«Uma pandemia nada
pode contra uma rede social de carne e osso. No auge do destravado vírus que
nos consome, António Alberto Alves, rosto e alma da Traga-Mundos, nome
“roubado” a Torga, teve sempre boa vizinhança e fiéis leitores; passou dias a
enviar volumes pelo correio ou a deixá-los, à confiança, na mercearia perto,
para serem levantados. “Num momento difícil, as pessoas acarinharam-nos e
disseram que o livro era, para elas, um bem essencial. Até pensei que, depois
da reabertura, ia ser uma festa”, diz o sociólogo nascido em Moçambique. Não
foi. Mas esta livraria temática – onde também cabem vinhos, coisas e loisas do
Douro e Trás-os-Montes – já conhece a palavra resistência, vivida até ao osso.
O espaço é pertença de autores e de literaturas marginais, mas também
território de tradições, sabores, objetos e memórias da região, de Vítor
Nogueira à aguardente velha, do espantalho ao Seringador. Qual
andarilho, e sem esmorecer, António leva a Traga-Mundos, e o seu espírito, a
feiras, festas e encontros literários mais a sul ou até mesmo além-fronteiras.
E se três mesas do antigo e emblemático Café Excelsior, de Vila Real, ganharam
ali segunda vida, é apenas porque o livreiro de Cabêda se tornou um desses
raros respigadores que ainda ousam resgatar prosa, poesia e humanidade, e
atirá-las às fuças de um tempo descartável» Miguel Carvalho – obrigado!
[Fernando Alves, jornalista e figura de referência da rádio, é um dos amigos mais fiéis da Traga-Mundos, a partir da qual fez vários programas e até já dedicou um dos seus famosos Sinais, como se ali mitigasse uma fome “nunca saciada”.]
revista “Visão” n.º
1471, 13/5/2021
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