segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Os rostos de Jesus

“Os rostos de Jesus – uma revelação” de José Tolentino de Mendonça, fotografias de Duarte Belo

"Os Rostos de Jesus - Uma Revelação" é uma viagem fotográfica de Duarte Belo pelas representações de Jesus crucificado que se podem contemplar no alto dos cruzeiros de pedra existentes sobretudo no Norte de Portugal.
São mais de 100 fotografias de esculturas tendo por fundo o céu azul, que permitem apreciar a expressão facial e corporal do Jesus Cristo que cada artífice da pedra, em cada lugar, soube criar.
O texto, assinado pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, José Tolentino Mendonça, interroga-se sobre a variedade de rostos e perspetivas sobre Jesus. [Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura]

A leitura do texto do Prof. José Tolentino Mendonça é indispensável para compreender estas imagens e o subtítulo Uma Revelação. O autor explica que a diversidade de interpretações que a arte faz do rosto de Jesus traduz a incerteza sobre o seu rosto histórico. Mas, para além disso, também demonstra a impossibilidade de uma imagem captar a verdade completa sobre Jesus, porque ele é «ponto de interseção entre o divino e o humano».

Hipóteses para um rosto
José Tolentino Mendonça

«Num certo sentido, não deveríamos estranhar que o rosto de Jesus seja um enigma. A pergunta que se impõe é: não é assim cada rosto humano? Haverá objeto mais fugidio do que um rosto, qualquer rosto? O filósofo Emmanuel Lévinas tratou longamente o problema e explicou que um rosto ultrapassa a cada instante a imagem que temos dele. O rosto não se define, exprime-se simplesmente. Isto é, traz consigo uma noção de verdade que não está no desvendar, mas na evidência da sua autoapresentação.


O que é um rosto? As aproximações ao rosto de Jesus são necessariamente plurais. Não é por acaso que em vez de oficializar um Evangelho, o cristianismo primitivo optasse por pôr quatro narrativas no cânone: não é a monodia que nos permite captar Jesus, mas a polifonia, com as suas variantes, os seus contrastes, os seus silêncios e singularidades. Do mesmo modo, isso é-nos dito pela apaixonante massa de estudos que a contemporaneidade tem produzido sobre o Jesus histórico. O que é o seu rosto? O rosto de um simples judeu? De um judeu marginal? De um profeta escatológico? De um revolucionário social? De um sábio itinerante, igual a tantos outros que o mundo greco-romano conheceu? De um homem santo? De um camponês do Mediterrâneo?

O rosto de Jesus, ponto de interseção entre o divino e o humano, está claramente na história, mas também para lá dela. Sabemos, por isso, que nenhuma imagem, por si só, capta a verdade completa de Jesus. Não podemos, no entanto, deixar de interrogar as imagens que hoje a investigação histórica e crítica se empenha em produzir. Por mais ténue que seja o traço que cada uma nos forneça, todas juntas decifram um pouco mais o enigma que o rosto de Jesus representa.»

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponível “Os Cruzeiros da Diocese de Vila Real” de Padre João Parente]


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