sábado, 27 de julho de 2019

o Pelinhos, por Emílio Miranda


Boa noite a todos.

Boa noite ao Sr. António, familiares e amigos.

Felicito, antes de mais, quem teve a lembrança desta homenagem, lamentando não poder estar fisicamente presente. No entanto não podia deixar de brindar o homenageado com o meu testemunho.

Ninguém como Antoine de Saint-Exupéry – outro António de reconhecido mérito – descreveu melhor a importância que, tantas vezes, sem que o saibamos mas inevitavelmente temos na vida de outros; daqueles com quem nos cruzamos na vida.

«Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».
Quanto de nós é mérito nosso? Quanto é o resultado do que outros em nós semearam?

Certamente que todos gostaríamos de saber o quanto representamos de boas sementes e o quanto de boa terra… Quanto a mim gosto de pensar que, a haver boa terra, ela nunca será o bastante, se não houver também boas sementes, para que possamos de algum modo cumprir a nossa missão e o nosso desígnio, enquanto por cá andamos.

Não sei o que o Sr. António levou de mim, mas sei com toda a certeza o que de si deixou em mim; o quanto influenciou a minha vida.

Em mim semeou o gosto pelo saber, e mais importante, o gosto pela procura permanente de saber, compreender e apreciar o Mundo que nos rodeia.

Muitas vezes troquei, de bom-grado, o valor da senha escolar do almoço pelo alimento de uma revista de BD ou de um livro, comprados a «bom preço», ao preço que só no Sr. António era possível e tornava possível, para tantos, o acesso à leitura, ao conhecimento, ao prazer de algumas horas desfrutando de uma nova descoberta.

Na sua cesta de livros e revistas usados despertei para o gosto da leitura (que me levou anos depois a despertar também para o da escrita) descobri fantasias, vivi infinitos momentos de magia…

Mais tarde fomos ainda vizinhos de entrada de prédio, e como tal os encontros
eram frequentes.

Mais do que nos cruzarmos, portanto, fomos muitas vezes companhia diária, de vizinhos que se cruzam e cumprimentam, porque se reconhecem em mais do que em encontros fugazes.

Termino com outra citação, esta escrita por mim há algum tempo e também a propósito:
A admiração que sentimos pelas pessoas que nos influenciaram positivamente aumenta com o tempo, quando reconhecemos no nosso caráter as sementes do que nos legaram; ou melhor, os frutos nascidos das sementes que em nós semearam...

Bem-haja pelas que em mim semeou, por tudo o que, tantas vezes sem que o soubesse, semeou de bom na vida de tantos.

Parabéns neste dia tão especial quanto todos os outros que o trouxeram até aqui.

Um abraço de amizade e gratidão.
Emílio Miranda

[testemunho enviado por email]

[foto gentilmente cedida pela Família]

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