terça-feira, 17 de junho de 2014

1975, PREC, Trás-os-Montes



“Mil Novecentos e Setenta e Cinco” de Tiago Patrício

Uma viagem improvável a uma aldeia imaginária do nordeste transmontano no ano de viragem de 1975, representada num romance por várias personagens que tentam recuperar formas de vida que estão a desaparecer, em contraste com um novo mundo que se impõe.

É um romance onde cabe tudo: amores tardios, mortes adiadas, fugas e regressos triunfais, infidelidades descobertas dentro de armários, alfaiates e coveiros desempregados, mulheres que lavam no ribeiro e rapazes que as espreitam, ferroviários, comerciantes e todos os deserdados e perseguidos que tentam subir as escadas dos antigos e dos novos proprietários.

Nesta viagem pelas longas paisagens transmontanas, entrecortadas por desvios súbitos e perigosos, tal como as antigas linhas de via estreita da região, o leitor é conduzido pela mão de personagens que insultam e provocam gargalhadas na mesma frase, com um humor contagiante, que varia entre a temperança e a exaltação.

Leitura imperdível, de um autor que é já reconhecido como voz a um tempo regional e universal, no que à essência humana diz respeito.

Excerto
«Cada vez percebo menos, palavra de honra. Então fez-se a Revolução para quê? Agora vós também vos armais em esquisitas? Uma pessoa aqui a fazer-vos as vontades todas, a tratar-vos bem, a levar-vos nas palminhas, sempre simpáticos, a deixar os nossos afazeres para vos satisfazer, a abrir as portas das nossas casas e a oferecer o melhor vinho e a melhor comida e todas as coisas típicas e agora, na hora da verdade, é assim? É que para ti nem era nada de especial e para mim significava muito. Nem imaginas, desde que te vi ao pé da igreja no primeiro dia que ando aqui cheio de vontade e tu nada. Ouve lá, tu se calhar não gostas de homens? É isso, não é? Ouvi dizer que isso era moda nas cidades. Mas olha que eu trato-te bem, tu sabes que eu sei preparar muito bem uma mulher, é uma coisa natural para mim e nunca tenho pressas. Mas se tu não queres aproveitar, lá se vai a oportunidade, mas olha que acho mal. Até estou a sentir-me desprezado e isso é um sentimento negativo, acho que estás a criar mau ambiente sem necessidade.»

Autor
Nasceu no Funchal em 1979 e foi viver para Carviçais com apenas 9 meses. Estudou na telescola, andou em carroças, conduziu carros sem carta, fez corridas de motorizada sem capacete e aos 19 anos ingressou na Escola Naval. Regressou à vida civil para estudar na Faculdade de Farmácia e em 2007 começou a trabalhar como farmacêutico. No mesmo ano venceu o prémio Jovens Escritores e foi seleccionado pelo Clube Português de Artes e Ideias para uma residência em Praga. Escreveu a peça Checoslováquia e o livro Cartas de Praga, apresentado em Skopje em 2009. Depois disso nunca mais conseguiu largar os livros nem o teatro.
Venceu os prémios Daniel Faria e Natércia Freire em poesia e o Prémio Agustina Bessa-Luís em 2011 com o seu romance “Trás-os-Montes”.
Participou em algumas residências literárias: Turquia, Tunísia, EUA, Repúblicas Bálticas e alguns dos seus textos foram publicados no Egipto, Eslovénia, Espanha e República Checa.

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponível do autor: “Trás-os-Montes”]


Sem comentários:

Enviar um comentário