Velha
oliveira, ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti
se me tornou hoje perceptível;
algo que eu
não conhecia e me fez parar
na ténue
sombra que teces no caminho;
algo que é
uma doce corola de contacto.
Já os passos
da luz se afastam na colina
e um rumor
de pérolas quebradas
desce,
lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves
tuas amigas procuram na folhagem
a doçura
acumulada nos favos da noite.
E também já
são horas
de nós os
homens, nós os que passamos,
suspendermos
as cítaras do pensamento.
Entretanto,
ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob
os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao
sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos
olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a
entender uma bela mensagem:
a paz, ah a
paz!, a rosa da paz.
É como se
uma gota de azeite descesse,
brandamente
descesse pelas coisas.
António
Cabral
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