domingo, 22 de março de 2015

Livreiros do meu país, UNI-VOS!



BREVES PALAVRAS E UM APELO

Pede-me o amigo António Alves, da Traga-Mundos, que dirija algumas palavras ao IV Encontro Livreiro de Trás-os-Montes e Alto Douro, a realizar na Livraria Dinis, em Valpaços, no dia 22 de Março de 2015. Depois de Vila Real, de Macedo de Cavaleiros e de Bragança, esta inédita forma de organização chega agora a Valpaços. Que continue o seu caminho por muitos anos!

Não sei se será de grande valia o que eu vos possa dizer mas não podia recusar este convite. Como saberão, estive ligado, desde antes mesmo da primeira hora, ao núcleo organizador do Encontro Livreiro, um movimento das gentes do livro (não apenas de livreiros) que foi lançado em Setúbal no dia 28 de Março de 2010. E que inspirou o(s) Encontro(s) Livreiro(s) de Trás-os-Montes e Alto Douro e, mais recentemente, o I Encontro Livreiro do Porto e Grande Porto, realizado na Livraria Lello I Prólogo Livreiros no dia 23 de Novembro de 2014. E, em parceria com a Fundação José Saramago, o Dia da Livraria e do Livreiro.

Quero, em primeiro lugar, deixar registado o meu grande apreço pelo trabalho que os livreiros e as gentes do livro de Trás-os-Montes e Alto Douro, inspirados inicialmente no movimento Encontro Livreiro, têm vindo a desenvolver no sentido de levar às livrarias locais, numa saudável rotatividade, o necessário e imprescindível encontro das gentes do livro da região, reflectindo sobre os problemas e criando novos métodos de trabalho que vão dando os seus frutos. Podemos dizer que em Trás-os-Montes e Alto Douro os livreiros e as gentes do livro já estão a trabalhar em conjunto. Parabéns a todos! Permitam-me, no entanto e sem desprimor para ninguém, uma saudação muito, muito especial ao António Alves e à Virgínia do Carmo pelo privilégio da amizade que me concedem.

Não permitamos que as livrarias se transformem numa espécie em vias de extinção.  Sobretudo as pequenas e médias livrarias independentes, espalhadas pelo país fora,  que lutam diariamente pela sobrevivência, não desistindo à primeira dificuldade. Mas isso só será possível se juntarmos mais e mais gente, cada vez mais gente, em torno deste objectivo, que deve ser de todos, a começar nos autores e a acabar nos leitores. São estes últimos, temo-lo dito repetidas vezes, que justificam toda a cadeia do livro. É, pois necessário que as livrarias façam um trabalho exigente de criação e multiplicação de leitores, que não se preocupem apenas com o fugaz e efémero que se esgota na venda pela venda e na obtenção de objectivos imediatos. Só a criação de cada vez mais e melhores leitores, de leitores cada vez mais exigentes, garantirá o futuro do sector editorial e livreiro, um sector fundamental para a emancipação de um país que se quer verdadeiramente livre e desenvolvido.

No ano passado deixei um apelo no V Encontro Livreiro: que se constitua um movimento nacional de livreiros independentes que lute pela preservação das pequenas e médias livrarias. Parece que, até agora, esse apelo caiu em saco roto. Continuo, no entanto, convencido da sua urgência.

É fundamental que os livreiros não fiquem a observar da bancada ou atrás do balcão. É fundamental que falem entre si, que definam objectivos comuns, que se organizem e lutem. Juntos! Criando uma rota de livrarias e uma rede de novas cumplicidades e de novas formas de colaboração e de trabalho.

Renovo agora aqui, dirigindo-me aos livreiros de Trás-os-Montes e Alto Douro, o mesmo apelo: conversem entre vós e com as gentes do livro da vossa região, conversem com os livreiros independentes – há (ainda) duas ou três dezenas que resistem por este nosso país fora – e com os livreiros e as gentes do livro que já integram o(s) Encontro(s) Livreiro(s), e avancem decididamente para a criação de um movimento específico e autónomo de livreiros independentes. Pegando nesse núcleo, será possível traçar linhas de ida e volta que vão de Valpaços ao Funchal, passando por Sines, Setúbal, Cascais, Porto, Lisboa, Vila Real e Macedo de Cavaleiros e, daqui, criar novas rotas que podem passar por Leiria, Évora, Almada, Braga, Guimarães e por outras vilas e cidades onde haja ou venha a haver livrarias independentes.

Livreiros do meu país, uni-vos!

Luís Guerra
22 de Março de 2015

[texto escrito para o IV Encontro Livreiro e Leitor de Trás-os-Montes e Alto Douro, a realizar-se hoje dia 22 de Março de 2015, na Livraria Papelaria Dinis, em Valpaços]

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