“Alma Tua” texto
Miguel Gomes fotografia Norberto Valério
«Sentado debaixo de
um telhado invisível, pálida lembrança de um passado demasiado perto do olhar,
mas profundamente longínquo de um futuro por percorrer, olhava para o céu como
quem lia nuvens e tacteava o horizonte como quem escrevia dias. O caderno caía
várias vezes, tombava como o prelúdio anunciador da noite quando as mãos que
sustentam o dia se erguem às memórias. E memórias eram o que lhe bailava no
olhar, frequentemente húmidas pelo orvalho que o inexistente coberto não
conseguia desviar. Quem visse, com olhos de perscrutar, aquela figura abandonada
por si mesma não saberia outro nome que lhe chamar além de Tralhão.»
Tralhão, personagem fictícia, mas não menos real, vive num apeadeiro de uma linha férrea que lhe corre no destino e, talvez por isso, de lá nunca se conseguiu apear.
Sem viajar, recolhia dos olhares dos passageiros das composições que por lá passavam as paisagens de limites que ele nunca cruzou, terras que nunca viu nascer sob o horizonte e, assim, trocava as letras que escrevia pelos mundos que lia nos viajantes.
Tralhão, personagem fictícia, mas não menos real, vive num apeadeiro de uma linha férrea que lhe corre no destino e, talvez por isso, de lá nunca se conseguiu apear.
Sem viajar, recolhia dos olhares dos passageiros das composições que por lá passavam as paisagens de limites que ele nunca cruzou, terras que nunca viu nascer sob o horizonte e, assim, trocava as letras que escrevia pelos mundos que lia nos viajantes.
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Ao longo de
sensivelmente 10 anos, percorremos a região do vale do Tua, um rio e uma linha
ferroviária centenária cujo traçado mais emblemático está agora submerso.
Conversámos com as
pessoas e com o silêncio, registámos o passado e entrevistámos o futuro ao longo
das páginas que compõem o presente livro.
Tivemos a
oportunidade de divulgar este trabalho em quase duas dezenas de exposições.
Motivados pelos visitantes que nos impeliam a publicar, embarcámos na aventura
e ei-la, ei-lo!, nas livrarias [Miguel Gomes, Birdmagazine]
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Miguel Gomes
Com poucos anos de encadernação descobriu, em 26 cubos, o expoente para a base da vida.
Travou batalhas nas trincheiras tecnológicas (informática, gestão de produção, automação industrial), com pacíficas incursões nos campos da formação e ensino onde colheu nos olhos doutros o encontro das vozes com o silêncio.
Remete para o papel um peculiar modo de tentar compreender as equações da vida.
Trás-os-Montes, letra que resume todas as palavras dos Mundos, local perdido onde convergem os que procuram perder-se. Comboio é o soletrado imaginário dum vidro embaciado, umas côdeas duras e um pano branco nas mãos rugosas de quem não se lê.
O Tua é Alma, nua, como quem vive montando vidas nas melodias que resistem. É silêncio e lágrima. É vale e rio onde se formam as palavras que se apagam ao vazio.
Norberto Valério
Nasceu em Trás-os-Montes, por altura dos cravos de abril. Dedica-se ao ensino e ao melhor do mundo: as crianças.
A fotografia, escrever com luz, mais do que captar imagens, tem sido uma forma de expressão e exteriorização de sentimentos.
Fotografar Trás-os-Montes surgiu do anseio de colmatar uma dívida para com a região. Tão bela e ainda tão pouco retratada.
O comboio, desde pequeno que lhe preenchia o imaginário, lá de onde o avistava, no alto da colina, entre as oliveiras em fruto.
Construía e imaginava histórias com aquelas simples silhuetas, vidas que iam e vinham, ali ao fundo do outro lado do rio, junto à estação.
O vale do Tua foi um abraço, a tudo o que de melhor têm e representam as suas paisagens.
Com poucos anos de encadernação descobriu, em 26 cubos, o expoente para a base da vida.
Travou batalhas nas trincheiras tecnológicas (informática, gestão de produção, automação industrial), com pacíficas incursões nos campos da formação e ensino onde colheu nos olhos doutros o encontro das vozes com o silêncio.
Remete para o papel um peculiar modo de tentar compreender as equações da vida.
Trás-os-Montes, letra que resume todas as palavras dos Mundos, local perdido onde convergem os que procuram perder-se. Comboio é o soletrado imaginário dum vidro embaciado, umas côdeas duras e um pano branco nas mãos rugosas de quem não se lê.
O Tua é Alma, nua, como quem vive montando vidas nas melodias que resistem. É silêncio e lágrima. É vale e rio onde se formam as palavras que se apagam ao vazio.
Norberto Valério
Nasceu em Trás-os-Montes, por altura dos cravos de abril. Dedica-se ao ensino e ao melhor do mundo: as crianças.
A fotografia, escrever com luz, mais do que captar imagens, tem sido uma forma de expressão e exteriorização de sentimentos.
Fotografar Trás-os-Montes surgiu do anseio de colmatar uma dívida para com a região. Tão bela e ainda tão pouco retratada.
O comboio, desde pequeno que lhe preenchia o imaginário, lá de onde o avistava, no alto da colina, entre as oliveiras em fruto.
Construía e imaginava histórias com aquelas simples silhuetas, vidas que iam e vinham, ali ao fundo do outro lado do rio, junto à estação.
O vale do Tua foi um abraço, a tudo o que de melhor têm e representam as suas paisagens.
Disponível na
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro em Vila Real... |
Traga-Mundos – lhibros i binos, cousas i lhoisas de l Douro an Bila
Rial...
[também disponível os
seguintes títulos: “Tua – Retratos Ribeirinhos” de Nuno Farinha; "A Linha
do Tua" e “Sabor – Mamoré, viagem de comboio sobre o mar” Duarte Belo; “A
Linha do Tua (1851 – 2008)” de Hugo Silveira Pereira; “A Linha do Vale do Sabor
– um caminho-de-ferro raiano do Pocinho a Zamora” coordenação Carlos d’Abreu;
“Côa: o rio que nos une” catálogo da exposição fotográfica de Jorge Abreu Vale]
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