“A Música Com
Histórias de Vida” de Adérito Gomes Silveira
O livro apresenta
um conjunto de narrativas associadas à descrição de pessoas e factos com
ligação à música, pois a arte suprema dos sons foi ao longo de séculos objecto
de loucuras e paixões em muitas aldeias do país. Em Mateus, muitos músicos
sacrificaram-se até ao limite pela sua banda, outros tocaram até ao último
sopro de vida. São retratados, frescos humanos nos mais variados enquadramentos
sociais de festas populares, pedaço de povo que em muitas situações se submetia
à resignação da morte como única saída para a salvação da alma.
«Numa festa para os
lados de Carrazeda, os músicos saíam do coreto já perto das cinco da manhã
convencidos de que o arraial tinha acabado. Cansados dirigiam-se para o
autocarro. Inesperadamente um mordomo de chapéu de aba larga e barba até ao
pescoço aborda os músicos lembrando-os que o contrato só terminava às 6
horas... O Meco resolve o problema. Pega no saxofone e toca umas modinhas bem
animadas usando toda a sua perícia para contrariar o cansaço e estado de
espírito do momento. O mordomo espantado desabafa: - tá bem bô a cantilena, bá
lá tocar ao caraças… bão-se lá embora…
Àquela hora já só estavam no recinto meia dúzia de ciganos, duas éguas, quatro burros e um casal de velhos, deitados e encostados no chão levantando-se de rompante quando ouviram do Meco a moda “Ora zumba na caneca”. Em estapafúrdios movimentos de dança, os dois acabam no chão enrolados um sobre outro sem saberem se a música ainda estava no ar…
No regresso e já distante da festa, ouvem-se latidos de cães que povoam a solidão da imensa natureza.»
Àquela hora já só estavam no recinto meia dúzia de ciganos, duas éguas, quatro burros e um casal de velhos, deitados e encostados no chão levantando-se de rompante quando ouviram do Meco a moda “Ora zumba na caneca”. Em estapafúrdios movimentos de dança, os dois acabam no chão enrolados um sobre outro sem saberem se a música ainda estava no ar…
No regresso e já distante da festa, ouvem-se latidos de cães que povoam a solidão da imensa natureza.»
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