«O impacto do
conjunto das cartas recebidas por Miguel Torga resulta da amplitude do seu arco
temporal, que abarca um período de sessenta e quatro anos (de
Encontramos cartas assinadas por Fernando Pessoa, Raul Leal, Cecília Meireles,
Manuel Bandeira, Jorge Amado, Teixeira de Pascoaes, Hernâni Cidade, Óscar
Lopes, Maria Archer, Adolfo Casais Monteiro, Vitorino Nemésio, Sophia de Mello
Breyner Andresen, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, Ruben A., Urbano Tavares
Rodrigues, António Barreto, Mário Soares, Fernando Piteira Santos, Jack Lang e
Gonzalo Torrente Ballester, entre muitos outros.» (da introdução de Carlos
Mendes de Sousa)
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«As cartas agora
publicadas, datadas entre 1930 e 1994, são dirigidas a Miguel Torga (1907-1995)
e os remetentes são de várias personalidades, da literatura à diplomacia, como
Teixeira Pascoaes, Natália Correia, Óscar Lopes, Gonzalo Torrente Ballester,
Ribeiro Couto ou Jack Lang, antigo ministro francês da Cultura.
A lista de cerca de cem remetentes inclui nomes como Mário Soares, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Gonçalves de Oliveira, Ilse Losa, Adolfo Casaes Monteiro, António Ramos Rosa, David Mourão-Ferreira e Alves Redol, entre outros.
Mendes Sousa reconhece que leitura da correspondência "ressente-se da ausência das cartas de Torga", mas afirma-se esperançoso de que, "no futuro", seja editado "um volume que reúna as cartas" de Torga, que "complementará (e iluminará) a leitura desta correspondência" agora trazida a público, com a chancela das Publicações D. Quixote.
O organizador da obra destaca, entre outros pormenores, "os modos muito diversos como os emissores se dirigem ao escritor", alguns "dando conta de um distanciamento que parece decorrer de certa imagem construída à volta de Torga".
A escritora Agustina Bessa-Luís, no seu primeiro contacto por escrito com Miguel Torga, "começa a carta de uma forma abrupta". A escritora dirigiu-se a Torga, sentida por este não se ter referido ao seu romance de estreia "Mundo Fechado" (1948).
"Agustina alude,
com inusitada afoiteza, ao 4.º volume do 'Diário' de Torga, onde esperava
encontrar uma nota sobre o seu livro".
A dado passo
escreveu Agustina: "Então a morte do pai do abade de Loureiro
mereceu-lhe uma página do seu diário. A morte, o enterro, a paisagem, o amigo
caçador podem render meia dúzia de frases para a posteridade. Uma criaturinha
que escreve qualquer coisa e lhe pede duas palavras de crítica não vale nada
com certeza", escreveu a autora de "A Brusca", quando dava os
primeiros passos nas letras, e que aconselhava Torga a afastar-se
das tertúlias citadinas que frequentava e, dizia, lhe faziam perder
tempo.
Entre as formas como se dirigem a Torga, Mendes Sousa afirma que as cartas de início da década de 1930, de Fernando Pessoa, Raul Leal e António Sérgio "refletem convencionalismo formal de quem se dirige ao escritor emergente".
No final desta
década, os amigos do grupo de Coimbra, como Vitorino Nemésio, Martins de
Carvalho, Paulo Quintela ou Menéres Campos, dirigem-se-lhe
como "meu caro Rocha" - Miguel Torga é o pseudónimo escolhido, em
1934, pelo médico Adolfo Rocha -- ou por "tu".
A escritora
Maria Ondina Braga, por exemplo, escreveu, em 1962, "Desculpe
não começar como é uso nas cartas. A verdade é que não sei fazê-lo para
quem me desconhece de tudo -- Senhor Doutor? -- Distinto Escritor? --
Apetece-me antes dizer: Meu amigo".
O diplomata e poeta
brasileiro Ribeiro Couto dirige-se-lhe às vezes como "Miguelão" ou
"Torguinha" e, numa carta, alude à sua condição de poeta
e otorrinolaringologista em Coimbra:
"Poeto-rino-conímbrico-carmónicologista".
O facto de residir em Coimbra, afastado da irradiação cultural, é salientado, em 1950, por Eduardo Lourenço, numa carta em que lhe agradece a receção de um livro seu: "Os lisboetas vão queimá-lo em esfíge ou então ignorá-lo 'lisboetamente'".
Carlos Mendes Sousa assinala ainda "um conjunto de cartas que dão conta de um intenso convívio intelectual e que se destacam pela amizade, generosidade, beleza e frontalidade das palavras que contêm": as missivas de Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade e Eduardo Lourenço.
Miguel Torga -- Adolfo Correia da Rocha -- nasceu em 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, na região de Trás-os-Montes, e morreu em Coimbra, há 25 anos, em 17 de janeiro de 1995.» [Diário de Notícias]
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