“O
Lodo e as Estrelas / L Lhodo i Las Streilhas” de Telmo Ferraz, traduçion pa l mirandês
Fracisco Niebro
O Lodo e as Estrelas, inicialmente publicado em 1960, é
agora reeditado, em co-edição com a Câmara Municipal de Miranda do Douro, numa
versão bilingue, O Lodo e as
Estrelas | L Lhodo i las Streilhas, sendo a tradução para mirandês da autoria de Fracisco Niebro, pseudónimo
de Amadeu Ferreira.
Nas palavras de Amadeu Ferreira, redigidas em
2010, a obra “é um testemunho extraordinário que fala da língua mirandesa, da
maneira como os barragistas faziam troça dos palhantros e da manifestação que os mirandeses,
roubados no que era seu, fizeram em Vila Chã a gritar Num queremos acá la Barraige.”
Na contracapa do livro pode ler-se o seguinte
texto, em português e mirandês, da autoria do Sr. Presidente do Município de
Miranda do Douro, Dr. Artur Nunes:
“Falar de barragens é pensar em recursos energéticos mas o
fundamental é…. o Homem. O homem pensou, projectou, trabalhou, fez obra e
desenvolveu uma região, seu nome Miranda do Douro.
Ler este livro deixa em mim dois registos: a dedicação do Padre
Telmo Ferraz, ao descrever os “desfados” da vida e os registos reais dos que
aqui viveram e trabalharam.
Saliento o contributo do saudoso Amadeu Ferreira na tradução desta
obra para língua mirandesa. Ele acreditou neste projecto. Uma palavra de
gratidão a todos os que contribuíram para que estas estórias reais não sejam
esquecidas.
Obrigado Padre Telmo Ferraz
Obrigado Amadeu Ferreira!
Falar de barraiges ye pensar an recursos einergéticos mas l
eissencial ye….l Home. L home pensou, porjetou, trabalhou, fizo obra i zambuolbiu
ua region, de sou nome Miranda de l Douro.
Ler este lhibro deixa an mi dous registros: la dedicaçon de Padre
Telmo Ferraz, al çcrebir ls “çfados” de la bida i ls registros berdadeiros de
ls que eiqui bibírun i trabalhórun.
Çtaco l cuntributo, cun soudade, de Amadeu Ferreira que fizo la
traduçon deste lhibro para lhéngua mirandesa. El tubo fé ne l porjeto. Ua
palabra de bien haia a todos ls que fazírun cun que estas cuontas berdadeiras
nun seian squecidas.
Bien haia Padre Telmo Ferraz!
Bien haia Amadeu Ferreira!”
José Telmo Ferraz é padre e nascido (25.11.1925) em Bruçó,
concelho de Mogadouro. Foi pároco na freguesia de Genísio (1951-1953) e depois
nas de Vila Chã e Picote (1953-1956), ao tempo em que começava a ser construída
uma barragem, passando depois para Miranda do Douro (1956) quando também aí
começaram a construir a barragem. Depois seguiu para Angola (1959), quando
começa a ser construída a barragem de Cambambe, voltando a Portugal depois de
terminada a obra (Natal de 1962). Passado pouco tempo volta a Angola (1963), já
na obra da Casa do Gaiato, criando a Casa de Malange, onde se mantém até 1975.
Em 1980 é eleito principal responsável da Casa do Gaiato, voltando a Portugal e
continuando a dar o seu trabalho à mesma obra. Pela construção da barragem,
Picote e as terras em volta converteram-se na meca de todos os deserdados e
desprotegidos na procura de trabalho, sem família, sem abrigo, sem dinheiro,
sem roupa, cansados das distâncias e os longos caminhos percorridos. A todos o
padre Telmo recebeu e ajudou, incentivando-os a conseguir o seu abrigo e
ajudando-os a encontrar trabalho. Em Miranda do Douro continuou o mesmo
trabalho. Desse período vem o seu livro de poemas O Lodo e as Estrelas (1960, edição de autor), onde
mostra as marcas que lhe deixou na alma tudo o que se passava ao seu redor. O
livro foi retirado do mercado pela censura do regime de Salazar. Foi publicada
uma 2.ª edição em 1975 e uma 3.ª em 1985, pela Casa do Gaiato. Nunca deixou de
escrever poemas, no jornal O
Gaiato, sempre com a mesma sensibilidade e beleza.
Fracisco Niebro é um dos pseudónimos de Amadeu Ferreira
(1950-2015). Foi presidente da ALCM (Associaçon de la Lhéngua i Cultura
Mirandesa) e da Academia de Letras de Trás-os-Montes, vice-presidente da CMVM
(Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e professor convidado da Faculdade
de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Autor e tradutor de uma vasta obra
em português e em mirandês, também sob os pseudónimos Marcus Miranda e Fonso
Roixo, traduziu Mensagem,
de Fernando Pessoa, obras de Horácio, Virgílio e Catulo, Os Quatro Evangelhos e duas aventuras de Astérix. Na
Âncora Editora publicou as traduções para a língua mirandesa de Os Lusíadas, de Luís Vaz de
Camões, e uma edição comemorativa dos 25 anos da adaptação daquela obra para
banda desenhada por José Ruy, com quem também colaborou no álbum Mirandês –
História de uma Língua e de um Povo, e correspondente versão em mirandês. É
autor de La Bouba de la
Tenerie/Tempo de Fogo, primeiro romance publicado simultaneamente em
mirandês e português, e das obras Norteando,
com fotografias de Luís Borges, Ars
Vivendi Ars Moriendi (poesia), Lhéngua Mirandesa – Manifesto an
Modo de Hino/Língua Mirandesa – Manifesto em Forma de Hino, Ditos Dezideiros – Provérbios
Mirandeses e Belheç/Velhice. As obras L’Eiternidade de las Yerbas/A
Eternidade das Ervas [Poemas (e)scolhidos], com aguarelas de Manuol
Bandarra, e O Fio das
Lembranças – Biografia de Amadeu Ferreira, de Teresa Martins Marques, foram
apresentados postumamente.
Disponível
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila
Real...
[também disponível
os seguintes títulos an mirandés - alguns bilingues: “Ls Lusíadas” de Luís Vaz
de Camões, “L Mais Alto Cantar de Salomon” bersion de Fracisco Niebro, “Mirandés
– Stória dua lhéngua i dun pobo” e “Ls Lusíadas” banda zenhada José Ruy,
“Calantriç de Nineç” de Rapç de la Rue, “La Mona L Maio” José Francisco João
Fernandes, “Tra-los-Montes” de Nuno Neves, “L Pastor Que Se Metiu de Marineiro”
de Faustino Antão; “Bózios, Retombos i Siléncios / Gritos, Ecos e Silêncios” de
Adelaide Monteiro; “L Segredo de Peinha Campana” texto Fracisco Niebro
dezeinhos Sara Cangueiro, “La Bouba de La Tenerie” e “Ars Vivendim Ars
Mortendi” de Fracisco Niebro; “La Mona l Maio – Cuontas de la Raia i de l
Praino | A Mona de Maio – Contos da Raia e do Planalto” de José Francisco João
Fernandes, traduçon / tradução Alcides Meirinhos, eilhustraçones / ilustrações
Ana Afonso; “A Terra de Duas Línguas –
II – Antologia de Autores Transmontanos” coordenação: Ernesto Rodrigues e
Amadeu Ferreira]