“A Agave Só
Floresce Uma Vez – A Quinta Vitoreira” – Ciclo Duriense 1” de Eurico Figueiredo
«Querida Irene,
As coisas por aqui continuam bem. A vinha este ano está fabulosa. Espero que, se tudo correr bem no Verão, sem excesso de calor, tenhamos uma magnífica colheita.
Mas algo aconteceu de estranho: uma das agaves plantadas em 1996 floresceu nesta Primavera. Tem sete anos de idade e lançou uma florescência de uns dez metros de altura. Sinceramente, o que encontrei na literatura aponta para que, nas regiões mais quentes e secas, a primeira e única floração surja quando têm uns dez anos de idade: depois secam e morrem! Mas nunca tão cedo. […]
Achei bizarro. E, apesar do meu feroz racionalismo, fui possuído por um terrível pressentimento. Como já tinha tido pensamentos mágicos no Algarve quando as redescobri e a Graça Murta me sensibilizou para os mistérios da agave. Pressentia então que o meu tempo teria acabado. Valeu-me uma motivação forte: o projecto da quinta ter-me-á salvo.
As coisas por aqui continuam bem. A vinha este ano está fabulosa. Espero que, se tudo correr bem no Verão, sem excesso de calor, tenhamos uma magnífica colheita.
Mas algo aconteceu de estranho: uma das agaves plantadas em 1996 floresceu nesta Primavera. Tem sete anos de idade e lançou uma florescência de uns dez metros de altura. Sinceramente, o que encontrei na literatura aponta para que, nas regiões mais quentes e secas, a primeira e única floração surja quando têm uns dez anos de idade: depois secam e morrem! Mas nunca tão cedo. […]
Achei bizarro. E, apesar do meu feroz racionalismo, fui possuído por um terrível pressentimento. Como já tinha tido pensamentos mágicos no Algarve quando as redescobri e a Graça Murta me sensibilizou para os mistérios da agave. Pressentia então que o meu tempo teria acabado. Valeu-me uma motivação forte: o projecto da quinta ter-me-á salvo.
Agora, a florescência da agave será
o sinal de que terminei um novo, ou o último ciclo da minha vida?
Nas terras junto ao Douro, chão fértil para toda a sorte de castas, também
Arnaldo tenta medrar, agora aposentado e longe dos seus, querendo dar um rumo
novo e ainda pujante aos seus dias. Mas, como a agave paciente, conseguirá/terá
ele o seu florir derradeiro?"»
Eurico Figueiredo
tem o gosto pela intervenção polivalente. Premiado como pintor nos seus jovens
20 anos, viu a vocação perder-se na dureza da luta estudantil em que se
envolveu. O exílio fê-lo psiquiatra, psicoterapeuta e psicanalista. Nos anos
90, já catedrático de psiquiatria, foi oito anos deputado. Ensaísta na área de
encontro da psicanálise com a cultura, valores e gerações, iniciou a actividade
literária...
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