamorfoses” de Agustina Bessa-Luís e
Graça Morais, “Vida e Obra – Agustina Bessa-Luís” por Fernando Pinto do Amaral,
Inês Pedrosa, João Botelho, José Saramago, Luís Caetano, Manoel de Oliveira,
Maria de Fátima Soares, Maria de Jesus Barroso, Mónica Baldaque e Urbano
Tavares Rodrigues]
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