quinta-feira, 13 de maio de 2021

da resistência traga_mundos, por Miguel Carvalho


«Uma pandemia nada pode contra uma rede social de carne e osso. No auge do destravado vírus que nos consome, António Alberto Alves, rosto e alma da Traga-Mundos, nome “roubado” a Torga, teve sempre boa vizinhança e fiéis leitores; passou dias a enviar volumes pelo correio ou a deixá-los, à confiança, na mercearia perto, para serem levantados. “Num momento difícil, as pessoas acarinharam-nos e disseram que o livro era, para elas, um bem essencial. Até pensei que, depois da reabertura, ia ser uma festa”, diz o sociólogo nascido em Moçambique. Não foi. Mas esta livraria temática – onde também cabem vinhos, coisas e loisas do Douro e Trás-os-Montes – já conhece a palavra resistência, vivida até ao osso. O espaço é pertença de autores e de literaturas marginais, mas também território de tradições, sabores, objetos e memórias da região, de Vítor Nogueira à aguardente velha, do espantalho ao Seringador. Qual andarilho, e sem esmorecer, António leva a Traga-Mundos, e o seu espírito, a feiras, festas e encontros literários mais a sul ou até mesmo além-fronteiras. E se três mesas do antigo e emblemático Café Excelsior, de Vila Real, ganharam ali segunda vida, é apenas porque o livreiro de Cabêda se tornou um desses raros respigadores que ainda ousam resgatar prosa, poesia e humanidade, e atirá-las às fuças de um tempo descartável» Miguel Carvalho – obrigado!

[Fernando Alves, jornalista e figura de referência da rádio, é um dos amigos mais fiéis da Traga-Mundos, a partir da qual fez vários programas e até já dedicou um dos seus famosos Sinais, como se ali mitigasse uma fome “nunca saciada”.]

revista “Visão” n.º 1471, 13/5/2021



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