Boa noite a todos.
Boa noite ao Sr.
António, familiares e amigos.
Felicito, antes de
mais, quem teve a lembrança desta homenagem, lamentando não poder estar
fisicamente presente. No entanto não podia deixar de brindar o homenageado com
o meu testemunho.
Ninguém como
Antoine de Saint-Exupéry – outro António de reconhecido mérito – descreveu
melhor a importância que, tantas vezes, sem que o saibamos mas inevitavelmente
temos na vida de outros; daqueles com quem nos cruzamos na vida.
«Aqueles que passam
por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».
Quanto de nós é
mérito nosso? Quanto é o resultado do que outros em nós semearam?
Certamente que
todos gostaríamos de saber o quanto representamos de boas sementes e o quanto
de boa terra… Quanto a mim gosto de pensar que, a haver boa terra, ela nunca
será o bastante, se não houver também boas sementes, para que possamos de algum
modo cumprir a nossa missão e o nosso desígnio, enquanto por cá andamos.
Não sei o que o Sr.
António levou de mim, mas sei com toda a certeza o que de si deixou em mim; o
quanto influenciou a minha vida.
Em mim semeou o
gosto pelo saber, e mais importante, o gosto pela procura permanente de saber,
compreender e apreciar o Mundo que nos rodeia.
Muitas vezes
troquei, de bom-grado, o valor da senha escolar do almoço pelo alimento de uma
revista de BD ou de um livro, comprados a «bom preço», ao preço que só no Sr.
António era possível e tornava possível, para tantos, o acesso à leitura, ao
conhecimento, ao prazer de algumas horas desfrutando de uma nova descoberta.
Na sua cesta de
livros e revistas usados despertei para o gosto da leitura (que me levou anos
depois a despertar também para o da escrita) descobri fantasias, vivi infinitos
momentos de magia…
Mais tarde fomos
ainda vizinhos de entrada de prédio, e como tal os encontros
eram frequentes.
Mais do que nos
cruzarmos, portanto, fomos muitas vezes companhia diária, de vizinhos que se
cruzam e cumprimentam, porque se reconhecem em mais do que em encontros
fugazes.
Termino com outra
citação, esta escrita por mim há algum tempo e também a propósito:
A admiração que
sentimos pelas pessoas que nos influenciaram positivamente aumenta com o tempo,
quando reconhecemos no nosso caráter as sementes do que nos legaram; ou melhor,
os frutos nascidos das sementes que em nós semearam...
Bem-haja pelas que
em mim semeou, por tudo o que, tantas vezes sem que o soubesse, semeou de bom
na vida de tantos.
Parabéns neste dia
tão especial quanto todos os outros que o trouxeram até aqui.
Um abraço de
amizade e gratidão.
Emílio Miranda
[testemunho enviado
por email]
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