“Uma Luz Que Nos
Nasce Por Dentro” de Virgínia do Carmo
"Do mais fundo
chão que hoje me é chão,
[a gelar-me os olhos]
[a gelar-me os olhos]
vejo um esboço
de luz preso nos remoinhos da minha visão esboroada das paredes da sala, a
serem-me lençóis que me cobrem os sentidos que já não uso].
Tem estado sempre lá. Como sombra possível do vazio fragmentado. Como reflexo a espelhar o infinito invisível. Como se quisesse impedir a hipotermia dos meus olhos. Do meu peito. Sinto que me atravessa. Que me visita. De dentro para fora. Que me impede de morrer. Que me salva de uma maneira que me dói. De uma forma estranha e inconsistente. Porque sou agora esta quietude a mascarar a inércia. E só me reconheço no paradoxo do silêncio a crepitar-me sereno na superfície do tumulto da alma. No tropeço da ordem na confusão. Na indiferença do caos que me traga. Sílaba a sílaba. Memorizada na atmosfera nua de todos os meus sentidos. E aquele desenho etéreo de luz a ser-me companhia. A impedir-me de morrer. A salvar-me, de uma maneira que me dói. No patíbulo de todas as coisas que hoje me são coisas."
[Excerto]
Tem estado sempre lá. Como sombra possível do vazio fragmentado. Como reflexo a espelhar o infinito invisível. Como se quisesse impedir a hipotermia dos meus olhos. Do meu peito. Sinto que me atravessa. Que me visita. De dentro para fora. Que me impede de morrer. Que me salva de uma maneira que me dói. De uma forma estranha e inconsistente. Porque sou agora esta quietude a mascarar a inércia. E só me reconheço no paradoxo do silêncio a crepitar-me sereno na superfície do tumulto da alma. No tropeço da ordem na confusão. Na indiferença do caos que me traga. Sílaba a sílaba. Memorizada na atmosfera nua de todos os meus sentidos. E aquele desenho etéreo de luz a ser-me companhia. A impedir-me de morrer. A salvar-me, de uma maneira que me dói. No patíbulo de todas as coisas que hoje me são coisas."
[Excerto]
Virgínia do Carmo,
embora nascida em França, é na verdade trasmontana. Pela sensibilidade, pelo
apego pela terra dos seus antepassados.
Além de
escritora, é animadora cultural e mantém em Macedo de Cavaleiros, onde vive,
uma aposta simultaneamente comercial e cultural, a Livraria Poética, onde têm
lugar regularmente eventos de exaltação da poesia, da pintura, da fotografia e
de outras artes.
Já nos tinha dado dois títulos de poesia (Tempos cruzados, 2004, Pé de Página
Editores, e Sou, e sinto, 2010, Temas Originais). Chega-nos agora uma incursão
pela prosa (Uma luz que nos nasce por dentro, 2011, Lua de Marfim), uma espécie
de híbrido de novela e diário, relatando com tocante autenticidade experiências
que raiam os limites do humanamente suportável. «Trago as mãos sujas de tanta
humanidade. Mas há-de haver um rio à minha espera e nele hei-de mergulhar as
más memórias destes dias de angústia.» [Grémio Literário Vila-Realense]
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[também disponível da autora
o título: “Sou, e Sinto”]
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