“Frentes de Fogo”
de A. M. Pires Cabral
«Intensificando um
tom elegíaco que começou em Como se Bosch Tivesse
Enlouquecido (2003), o novo livro de A.M. Pires Cabral relembra coisas
esquecidas, coisas extintas, coisas que mais valera não relembrar, porque
aconteceram há muitas décadas e agora é tarde. Que memórias são essas? São
casas, árvores, raparigas, imagens que passaram em tempos pela retina de uns
´olhos com que vimos tanta coisa´.
Mais pessimista do que o pessimista Pessanha, Pires Cabral medita melancolicamente sobre a idade, ´telescópio de limitado alcance´ que muito acumula e pouco ensina, ´inútil idade´. De que servem os versos, o que dizer aos filhos, que Deus é esse que já não se manifesta, que sentido tem tudo isto? O concreto torna-se então alegórico, o tempo é uma casa alugada, as árvores que julgámos imortais foram abatidas, as formigas mostram que ´todo o comestível é um destino idóneo´. Job às avessas, incapaz de aceitar com resignação o inevitável, atormentado por uma insistente visita, o mofino Mister P, o poeta não entra docemente em noites escuras. Por mais que tenha de ´varrer a eira´ ou ´meter a viola no saco´, este sujeito inconformado e sarcástico não vai às boas. Faz má cara, deita a língua de fora, toca um requiem mas sob protesto.»
Viola no saco
Mil luzes acendi — e a radiosa
escuridão prevaleceu intacta.
Mil palavras disse — e o silêncio
reboou nas longas arcadas sombrias.
Mil passadas dei — e o que estava longe
não ficou um milímetro mais perto.
... ... ... ... ... ...
Conclusão: é tempo de meter, meu caro,
a viola no saco.
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[também disponível
do autor os seguintes títulos: “A Loba e o Rouxinol”, “O Cónego” (romance); “O
Diabo Veio Ao Enterro”, “O Porco de Erimanto”, “Os Anjos Nús”, "A Navalha
de Palaçoulo", “Singularidades” (contos); “Como Se Boch Tivesse
Enlouquecido”, O Livro dos Lugares e outros Poemas”, “Que Comboio É Este”,
“Arado”, “Antes Que O Rio Seque”, “Cobra-D’Água”, “Gaveta do Fundo”, “A Noite
Em Que A Noite Ardeu”, “Trade Mark” (poesia); “Por Esta Terra Adentro –
Páginas Transmontanas”; “Trocas e Baldrocas ou com a natureza não se brinca”
com ilustrações de Paulo Araújo (infanto-juvenil); “Língua Charra –
Regionalismos de Trás-os-Montes e Alto Douro” Volume I – A-E, 568 p. e Volume
II – F-Z, 606 p.; “Páginas de Caça na Literatura de Trás-os-Montes” (selecção
de textos e organização, antologia); “Aqui e Agora Assumir o Nordeste”
(antologia) selecção e organização de Isabel Alves e Hercília Agarez; “As Águas
do Douro” coordenação Gaspar Martins Pereira; “Telhados de Vidro” n.º 3, n.º 6,
n.º 9, n.º 11, n.º 18, n.º 20, n.º 21; “Guerra Junqueiro: A Musa Dual”
(antologia) introdução, selecção de textos e organização de A.M. Pires Cabral]
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