O livro fala
de memórias. Daquelas que fazem de nós aquilo que somos, que nos moldam, que
nos aprisionam e que para o bem e para o mal são o nosso mundo e a nossa vida. Nele,
o que sobressai é, sem dúvida, o estilo da escrita. Aparentemente simples, no
entanto, intenso, com momentos hilariantes e outros de profundo pesar, embora
estes últimos surjam disfarçados de fina ironia. É, sem sombra de dúvida, um
espaço de ficção onde cada leitor vai por certo encontrar um ou outro momento
que por si poderia ter sido vivido. Não há uma tese, mas a existir seria de
como as ideias, ou as ideologias, se cruzam, se misturam, se confundem e nos
confundem. Com a sua leitura a mente do leitor ficará certamente repleta de
imagens memoráveis: uma revolução e mais outra, um seminário, muita propaganda
(agitprop) e cerveja, uma mãe lutadora e sofredora, um superpai paciente, uma
caçada ao javali, mais prisões, uma escola de pioneiros e de como aprenderam a
redigir e outras brincadeiras de crianças, estas últimas dos escuteiros mirins.
Os acontecimentos sucedem-se em cascata, mas de forma calma, proporcionando
tempo para a reflexão de quem lê. Como fio condutor da narrativa temos a
procura de alguma verdade, de algum entendimento sobre as coisas e sobre as
relações humanas, residindo o seu leitmotiv no sentimento que sobressai da
ligação entre as personagens principais e da sua acção… o amor. Uma palavra tão
ridicularizada e minimizada quase sempre à relação entre homem e mulher e que
aqui aparece com toda a sua extensão e esplendor: terno, sempre intenso, ao
mesmo tempo tolerante e intolerante, justiceiro, lutador, abrasador…
João Madureira
nasceu no concelho de Chaves, em 1958, onde reside. Viveu a sua primeira
infância em Lisboa, fazendo, assim, um percurso um pouco ao contrário do habitual,
da urbanidade para a ruralidade, chegando à sua terra natal na adolescência. Professor
de profissão, sempre esteve ligado às artes e, sobretudo, à escrita. Foi
jornalista e continua a escrever artigos de opinião em jornais regionais. Fez
rádio e dedicou-se desde jovem à fotografia. Editou, em 2004, o romance Crónica
Triste de Névoa e tem divulgado diversa poesia e contos em revistas e
colectâneas. Destacam-se “Demónio sem Rabo” na Antologia Galega de Contos do Sacaúntos
Romasanta e “Chove na Ponte Escrita”, na colectânea de contos do primeiro
encontro da Ponte Escrita em Chaves. Autor do blogue “Terçolho”, a sua obra
está quase toda publicada em e-book. É desta publicação que se extrai O Homem
sem Memória, um folhetim romanceado, editado periodicamente durante 147
semanas. Nele deparamo-nos com o humanismo do escritor, pela importância que
atribui à dignidade, ambições e aptidões humanas e, ainda, com uma forma de
olhar o mundo e de o descrever que é bastante singular ao ser, simultaneamente,
afectiva, racional e prática.
Disponível
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila
Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an
Bila Rial...
[disponível
também da autora o seguinte título: “Crónica Triste de Névoa”]
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