quinta-feira, 22 de outubro de 2020

sobre Vila Real


 «Há nove anos, António Alves decidiu abrir a livraria Traga-Mundos, um espaço “único” dedicado à leitura e à cultura, que pela primeira vez não abriu num feriado, o 5 de outubro. “Sentimos que não vale o esforço, desistimos”, este foi o desabafo deixado numa publicação nas redes sociais, onde sublinhou ainda que Vila Real é uma cidade que “destrói o seu património, a sua memória edificada – incluindo árvores, que abate ou mutila. É uma cidade que vai perdendo a sua identidade, singularidade, a memória histórica e também um valor turístico”. “Acusámos um pouco o cansaço, por sermos quase os únicos a estar aqui sempre abertos”, frisa à VTM, adiantando que à sua volta vê “tudo isto a definhar cada vez mais”. “Não se deve destruir o património, com a retirada de pedra antiga para colocar outra igual àquela que há em todo o lado. As pessoas querem passar nas ruas e sentir emoções, por isso não se deve destruir o que já existe, para fazer passeios mais largos, que não têm qualquer história para contar. Ao destruirmos tudo isso, é um erro enorme e estamos a colocar em causa o futuro de uma próxima geração, que aqui queria investir”.

 António Alves lamenta também que se aposte “apenas em hipermercados, num centro comercial, em sítios de ‘fast-food’ ou em corridas de automóveis”. “Não compreendo que não haja uma placa na cidade a indicar onde fica o centro histórico, quando há tantas a indicar hipermercados”.

 Ao seu redor, na rua principal de comércio tradicional, “estão cerca de duas dezenas de lojas encerradas, inactivas, vazias ou decadentes, num cenário que não é recente, pois acontece há cerca de nove anos, quando abrimos”, lamenta o lojista, frisando que são tomadas medidas “sem pensar, nem ouvir ninguém”. “Este conjunto de obras parece que é para melhorar, mas temos muitas dúvidas que vá melhorar alguma coisa, pois veio na pior altura, em que acabamos por ficar sem clientes”.

 O mês de agosto é sempre bom, com a vinda dos emigrantes, mas este ano não vieram tantos como era habitual devido à Covid-19. “Ajudou-nos a respirar, assim como a realização da Feira do Livro do Porto, que correu muito bem. Agora baixou porque estamos também a lidar com uma situação desconhecida”, em que se agrava o medo das pessoas de saírem de casa, o que “não é bom para o nosso negócio, pois dependemos da vinda das pessoas”. Por isso, era “importante dinamizar a zona histórica com eventos culturais que tragam pessoas para a rua”, lembra António Alves, exemplificando com a cidade de Allariz, em Espanha, que “promove circuitos” em volta de toda a cidade. “Todos precisamos uns dos outros e o comércio pode dar um contributo a Vila Real”.»

 “Comerciantes não sabem até quando vão resistir no meio da incerteza e abandono” por Márcia Fernandes, “A Voz de Trás-os-Montes” n.º 3648, 22 de outubro de 2020

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