“A Mulher Que
Venceu Don Juan” de Teresa Martins Marques
– Mas, então, se
não é da Pampilhosa, de onde é?
– De Vila Real.
– O quê? É
transmontana? – Luís fez um sorriso de orelha a orelha.
– Sou, mas porquê?
– pergunta ela, não percebendo a razão de tamanho júbilo.
– Porque eu também
sou transmontano. De Torre de Moncorvo.
– Não me diga!
Tenho lá um primo de meus pais.
– Quem?
– O António
Monteiro.
– O Monteiro? O
engenheiro agrónomo, presidente da Cegtad?
– Sim, é
engenheiro, o resto é que já não sei…
– Ah, mas sei eu. É
um amigo de peito.
– E o que é isso da
Cegtad?
– Confraria de
Enófilos e Gastrónomos de Trás-os-Montes e Alto Douro.
– Nunca ouvi falar
dela aos meus pais.
– Não é do tempo
dos seus pais. Foi fundada há dezassete anos, em 1995.
− E tenho lá também
um parente numa aldeia com um nome muito engraçado − Peredo dos Castelhanos. É
um jornalista muito conhecido que vive em Lisboa.
− Não me diga
que é o Rogério Rodrigues!
− Esse mesmo.
− Um grande senhor
do jornalismo, o Rogério.
− E também poeta e
dos melhores. − Mas isto são muitas surpresas para um só dia! Havemos de ir
jantar com o Rogério ao Solar dos Presuntos.
Sinopse: A Mulher que Venceu Don Juan inclui
no entrecho ficcional três personagens de fundo donjuanesco. Amaro Fróis, cirurgião
plástico, procura nas mulheres a vingança de um passado tenebroso;
Manaças, serial lover, recalca
uma pulsão proibida; Joana colecciona os namorados das amigas.
Os três serão
vencidos: o primeiro por uma mulher que subestimou; o segundo pelo verdadeiro
objecto do desejo recalcado; a terceira por uma presidiária, cujo companheiro
seduziu. A protagonista, Sara Dornelas, escapa à morte e encontra o amor,
realizando, pelo estudo, um sonho antigo. Dois seres de eleição, a psicóloga
Lúcia e Paulo, comissário da polícia, assumem um papel decisivo no
desmantelamento de uma rede tentacular e no castigo dos criminosos, unidos por
ignorados laços de sangue.
Travejada por
diálogos vivos, ora dramáticos ora humorísticos, a acção decorre em múltiplos
lugares, potenciando o efeito de real pela intrusão de figuras verídicas que
interagem com as personagens ficcionais. Entretanto, Manuela, jovem doutoranda,
prima de Doña Juana, prepara em Copenhaga, e defende com sucesso, uma tese
sobre o Diário do Sedutor de Kierkegaard, duplicando, no plano
teórico, os meandros do desejo, no plano da acção, e gerando uma atmosfera
de suspense até ao último
fio da intriga romanesca.
Teresa Martins
Marques é doutorada em Literatura e Cultura Portuguesas, pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa. Actualmente, investigadora no CLEPUL e, entre
1992-1995, no Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia das Ciências
de Lisboa.
Dirigiu a equipa de
organização do Espólio Literário de David Mourão-Ferreira (Fundação Calouste Gulbenkian
/ Ministério da Educação, entre 1997-2004). Dirigiu e prefaciou a Edição das Obras Completas (13
volumes) de José Rodrigues Miguéis (Círculo de Leitores, 1994-1996).
Publicações de
ensaio: colaboração em três dezenas de volumes colectivos.
Livros: Si On Parle du Silence de la Mer (1985); O Eu em Régio: A Dicotomia de Logos e
Eros (Prémio de Ensaio José Régio -1989), 1.ª ed. 1993; 2.ª ed.
1994; O Imaginário de Lisboa
na Ficção Narrativa de José Rodrigues Miguéis – 1.ª ed. 1994; 3.ª
ed. 1997; Leituras
Poliédricas (estudos sobre
Cesário Verde, Gomes Leal, Raul Brandão, J. Régio, José R. Miguéis, V. Nemésio,
Eugénio Lisboa et alii) – 2002; Clave
de Sol – Chave de Sombra. Memória e Inquietude em
David Mourão-Ferreira (2011); Ficção: Carioca de Café (conto) – 2009; A Mulher que Venceu Don Juan – primeiro romance-folhetim
português publicado no Facebook (2012- 2013), sendo a presente uma nova versão,
revista e aumentada.
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«Chegado ao fim
este excelente romance, não temos dúvidas em dizer qual foi A Mulher que
Venceu Don Juan: Teresa Martins Marques.
Não falhou uma
única semana e foi tendo um diálogo com os cada vez mais numerosos e
entusiasmados leitores, ouvindo-os, ‘provocando-os’, estimulando-os e
deixando-se envolver de modo muito próximo; e venceu o preconceito do FB
mostrando como este meio de divulgação pode ser excelentemente aproveitado.
Encheu o folhetim
com excesso de realidade, não por ter lá colocado o nome de muitos leitores,
entre os quais me incluo, não; o excesso de realidade consiste em ter
enfrentado problemas que são cancros de hoje, como a violência, quer doméstica
[com a divulgação da APAV e do seu trabalho] quer de uma sociedade que muito
assenta no sofrimento infligido aos mais fracos sob diversas formas; o excesso
de realidade mostrando como o crime mais hediondo não escolhe classes, antes se
acoita entre psicopatas que podem ocupar o expoente da nossa sociedade; o
excesso de realidade de que existe uma sociedade solidária, que não desiste,
que não cede às maiores dificuldades, que persiste muitas vezes para além do
suportável e encarnando em pessoas que só na aparência são fracas; o excesso de
realidade de que o amor é tão vário que pode exigir a separação quando do
convívio só resulta dor; o excesso de realidade de que o donjuanismo é afinal a
camuflagem do seu contrário, que se reprime.
Tudo isto foi
servido numa linguagem simples e rigorosa, com grande respeito pelos leitores,
na imensa cultura em que assenta, num ritmo que prendeu ao longo de muitas
semanas, sem medo de apresentar reflexões profundas e originais sobre diversos
temas sem nunca ser cansativa, em particular sobre Kierkegaard, e com muito
humor à mistura. Não posso deixar de dizer algo que me é muito querido: é um
folhetim que trata o mirandês com o respeito devido a uma língua milenar e ao
povo que a fala, que o divulga e dá a conhecer, o que é a primeira vez que
acontece numa obra literária.» Amadeu Ferreira [Comentário no Facebook]
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