sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Resistir é preciso: Alípio de Freitas, Brasil


“Resistir é Preciso – Memória do Tempo da Morte Civil do Brasil” de Alípio de Freitas

É o testemunho de um militante político que sobreviveu à tortura e à prisão, é a denúncia de um tempo em que os falsos pressupostos de uma doutrina, chamada de segurança nacional, se cravaram como garras no corpo social da nação, dilacerando-a bárbara e impunemente.

É a afirmação de que se alguém está disposto a morrer por aquilo em que acredita, pode ser triturado pela máquina do terror, que a sua condição de homem sobrevive, pois todo homem pode manter-se VIVO enquanto resistir.

É um libelo contra a opressão como forma de vida política, contra o silêncio das mordaças, contra todos os processos de aviltamento do homem, contra a corrupção ideológica erigida em serviço da comunidade.

É a constatação de como o arbítrio avilta os homens e as instituições, corrompendo-os pelo abuso do poder, pela falsa certeza da impunidade, pela imposição imoral de uma vontade sem limites, pelo silêncio indigno, pela conivência criminosa, pela omissão filha do medo.

É a memória de um tempo de guerra em que a sociedade civil foi “pacificada” pelo aço das baionetas, em que o silêncio do terror teve de ser aceitado como paz social.

É um depoimento tecido de todos os sentimentos que fazem a urdidura da alma humana. Por isso nele se misturam o ódio, o medo, o desespero, a amargura, a tenacidade, o aviltamento, a fraqueza, o amor, a esperança.

Apesar de narrar uma experiência pessoal, pode ser lido como um pedaço da história de cada um, ou de todos aqueles que, direta ou indiretamente, foram atingidos pela repressão política que se abateu sobre a nação a partir de 1964.



Alípio de Freitas nasceu a 17 de fevereiro de 1929, em Bragança, onde frequentou o seminário. Ordenou-se padre e, na década de 50, foi pároco de Guadramil e Rio de Onor e diretor de uma Escola de Artes e Ofícios.

Parte para o nordeste do Brasil, em 1957, onde leciona História Antiga e Medieval na Universidade de São Luís do Maranhão e é vigário de uma paróquia de subúrbio. Em 1958 ajuda a fundar a Associação dos Trabalhadores Agrícolas do Maranhão e em 1960 junta-se às Ligas Camponesas, de que foi secretário-geral.

Em 1962 participa num comício pelas reformas de base, no Rio de Janeiro, e aceita um convite para estar presente no Congresso Mundial da Paz, na URSS, rompendo, no ano seguinte, com a Igreja. Nesse ano, durante a campanha eleitoral de Miguel Arraes, é sequestrado pelo exército e preso durante 50 dias. Em risco de ser deportado para Portugal, onde também seria preso por participar na receção a Humberto Delgado e em outras atividades políticas contra Salazar, adquire a cidadania brasileira.

Em 1963 é novamente preso, em João Pessoa, no 1.º aniversário da morte do líder camponês João Pedro Teixeira, por causa de um discurso proferido na Universidade da Paraíba. No Rio de Janeiro torna-se secretário-geral da recém-fundada Frente de Mobilização Popular, que congregava grupos de esquerda.

Refugia-se na embaixada do México, aquando do golpe militar em 1964, e exila-se nesse país, seguindo para Cuba, onde recebe treinamento político-militar de guerrilha. 

Em 1966 participa na organização de movimentos guerrilheiros em diversos países da América latina e regressa clandestino ao Brasil, onde integra o movimento armado do partido dos trabalhadores, por ele formado.

Volta a ser preso, em Maio de 1970, onde é sujeito a todas as torturas que denuncia no seu livro Resistir é preciso, publicado em 1981. É libertado em 1979, no dia do seu 50.º aniversário. Sai da prisão apátrida. Em Portugal, Zeca Afonso conta a sua história na canção “Alípio de Freitas” (1976). 

Em 1981 vai para Moçambique trabalhar num projeto agrícola. Regressa a Portugal, em 1984, e torna-se jornalista na RTP. Funda a Casa do Brasil de Lisboa, em 1990. Em 1994 trabalha na Associação Terras Dentro. 

Foi presidente da Associação José Afonso e é membro dos corpos sociais das Associações: Abril; Mares Navegados; e Casa Grande. Participou no “Forum Social Mundial”, em diversos países. Pertence ao Movimento dos Sem Terra (MST) e às Ligas dos Camponeses Pobres (LCP), das quais foi eleito Presidente de Honra.

A Frente Internacionalista do Movimento dos Sem Teto deu o nome “Padre Alípio de Freitas” a uma ocupação urbana, situada em frente às instalações da DOPS, onde esteve preso e foi torturado. 

Foi paraninfo de Gilberto Gil, quando lhe foi atribuído o grau de doutor honoris causae, pela Universidade Lusófona, onde lecionou. Em 1996, o Presidente Jorge Sampaio atribui-lhe a condecoração de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa.

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