Retrato António
Alberto Alves
A vida antes da
Traga Mundos
António Alves,
nascido em Loureço Marques (atual Maputo) [Moçambique], é conhecido como o
proprietário da livraria Traga Mundos e como alguém que gosta de partilhar as
suas paixões. De entre elas destaca-se o voluntariado durante cinco anos na
Guiné-Bissau. Tudo começou quando o livreiro decidiu ir fazer o seu
doutoramento para a Alemanha. Uma vez lá, após não ter obtido uma bolsa, abriu
uma pequena loja em que, entre outras coisas, promovia o voluntariado por ser
uma área de que, até na atualidade, gosta e da qual tem uma definição própria.
“O voluntariado, para mim, não é trabalhar de forma gratuita, é um projeto que
permite ajudar as pessoas a perceberem se encontraram a área certa na sua
carreira profissional”, explicou.
Informou-se
relativamente a essa “área mágica”, como lhe chama, e aí descobriu uma das suas
vertentes: a cooperação, um mecanismo voluntário através do qual os voluntários
são incluídos num quadro estruturado para utilizar os seus conhecimentos com o
objetivo de a criar e aplicar projetos que correspondam às necessidades das
organizações parceiras.
António Alves
candidatou-se e, uns tempos depois, foi para Guiné Bissau onde, segundo ele,
viveu uma experiência que lhe mostrou a vida sob outro ângulo.
Tendo-se fixado no
norte, sem eletricidade, implementou um, projeto de gestão e administração
escolar, nas escolas públicas de iniciativa comunitária, que visava a criação
de um regulamento interno.
Mais tarde, no
âmbito da promoção da língua portuguesa, criou um programa na rádio comunitária
“Uler a baand” (A hora chega) em conjunto com um amigo [guineense] professor de
português. “Havia uma rádio comunitária de que eu gostava muito. Eu costumava
ir lá para carregar o telemóvel, porque um dos únicos sítios em que havia
eletricidade, e, no âmbito da promoção da língua portuguesa, surgiu a ideia de
criar um programa de rádio”, contou, acrescentando que “lá a rádio comunitária
tinha uma função enorme porque, como não há eletricidade, as rádios são a coisa
mais ouvida. São criadas ‘bancadas’ onde as quotas servem para pagar o rádio e
a pilha”.
O projeto piloto
avançou com uma programação preparada para meia hora em horário nobre, pois os
dois locutores só podiam lançar o programa à noite, uma vez que, devido aos
equipamentos reduzidos, teria de ser feito em direto. “Ao outro dia, após uma
reunião, fui ao encontro do Marcolino [Elias Vasconcelos] e, quanto passeava
pela avenida principal, ia-me cruzando com pessoas que me iam dizendo que me
tinham ouvido e que o programa tinha sido fantástico”, explicou António Alves,
mencionando que o feedback foi tão bom que o projeto seguiu, acabando por
formar pessoas para continuar a lançar o programa no ar sem a sua presença.
Uma particularidade
deste programa é o nome: “Andorinha” que surgiu a partir de uma história que o
voluntário contara na sua bancada. “Na minha bancada, havia um alpendre e lá
havia andorinhas. Então, com saudade, comentei que elas vinham de Portugal.
Facto que surpreendeu os guineenses, uma vez que a sua aspiração é emigrar”,
disse. Mais tarde, aquando da escolha do nome do programa, para o qual havia
propostas medonhas como “Lusíadas” ou “Lusofonia”, esta história voltou à
superfície, o que deixou António Alves muito satisfeito.
O nome, tal como o
sucesso do programa, espalhou-se, sendo adotado por várias bancadas que queriam
participar no programa através do telefone. Uma participação tal que já não
havia espaço no programa para todos.
Esta experiência
ficou marcada em António Alves que defende ter ido “para um paraíso sem igual”.
“A maneira de ser das pessoas e a cultura de partilha, fazem
com que os voluntários ganhem mais do que aquilo que dão”, adiantou,
confessando que, “se quiser ser feliz” já sabe para onde vai.
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