“Noente Paradise”
poemas e canções de Ugia Pedreira
Quem busque um
poemário encontrará se calhar um livro de canções. Se buscas canções tal vez te
surpreendas lendo um poemário ou um manual de baile. Noente Paradise é
um híbrido. Ugia Pedreira atirou ao público, desde antes dos remotos tempos de
Chouteira, voz e olhadas, mesmo sinais.
«Agora atira-se ela
sem mediação. Resgata as retóricas que arrouparam músicas eclécticas,
marfulianas, nordestinas ou matraqueiras e acrescenta-lhes cantigas ainda não
musicadas (leia-se poemas à percura de melodias). Ugia despe a palavra e
partilha-se sobre o papel e detrás da câmara. Convida ao seu público e ao que
não é seu nem público, a quem queira abrir os olhos e deixar-se invadir.
O papel muda-se em
mais um espaço directo que o próprio concerto. Sem espaço para a dúvida as
frases falam a uma segunda pessoa que não é outra que tu, não há perda no grupo
que segue a actuação, o eu dirige-se a ti desde a vogal U. Escutamos o rasgar
de vestiduras e cortinados junto do marmúrio e o vento salgado.
As facianas da
autora são múltiplas, tem musicado espectáculos teatrais, dirigido centros de
folque com nomes cambiantes (aCentral), gerido, produzido, ordeado, desenhado.
Hoje tira fora uma outra necessidade em celulosa. Convite para o desordem, o
caos, o movimento sem destino para chegar a algures e recolocar tudo ou
descolocá-lo definitivamente.
Uma viagem polos
mares do norte desde a entranha. Noente está nas praias do interior, segundo se
passa por Cuba e se volta, sempre, a Galiza, à repetição da quotidiania
delirante. O paraíso está no vaivém contínuo da palavra ao som e do som ao
texto.
O material sonoro,
cénico, sensual, visual, táctil pode ser irreverentemente impresso e ser com
todas as suas formas. A víscera ascende pela gorja e alcança o teclado,
atravessa de certo o termo esdrúxulo, e libera a entranha sem sentido por
vontade própria. Diabo, mãe, mulheres valentes, pastores eléctricos e
aspirantes a astronautas desconhecedores do seu destino saem ao passo para
guiar neste paraíso, para que não nos percamos nos carreiros e podamos
encontrar-nos (ou enfrontar-nos) nos mares.
O artefacto livro
desborda a sua função até a esaxeración. Oferecem-nos dançar a ritmo de dadá
creacionista. A dureza conjuga-se com o agarimo. As vezes golpeia, a vezes
estreita numa aperta sinceira. A leitura perde-nos entre o descontrolo e o
autocontrolo, entre o sem-sentido e as verdades como rosários: Punk?s not dead!
O antijogo sem regras aparentes prodiga despropósitos e imagens encontradas e
impossíveis. Fecharemos portas e abriremos janelas e balcons para ler, escutar,
olhar, apalpar?»
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