“Mil Novecentos e
Setenta e Cinco” de Tiago Patrício
Uma viagem
improvável a uma aldeia imaginária do nordeste transmontano no ano de viragem
de 1975, representada num romance por várias personagens que tentam recuperar
formas de vida que estão a desaparecer, em contraste com um novo mundo que se
impõe.
É um romance onde
cabe tudo: amores tardios, mortes adiadas, fugas e regressos triunfais,
infidelidades descobertas dentro de armários, alfaiates e coveiros
desempregados, mulheres que lavam no ribeiro e rapazes que as espreitam,
ferroviários, comerciantes e todos os deserdados e perseguidos que tentam subir
as escadas dos antigos e dos novos proprietários.
Nesta viagem pelas
longas paisagens transmontanas, entrecortadas por desvios súbitos e perigosos,
tal como as antigas linhas de via estreita da região, o leitor é conduzido pela
mão de personagens que insultam e provocam gargalhadas na mesma frase, com um
humor contagiante, que varia entre a temperança e a exaltação.
Leitura imperdível,
de um autor que é já reconhecido como voz a um tempo regional e universal, no
que à essência humana diz respeito.
Excerto
«Cada vez percebo
menos, palavra de honra. Então fez-se a Revolução para quê? Agora vós também
vos armais em esquisitas? Uma pessoa aqui a fazer-vos as vontades todas, a
tratar-vos bem, a levar-vos nas palminhas, sempre simpáticos, a deixar os
nossos afazeres para vos satisfazer, a abrir as portas das nossas casas e a
oferecer o melhor vinho e a melhor comida e todas as coisas típicas e agora, na
hora da verdade, é assim? É que para ti nem era nada de especial e para mim
significava muito. Nem imaginas, desde que te vi ao pé da igreja no primeiro
dia que ando aqui cheio de vontade e tu nada. Ouve lá, tu se calhar não gostas
de homens? É isso, não é? Ouvi dizer que isso era moda nas cidades. Mas olha
que eu trato-te bem, tu sabes que eu sei preparar muito bem uma mulher, é uma
coisa natural para mim e nunca tenho pressas. Mas se tu não queres aproveitar,
lá se vai a oportunidade, mas olha que acho mal. Até estou a sentir-me
desprezado e isso é um sentimento negativo, acho que estás a criar mau ambiente
sem necessidade.»
Autor
Nasceu no Funchal
em 1979 e foi viver para Carviçais com apenas 9 meses. Estudou na telescola,
andou em carroças, conduziu carros sem carta, fez corridas de motorizada sem
capacete e aos 19 anos ingressou na Escola Naval. Regressou à vida civil para
estudar na Faculdade de Farmácia e em 2007 começou a trabalhar como
farmacêutico. No mesmo ano venceu o prémio Jovens Escritores e foi seleccionado
pelo Clube Português de Artes e Ideias para uma residência em Praga. Escreveu a
peça Checoslováquia e o livro Cartas de Praga, apresentado em Skopje em 2009.
Depois disso nunca mais conseguiu largar os livros nem o teatro.
Venceu os prémios Daniel Faria e Natércia Freire em poesia e o Prémio Agustina Bessa-Luís em 2011 com o seu romance “Trás-os-Montes”.
Participou em algumas residências literárias: Turquia, Tunísia, EUA, Repúblicas Bálticas e alguns dos seus textos foram publicados no Egipto, Eslovénia, Espanha e República Checa.
Venceu os prémios Daniel Faria e Natércia Freire em poesia e o Prémio Agustina Bessa-Luís em 2011 com o seu romance “Trás-os-Montes”.
Participou em algumas residências literárias: Turquia, Tunísia, EUA, Repúblicas Bálticas e alguns dos seus textos foram publicados no Egipto, Eslovénia, Espanha e República Checa.
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[também disponível do
autor: “Trás-os-Montes”]
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