quinta-feira, 7 de julho de 2016

drama duriense, baseado em João de Araújo Correia


“Manuel do Mundo” de Altino Moreira Cardoso
drama duriense, baseado em dois contos de João de Araújo Correia

«Esta peça é baseada em dois contos do Escritor reguense João de Araújo Correia: “De Jornada” (CAMINHO DE CONSORTES) e “Manuel do Mundo” (MONTES PINTADOS).
A articulação teatral coloca em foco a problemática do contraste entre o poder antigo, baseado na posse da terra e quantificada em pipas de vinho (Morgado de Santa Quitéria) e os novos ventos trazidos pela difusão da rede escolar, criadora de alternativas, aflorada, sobretudo, no conto em que Manuel do Mundo, um maltrapilho analfabeto, é uma figura fortemente geradora de dialécticas.
O elo comum é a polaridade do nome MANUEL, um inteligente e dócil criado (no conto DE JORNADA) e outro (do conto MANUEL DO MUNDO), revoltado, profético e revolucionário.
Ambos são dotados de um coração ainda maior do que a fatalidade da sua impotência, no tempo e no espaço.
A acção situa-se no Douro dos anos 1930-40, onde (como na generalidade do país) as famílias dos assalariados não tinham mais alternativas à dependência da vinha senão emigrar para a Cidade, geralmente o Porto e, também, para o Estrangeiro.
Cada separação da aldeia natal era dolorosa e alimentava os caudais de “lágrimas de Portugal” vivificadoras da nossa ancestral Saudade, umbilicada na Mãe.

O Douro desses tempos era, ainda mais do que hoje, uma terra madrasta, esganada pelo polvo dos monopólios do vinho.
No fim da vindima e em pleno Inverno, a fome invadia os lares dos trabalhadores, pois a própria natureza decretava que não houvesse trabalho para ninguém antes da escava e da poda para a entrada da primavera.

A miséria da falta de trabalho enxotou para a cidade Manuel e muitos outros.
A princípio, o seu instinto rural, desprovido das artes e manhas de ‘rato da cidade’ não lhe garantia quaisquer hipóteses de sobrevivência e  facilmente era engolido na voracidade das ruas.
Mas, gradualmente e quase por acaso, caíram-lhe nas costas as novas responsabilidades de um filho feito numa hora solitária: e teve de ir assumindo novos instintos.
Eliminou desde logo qualquer intenção de trazer o seu filho para a Terra sem Futuro para quem não herdou um par de cepas e apenas uma enxada sentimental e ingénua.
E, de entre espantos vários, começou a destacar-se algo de profético:
A libertação do seu filho estava na Escola da Cidade, infinitamente mais valiosa do que a Caridade, dependente e acomodada.

Quando, já formado, o filho vai recordar as raízes e pára na taberna da terra, encontra ainda alguns velhos conhecidos do pai.
E repete-lhes, invariavelmente:
– Quando nesta terra existir uma Escola, haveis de presenciar um milagre: nunca mais haverá senhores nem escravos – nem morgados de Santa Quitéria nem Manuéis do Mundo como o meu Pai!» Introdução

Disponível na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... | Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila Rial...
[também disponível do autor os seguintes títulos: “O Homem do Douro nos contos de João de Araújo Correia”; “Canções para todas as Escolas” – exemplares esgotados na editora, “Grande Cancioneiro do Alto Douro” Volume I – Cantigas da Vinha (600 músicas e letras) com um estudo prévio, Volume II – Tunas Rurais, Natal – Reis – Embalar, Rimances, Cantares Religiosos, Cantares do Trabalho, Cantares ao Desafio, Volume III – Os Cantares em Contexto – histórico, literário, musical, europeu”; “Cancioneiro Ancestral Barrosão” com Padre António L. Fontes; “Rimanceiro do Alto Douro – 110 rimances com um estudo introdutório”, “A Magna Carta da História do Vinho do Porto – a escritura de Cister (1142)”, “Do Vinho de Missa de Cister ao Vinho do Porto – a ‘magna karta’ de 1132”, “Os Bobos Durienses de D. Sancho I e o início do Teatro Português”, “Poesia Tradicional Duriense – com D. Sancho I, o Primeiro Trovador”, “Leonardus, o Profeta – Canções e Histórias da Pátria Antiga”]

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