“A Linha do Vale do
Sabor – Um Caminho-de-Ferro Raiano do Pocinho a Zamora”
coordenação Carlos
d’Abreu
«Este livro surge
da decisão de trazermos ao “lado republicano” da Península Ibérica, o “PAN –
Festival Transfronteiriço de Poesia, Património e Arte de Vanguarda”, que este
ano terá a sua 13.ª edição consecutiva em Morille (Salamanca) e a 1.ª em
Carviçais (Torre de Moncorvo). Facto só possível, graças de à sua organização
se haver agregado o nosso conterrâneo e antigo condiscípulo do Liceu de
Moncorvo, António Manuel Lopes, Oficial Superior do Exército Português na
reserva e agora Editor, para além de Escritor com o pseudónimo de António Sá
Gué. Sem ele, não teria sido possível abalançarmo-nos nesta aventura. Juntos
congregámos esforços e vontades, reunimos amigos, conterrâneos e também três
autarcas – o Presidente da Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, o Alcalde do
Ayuntamiento de Morille e o Presidente da Junta de Freguesia de Carviçais.
Será talvez
despeciendo referir o programa do mencionado festival, porque este livro será
durante a sua realização publicamente apresentado, tanto em Morille como em
Carviçais. Contudo sempre diremos que, paralelamente, teremos várias exposições
e outras colaborações, nomeadamente: uma exposição que pretende contar o
passado, o presente e o futuro, que para ela queremos; duas exposições de fotografia,
uma sobre a ferrovia em geral e outra relativa à sua obra-de-arte mais famosa,
a ponte do Pocinho; um vídeo relativo à última viagem sobre carris; uma
exposição de pintura a aguarela de temática ferroviária; um diaporama de
fotografias antigas; um recital poético-ferroviário e animação musical.
Sendo Carviçais
atravessada por um caminho-de-ferro – a Linha do Vale do Sabor –, fácil foi
achar o mote para a secção do Património do PAN de 2015. Além do mais as
questões ferroviárias, mormente raianas, são tema de nosso especial agrado e às
quais vimos dedicando parte da nossa investigação, a maioria dela em parceria
com o nosso velho amigo Emilio Rivas Calvo.
Bastar-nos-iam
(talvez) os nossos trabalhos publicados em actas de congressos ou revistas de
ciência e cultura, para agenciar material suficiente que desse corpo a um
livro. Não obstante, preferimos fazer dele um trabalho colectivo, que incluísse
colegas de outras áreas científicas. Mas não ficámos por aí, abrimo-lo também
aos ficcionistas, aos poetas e aos artistas, pois o Caminho-de-Ferro, desde que
começou a ser inaugurado, passou a ser tema transversal à sociedade, por ser
símbolo de Progresso, em Portugal e no resto do Mundo.
Consequentemente,
trouxemos para este livro, não só os éditos que nos pareceram mais elucidativos
e andavam dispersos, como a participação original de vários Amigos, em todas
essas áreas.
Quando se começou a
aproximar a passagem do centenário da inauguração ao público da sua primeira
secção – do Pocinho a Carviçais (1911-2011) –, o assunto foi tema para algumas
das nossas intervenções na Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo, lembrando
nelas a necessidade de prepararmos condignamente essa efeméride, até para
chamar a atenção do seu estado de completo abandono e necessidade da sua
recuperação e reactivação, pois ele continua hoje, assim como no século XIX, a
ser imprescindível ao desenvolvimento desta Região. Desgraçadamente, os
mercenários do Poder Autárquico de então, nada queriam com o que pudesse
beliscar os interesses dos amos e, a efeméride passou em branco.
Mas chegou agora o
momento, não já a tempo de lembrarmos o centenário, mas de comemorarmos o 104.º
aniversário (da primeira inauguração) e o 34.º do seu abandono (enquanto
transportadora de passageiros).
É este livro
dedicado, como atrás tiveram oportunidade de verificar, a muita gente, pois o
Caminho-de-Ferro, este e todos os outros, é e será, Obra de muitos e de
sucessivas gerações.
Dedicámo-lo em
jeito de homenagem póstuma, a todos aqueles que sonharam um Caminho-de-Ferro
para a Região, os que o idealizaram, os que o projectaram e os que o
construíram (sob condições tão difíceis nesta áspera orografia). Mas nessa
homenagem tivemos de incluir dois conterrâneos e Amigos, para tristeza nossa:
Amadeu Ferreira, o grande obreiro da Língua Mirandesa – que a morte já não
permitiu que nele participasse apesar de ainda convidado – e Leandro Vale, o
director do Teatro em Movimento, que levou esse género artístico, durante 40
anos, aos locais mais recônditos do NE português. Mas este, ainda teve
oportunidade de connosco rever uma sua peça, na qual chama a atenção para o
declínio da ferrovia na nossa Região.
Nesta homenagem,
não esquecemos os que ainda hoje acreditam na viabilidade da sua reconstrução,
reabertura, conclusão até Miranda do Douro e sua continuação até Zamora – por
ter sido essa a ideia inicial de quem foi incumbido de o projectar – para se
conectar ao AVE (Comboio de Alta Velocidade), que dentro em breve passará por
essa cidade do Baixo Douro.
Será correcto
lembrar que, estando a freguesia de Carviçais indelevelmente ligada à Linha do
Vale do Sabor, quando os inimigos da Região venderam a um sucateiro
correlegionário (todos eles hoje a contas com a Justiça), os carris e demais
material ferrífero, os carviçaleiros juntaram-se e compraram o depósito
metálico elevado de abastecimento de àgua às locomotivas, junto da estação – a
anunciá-la aos passageiros com CARVIÇAIS em grandes letras – hoje o único
vestígio deste caminho-de-ferro, para além dos imóveis degradados.
É este um livro
completamente integrado na cultura da região onde se insere esta Freguesia,
porquanto contém textos nas três Línguas: a Portuguesa, a Castelhana e a
Mirandesa, que o mesmo será dizer, na Leonesa Ocidental.
Resta-nos agradecer
a todos que nele colaboraram, incluindo os colegas da organização do PAN, não
olvidando uma referência, à freixenista Odete Comenda e à loiseira Paula
Machado, representantes da associação CARAVA Ibérica de Cooperação, por todo o
apoio moral e material a este projecto, bem como, na fase final, ao jovem
quinteiro-quebradense Carlos Manuel Ferreira.» Carlos d’Abreu, Prefácio
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