“Timor – as rugas
da beleza” António José Borges
"… Este livro
é um documento com foral de liberdade. O autor António José Borges, assume-se
aqui como uma voz diferente de tantas outras, onde a inquietação humanista nunca
se desprende dos valores literários.
A dificuldade das rugas é manter a beleza dos traços com que se escreve o tempo e é com esses traços, que o cronista desenha estes esquissos dessa terra onde o sol nasce a sorrir."
José Braga – Amaral
A dificuldade das rugas é manter a beleza dos traços com que se escreve o tempo e é com esses traços, que o cronista desenha estes esquissos dessa terra onde o sol nasce a sorrir."
José Braga – Amaral
«Timor com rugas...
Dili, 4 e meia da
tarde deste dia conturbado que começa com a recomendação da Embaixada
Portuguesa para a restrição de circulação; os professores não iriam dar aulas
hoje, o hall do Hotel Timor povoa-se de gente que circula, sem saber bem o que
fazer. Com uma reunião no Palácio do Governo às 9 da manhã, hesito em fazer a
pé o percurso habitual, tomo um táxi, apenas um minuto e meio, por 1 dólar.
Recebo convite do Instituto Camões para a apresentação, na Fundação Oriente, do
livro (1) do Tozé Borges, professor de literatura portuguesa na Universidade de
Timor Lorosae. É precisamente ao título da sua obra que “roubo” a ideia para o
nome desta crónica, segundo o autor uma homenagem aos velhos de Timor-Leste que
perpetuam o mundo imaginário do Bei Lafaek (o ”Avó Crocodilo”); serão eles,
cada um desses velhos, uma autêntica “biblioteca itinerante” (2), de onde se
“soltam palavras silenciosas” (3).
Aproveitam-se os momentos de convívio, após a apresentação do livro do Tozé; a
Mara (do Instituto Camões) faz as honras da casa emprestada, o ar condicionado
avariado, as bebidas bem quentinhas, mas com todo o mundo bem disposto, bebendo
o fim de tarde chuvoso e quente, com montes de soldados nas ruas.
A provar, se necessário fora, que este mundo é mesmo pequeno, o prazer imenso de reencontrar um colega de curso da FEUP; uma conversa técnica sobre energias renováveis e, ao fim de alguns minutos descubro o Cordeiro, não nos cruzávamos desde o já longínquo ano de 75, marca no tempo do final de curso para ambos.
Falo
ainda sobre o que me trouxe por cá, apenas para dizer que o dia de hoje
transportará toda a carga emotiva da satisfação do chamado dever cumprido. Após
uma longa reunião que vai quase até às 2 da tarde, conseguimos delinear o
Projecto de construção do Centro Comunitário de Educação e Formação de Bidau
Massau, mais um Centro Internet e ainda um pequeno Parque de Jogos. Os dados
estão agora lançados, acertam-se os orçamentos, discutem-se os pormenores do
início das construções, do envio da primeira tranche de dinheiro e claro da
necessidade de apresentação de contas. O que significa esta obra, ou melhor
estas obras, para os timorenses da aldeia, não tem palavras. Nós, do outro
lado, tentamos aprender o significado do que é a cooperação para o desenvolvimento.
Em Timor-Leste, o País das crianças, das mulheres silenciosas (silenciadas?) e
dos velhos que mostram nas suas rugas toda a beleza deste Oriente com uma
claridade imensa, apesar da sombra dos dislates dos últimos dias.A provar, se necessário fora, que este mundo é mesmo pequeno, o prazer imenso de reencontrar um colega de curso da FEUP; uma conversa técnica sobre energias renováveis e, ao fim de alguns minutos descubro o Cordeiro, não nos cruzávamos desde o já longínquo ano de 75, marca no tempo do final de curso para ambos.
Amanhã, espera-se um dia mais claro ainda…
Dili, 5 de Março,
ano 2007
ALF.
ALF.
(1) “Timor, as
Rugas da Beleza”, António José Borges, Garça Editores, Peso Régua, 2006
(2) Referência do autor
(3) Idem, ibidem.
(2) Referência do autor
(3) Idem, ibidem.
António José
Borges nasceu no Peso da Régua. Vive em Lisboa. É licenciado em Ensino de
Português e Alemão, estudou por um breve período na Ruhr Universität
Bochum, na Alemanha, e é mestre em Ensino da Língua e Literatura Portuguesas.
Foi Professor na Universidade Nacional Timor Lorosa’e e na Escola Alemã de
Lisboa. Fez traduções de Inglês e Alemão para várias editoras e organizações e
é ocasionalmente revisor e consultor editorial da Porto Editora. É associado da
Associação Portuguesa de Escritores e da Sociedade da Língua Portuguesa, membro
da direcção do Movimento Internacional Lusófono, presidente da Assembleia-Geral
da Associação de Apoio à Diocese de Baucau (Timor-Leste) e faz parte da
Tertúlia de João de Araújo Correia. Integra o Conselho de Direcção da revista
Nova Águia, onde colabora com publicações, e é cronista permanente nas
revistas Tribuna Douro e Contrabando (edição multilingue).
Participou nas revistas Navegações; Espacio / Espaço Escrito –
Revista de literatura en dos lenguas; O
Escritor; Mealibra;Humanitas; Revista de Letras; Douro – Estudos
e Documentos; Geia(Tertúlia de João de Araújo Correia); Terra Feita
Voz (Círculo Cultural Miguel Torga) e DiVersos. Como contista,
publicou no jornal timorense Semanário e na antologia Olhares
Convergentes. Colaborou na antologia de textos durienses Palavras que o
Douro tece e no In Memoriam de João de Araújo Correia (Grémio
Literário Vila-Realense). É autor dos livros Timor – As Rugas da
Beleza (crónicas, 2006) e de olhos lavados / ho matan
moos (poesia – edição bilingue e ilustrada, 2009).
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