"A Quem
Encontrar Este Livro… Diário de Guerra (1917-1918)" de João Pina de Morais
«O relato inédito
do soldado João Pina de Morais, que participou na I Grande Guerra (1914-18) é
revelado pela primeira vez, numa obra organizada por João Sequeira Rodrigues.
O manuscrito
encontrava-se num cofre na Casa das Quintãs, no concelho de Baião, no Douro
Litoral, e permaneceu inédito por vontade do autor, disse à Lusa fonte
editorial.
O escritor Pina de
Morais abordou o quotidiano da I Grande Guerra no romance "Ao
parapeito", publicado em 1919, dois anos depois da sua estreia literária
com "Ânfora partida". O cenário da I Guerra marcou ainda o seu
terceiro livro, "O Soldado - Saudade na Grande Guerra", publicado em 1921.
Segundo o
organizador da obra, o diário foi escrito por Pina de Morais entre abril de
1917 e junho de 1918, "atravessando a totalidade da presença do jovem
oficial no Corpo Expedicionário Português, nos campos da Flandres [Bélgica],
durante a I Guerra Mundial", que findou a 11 de novembro de 1918.
O Diário
destinava-se a Lídia da Assunção Monteiro, "com quem o jovem oficial veio
a casar-se em finais de novembro de 1923".
"Foi por
indicação de uma amiga de Lídia Monteiro, que se chegou ao cofre", afirma
o organizador, segundo o qual "era vontade do casal que este testemunho,
dado o seu caráter intimista, apenas viesse a ser publicado após a morte de
ambos". João Pina de Morais, que foi discípulo da corrente literária
Renascença Portuguesa, morreu em 1953, e a mulher, Lídia Monteiro, em 1998.
Sequeira Rodrigues,
realça o papel de Lídia Monteiro, que foi "fulcral no atribulado percurso
biográfico de Pina de Morais, assegurando a estabilidade familiar possível nos
períodos de exílio e ostracismo que o político e escritor sofreu, em
consequência da sua luta em defesa dos ideais da República e da
democracia".
João Luís Sequeira
Rodrigues afirma que, com a publicação do Diário, pretende "dar mais um
contributo para o conhecimento da vida e obra de Pina Morais, bem como das
condições que envolveram a participação do Corpo Expedicionário Português na
guerra das trincheiras".
"O título
atribuído, retirado do pedido expresso pelo autor na abertura deste diário, tem
como objetivo convocar à leitura todos aqueles que com ele se cruzarem, não no
fundo de uma trincheira, como pressagiava Pina de Morais, mas no escaparate de
uma livraria", explica Sequeira Rodrigues.
No seu entender,
fica-se "a conhecer o drama de amor e de guerra de um dos mais generosos
soldados das tropas portuguesas".
João Luís Sequeira
Rodrigues, 49 anos, é licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia da
Universidade Católica Portuguesa de Braga, e mestre em Cultura Portuguesa, pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
É autor, entre outras,
das obras "João Pina de Morais: Vida, pensamento e obra", "Pina
de Morais -- Crónicas no Jornal de Notícias (1942-1950)" e "Viajar
com... Pina de Morais", tendo coordenado a publicação da Obra Poética de
Aires Torres. Atualmente dirige o Espaço Miguel Torga, em São Martinho de Anta,
no concelho de Sabrosa.
O escritor e
político João Pina de Morais estudou na Academia Politécnica do Porto, foi
amigo do filósofo Leonardo Coimbra, e incorporado no regimento de Vila Real.
Depois da I Grande Guerra, lutou contra as investidas monárquicas de Paiva
Couceiro.
Em 1922 foi eleito
deputado e, dois anos depois, aderiu ao Partido Republicano Português, do qual
foi expulso por incompatibilidades políticas. Após o golpe militar do general
Gomes da Costa, em 1926, fez parte da oposição, pelo que se exilou entre 1927 e
1932. Regressado a Portugal, não publicou durante cerca de 20 anos.
"Ânfora
partida" (1917), "Ao parapeito" (1919), "O soldado Saudade
na Grande Guerra" (1921), "A paixão do maestro" (1922) são
algumas das suas obras, a que se seguiram "Sangue plebeu" (1942) e
"Vidas e sombras" (1949).
Escreveu para o
jornal A Democracia (1917) e, além da Renascença Portuguesa, foi também um dos
nomes iniciais da Seara Nova.» [Lusa]
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