segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Ensaios e artigos de Agustina Bessa-Luís


“Ensaios e Artigos (1951-2007)” de Agustina Bessa-Luís

Durante 56 anos, a escritora Agustina Bessa-Luís publicou inúmeros textos sobre temas muito variados em órgãos de comunicação social portugueses que, a partir deste mês, são revelados pela Fundação Gulbenkian numa edição em três volumes intitulada Ensaios e Artigos (1951-2007).

O primeiro texto assinado por Agustina que aparece nesta obra é “Óculos Escuros” e começa assim: “Eram dois tipos – que tipos! – um deles, certo homenzinho magro, de feições repuxadas, como se tivesse sido vítima de várias operações plásticas de rejuvenescimento.” Datado de 11 de outubro de 1951, o texto fazia parte do Diário do Norte, publicação que apresentaria outros textos da escritora nos anos subsequentes, antes do Diário de Notícias ou do Diário Popular.

Lourença Baldaque, neta da escritora, recolheu e organizou estes textos a partir de um desafio do seu avô, Alberto Luís, que lhe entregou uma lista com as datas aproximadas de colaboração de Agustina com jornais e revistas. Estes são textos que estavam perdidos na memória da imprensa e que correspondem a 56 anos de escrita, em 58 de vida literária ativa da escritora. O trabalho exigente de investigação e recolha durou dois anos e apresenta-se agora como o corolário da edição de textos inéditos da escritora pela Fundação Gulbenkian, iniciada com a publicação em 2014 da obra Elogio do Inacabado.

Se o Diário do Norte foi o primeiro a receber os seus artigos, não foi decerto o mais procurado por Agustina. José António Saraiva refere no prefácio do livro a publicação de mais de 200 artigos no Diário Popular, um dos seus preferidos. Diário de Notícias, Jornal Novo, Jornal de Letras, Primeiro de Janeiro e outros títulos vão publicar crónicas, contos, observações e textos da autora de A Sibila. Saraiva escreve que uma das curiosidades do seu trabalho de prefaciador foi a de procurar comparar a escrita de Agustina Bessa-Luís nos romances e nos textos jornalísticos, tentando encontrar as diferenças. Depois de tudo lido, as diferenças não se notam, e escreve José António Saraiva: “Aliás, cautelosamente, a escritora começou a sua colaboração nos jornais com a publicação de contos, isto é, de pequenos textos de ficção, onde podia dar largas à sua incansável imaginação e à escrita luxuriante que nunca abandonará”.

Nestes Ensaios e Artigos continuamos a ter a escrita característica de Agustina, observadora exímia da realidade que a circunda, com o seu olhar perfurante e pena afiada. No último texto datado de 2007, publicado na revista Autêntica, pode ler-se: “A minha amiga L… (não se cansem a imaginar quem será; não é Lúcia, nem Laura, nem Leonarda) tinha dois contras na vida dela: a falta de dinheiro e a infidelidade do marido. Queixava-se amargamente de ambos, mas, por fim, já tomava as coisas com uma grandeza à grega. Um poeta que a estimava muito perguntou-lhe porque não enganava o marido. – Com quem? Só se fosse com o Alexandre da Macedónia.”



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[disponível também os títulos: “Camilo – Génio e Figura” e “Elogio do Inacabado” de Agustina Bessa-Luís, “As Metamorfoses” de Agustina Bessa-Luís e Graça Morais, “Vida e Obra – Agustina Bessa-Luís” por Fernando Pinto do Amaral, Inês Pedrosa, João Botelho, José Saramago, Luís Caetano, Manoel de Oliveira, Maria de Fátima Soares, Maria de Jesus Barroso, Mónica Baldaque e Urbano Tavares Rodrigues]

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