“Na Andadura
do Tempo” de Vítor da Rocha
Antigamente
o tempo não se escoava, antes passava de mão em mão, como a Sagrada Família, de
pai para filho e deste para o neto, sempre na mesma ampulheta de trabalhos na
terra, de geadas para o lavrador se pôr a pau, de torreiras em Agosto a
argamassar os regos secos, de romarias a horas como as badaladas das trindades.
De modos que o tempo dos antigos era o mesmo dos novos e dos que ainda estavam
para vir. Mas a rodas das estações electrificou-se e desatou a girar sem pausas
nem esperas pelos mais atrasados. Nas águas dos ribeiros e no lavradio caíram
químicos e plásticos, o grão foi enferrujando nas arcas e as giestas e estevas
são mais que as mães por entre as fragas e os torrões. Aguilhoados pelo
colorido falso do ecrã, os novos foram à vida para outras paragens e até os
pinhos desertam do interior, enegrecidos, no bojo das camionetas, iludidos
pelos fogos arribados na liberdade de Abril. Restam poucos, calvos e brancos.
Professor,
escritor e editor (edições artescrita) É natural da freguesia de
Carviçais, no concelho de Torre de Moncorvo, em Trás-os-Montes, e residente em
Rio Tinto há mais de vinte anos. (…) Tem ainda desenvolvido actividades de
revisor de imprensa, tradutor e redactor em vários jornais e editoras no Porto.
Disponível
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila
Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an
Bila Rial...
[também disponível do autor
o seguinte título: “Postigo Cerrado”]
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