“Efémera Glória
d’el Rey Sem trono – A História Atribulada do Tratado de Babe” – Peça de Teatro
em 1 Acto de António Afonso
A Peça de Teatro, EFÉMERA GLÓRIA D’EL REY SEM TRONO de
autoria de António Afonso, é uma ficção dramática, assentando em factos históricos
verídicos, que se desenvolve a partir da pretensão do Duque de Lencastre, John
of Gaunt ao trono de Castela e Leão, em que D. João I de Portugal se vê
envolvido, enquanto aliado de Inglaterra, por tratados antes celebrados.
Intitulando-se já como Rei de Castela e Leão, como consta do texto
do próprio Tratado de Babe, o nobre inglês abdicava de qualquer direito
que no futuro viesse a ter sobre a Coroa de Portugal.
Sem efeitos políticos dignos de nota, mas por fazerem parte da
história local, não poderão ser, os factos, desvalorizados ou ignorados.
Através do seu processo criativo e baseado em factos reais, a
ficção transporta-nos no tempo e torna-se fisicamente presente, como ferramenta
da nossa memória colectiva.
Sendo ainda a ficção, um género literário
complementar ao nosso imaginário, é a Arte Cénica um veículo da mesma por
excelência, tornando-a em nosso entender, culturalmente legítima.
«O texto fala-nos
no célebre “Tratado de Babe” (...). Decorria a guerra pela independência de
Portugal, face a Castela. Eram tempos difíceis de guerra, com muitas incertezas
sobre o futuro, sobretudo para Portugal.
Eleito nas Cortes
de Coimbra, Regedor e Defensor do Reino, o Mestre de Aviz, era doravante Rei de
Portugal, ou seja, era D. João I de Portugal. Haviam de se encontrar
estratégias para defender e consolidar a nossa independência face a Castela.
Assim, nesse sentido, em 1383, consegue-se um tratado de aliança entre Portugal
e a Inglaterra e em 9 de Maio, pelo Tratado de Windsor novo tratado. Este
Tratado determinava que entre estes dois reinos haveria «uma liga, amizade e
confederação real e perpétua, de maneira que um seria obrigado a prestar
auxílio ao outro contra todos os que tentassem destruir o Estado do outro». Este
tratado servia perfeitamente quer os nossos objectivos quer os da Inglaterra.
Portugal contava assim com um poderoso aliado contra Castela. Por sua vez,
também servia perfeitamente os interesses ingleses na medida em que era
importante para a pretensão do Duque de Lencastre, ao trono de Castela. É que o
Duque de Lencastre, D. João de Gaunt, quarto filho do Rei Eduardo III de
Inglaterra, após ter ficado viúvo de Blanche de Lancastrer (de quem teve D.
Filipa de Lencastre, que nasceu em Inglaterra em 1359), casou em 1371, em
segundas núpcias, com a Princesa Constança, filha do falecido Rei Pedro I de
Castela, O Cruel, envolvendo-se assim, na política castelhana ao declarar-se
pretendente da Coroa de Castela, rivalizando com Henrique de Trastâmara, na
disputa do mesmo propósito. Muito inteligentemente, D. João I de Portugal,
apercebeu-se que esta era a grande oportunidade para ter um aliado contra
Castela, uma vez que iria não só dividir as tropas do inimigo, como também,
viriam para a Península Ibérica muitos mais militares, gente que apoiava o
Duque de Lencastre. Por isso enviou um emissário a Inglaterra, oferecendo
auxílio ao Duque de Lancaster. O Duque inglês aceita a oferta e desembarca o
seu exército na Corunha. O encontro entre os dois aliados dá-se em Ponte de
Mouro, perto de Melgaço, onde subscrevem um novo Tratado de Aliança, contra o
Rei de Castela. Como era costume na época, com a finalidade de reforçar essa
aliança, ficou combinado o casamento de D. João I de Portugal, com D. Filipa de
Lencastre, filha do Duque inglês.
Entretanto o Duque
de Lencastre e as suas tropas seguem para Bragança, onde fica hospedado no
Mosteiro de Castro de Avelãs. Após se ter solicitado a Roma a necessária
dispensa do mestrado de Avis, veio D. Filipa, alojando-se no Porto, no Paço do
Bispo. Na manhã do dia 2 de Fevereiro de 1387, na cidade do Porto, na Igreja de
S. Francisco, realiza-se o referido casamento. D. João I de Portugal demorou-se
bastante no Porto e o seu sogro, farto de esperar, parte com as suas tropas
para Babe, povoação fronteiriça, perto da cidade de Bragança, onde os dois
exércitos se iriam reunir. Aqui, em 26 de Março de 1387, era assinado um novo
tratado, o Tratado de Babe. Por este Tratado, o Duque de Lancaster desistia de
qualquer direito, que no futuro viesse a ter, sobre a coroa de Portugal.
Após a assinatura
deste Tratado, os dois exércitos aliados, atravessaram o Rio Maçãs e rumaram a
Alcanices. Entretanto, D. João de Gaunt, chega a acordo com o rei de Castela e,
para selar este acordo, casa outra sua filha, com o Rei de Castela, tendo o
Duque de Lencastre regressado a Inglaterra. No entanto, a guerra entre Portugal
e Castela, estava longe de ter acabado. Morto D. João I de Castela, o seu
sucessor, D. Henrique III, reavivando a guerra, invadiria Trás-os-Montes, em
1397, não respeitando as pazes anteriormente assentes, entre os anteriores
monarcas, dos dois reinos.
Conquista Bragança,
Vinhais e Mogadouro, obrigando D. João I de Portugal, a entrar pela Galiza,
para libertar estas terras transmontanas, em 4 de Maio de 1398.
A paz definitiva
entre estes dois reinos, apenas seria alcançada em 1411.
Dentro do contexto
de uma guerra tão prolongada, quero salientar alguns factos, relacionados com
estas terras transmontanas. Assim em 16 de Maio de 1386, D. João I de Portugal,
doou um Foral ao Azinhoso (renovado em 13 de Fevereiro de 1520 por D. Manuel I
Rei de Portugal).
Segundo a História,
D. Nuno Álvares Pereira, o Condestável de D. João I de Portugal, terá rezado
junto ao altar de Nossa Senhora da Natividade, no ano de 1386, na centenária
Igreja de Santa Maria do Azinhoso, pedindo protecção à Virgem, contra os
Castelhanos. Também há uma grande polémica sobre o local onde se terá realizado
o célebre Alardo da Vilariça (é que há duas povoações possíveis de ter ocorrido
porque ambas se chamam Vilariça, uma no concelho de Torre de Moncorvo, outra,
muito perto do Azinhoso, concelho de Mogadouro).
Para concluir, devo
chamar a atenção para uma reprodução “fac-símile”, do Tratado de Babe, incluído
neste livro. Como o pergaminho original, guardado na Torre do Tombo está em
muito mau estado, a Associação Bragança Histórica, de que o António Afonso é
membro fundador, tomou a notável iniciativa de o mandar restaurar, parabéns!
Só me resta desejar
ao leitor uma boa leitura desta notável peça de teatro.» António Pimenta
de Castro, Prefácio
António Afonso é natural de Bragança. Além de artista plástico,
tem produzido obra literária em diferentes géneros.
Está representado em várias antologias de poesia (Poesia
Portuguesa Contemporânea – Vol. II, III, IV e V), Editora Minerva; Poetas
Ibéricos, Celya Editora, Salamanca; Poesia e Prosa – O Mundo da Lua –
Editora Lua de Marfim e, finalmente, Poesia Contemporânea, Chiado
Editora). Tem participado em vários recitais de poesia no país e no
estrangeiro: Universidade Jean Monet – S. Etiénne, Fundacion Rey Afonso
Henriques, Zamora, Conservatório Municipal de Bragança.
De toda a obra produzida destacam-se:
Em Poesia:
Margens do Silêncio e do Olhar.
Inquietude do Vento e dos Sentidos.
Em Teatro:
A Lenda da Torre da Princesa.
Inês, Inês...!
Julgamento e Morte do III Duque de Bragança.
O Braganção Mendo Alão e o Rapto da Princesa da Arménia.
Prémios:
1.º PRÉMIO DE POESIA – III Congresso de Trás-os-Montes e Alto
Douro.
3.º PRÉMIO DE POESIA – Câmara Municipal de Bragança.
2.º PRÉMIO DE CONTO – Câmara Municipal
de Bragança.
Disponível na Traga-Mundos
– livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos –
lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...